Mais liberdade, menos política
Mais liberdade, menos política
A maioria das pessoas aprende desde cedo a viver sob valores como o respeito à liberdade, à paz e à propriedade alheia. São educadas desde a primeira infância a seguirem os pilares da ética liberal.
Desde a mais tenra idade aprendemos que “é feio” bater em nossos coleguinhas, pegar aquilo que não nos pertence, a dizer “por favor”, “me desculpe”, etc. E a maioria das pessoas leva para a vida adulta tais padrões de conduta. Não deixamos de roubar ou matar só porque é proibido e temos medo da prisão, mas porque está claro que é errado fazer isso.
A “regra de ouro”, que diz que não devemos fazer aos outros, aquilo que não desejamos a nós mesmos é algo tão presente em nossas vidas e em nossas relações interpessoais que às vezes nem percebemos. Uma pessoa pode não saber o que quer em todas as circunstâncias de sua vida, mas não aceitaria que um completo estranho viesse e arbitrariamente começasse a decidir em seu lugar que roupa usar, que cerveja beber, que tipo de estabelecimento comercial frequentar ou com quem se relacionar.
Em geral aceitamos que nossos pais influenciem tais escolhas até certa idade, mas mesmo nestes casos, aceitamos essa perda de autonomia muito a contragosto. Na esfera política, a mesma lógica não se aplica. Cidadãos zelosos das suas liberdades e preferências individuais agem como dóceis ovelhinhas, abdicando da liberdade em favor do paternalismo estatal, cada vez mais sufocante e claustrofóbico. Poucos se dão conta da incoerência entre a aspiração por liberdade, comum aos indivíduos, e a disposição em dar mais poder a uma entidade abstrata chamada “Estado”, composta por um grupo de pessoas que não nos conhecem, não sabem das nossas preferências e sequer se importam com a nossa existência.
Não se trata de demonizar políticos e agentes públicos. É preciso compreender que eles são apenas seres humanos, limitados e dotados de informações imperfeitas, buscando maximizar seus ganhos de acordo com os incentivos que lhes são dados. Como todos nós. A diferença é que, na busca por seu benefício próprio no mercado, as pessoas são levadas “como que por uma mão invisível” a buscarem o bem comum (atendimento das necessidades dos consumidores); enquanto na política as regras são outras, já que o benefício próprio (eleição ou reeleição) não passa pelo bem comum, mas sim pela capacidade em tirar de alguns (maioria da população) para distribuir a outros (pequenos grupos de pressão bem articulados).
A despeito da necessidade (amplamente discutível) da provisão de certos bens públicos pelo Estado, no Brasil a abrangência do governo sobre a sociedade extrapolou o limite do razoável. E devido ao conjunto de incentivos no sistema político, nossas escolhas eleitorais acabam sendo reduzidas a aventureiros carismáticos, imbecis (supostamente) bem-intencionados e notórios pilantras. Como mudar esse cenário? Não consigo vislumbrar outra maneira além da mudança de atitude para com o Estado.
Avanços graduais em direção a incrementos de liberdade são bem vindos. Mas, como ensinou Frédéric Bastiat, enquanto a maior parte da população continuar vendo o Estado como um meio de viver à custa dos demais (ignorando que é ele próprio quem vive à custa de todo mundo) teremos poucas chances de uma mudança substancial. Essa mudança passa por uma compreensão mais clara da lógica do mercado e da política.
Quem quer que nutra esperanças sobre a possibilidade do surgimento de uma figura messiânica dotada da capacidade de mudar “tudo isso que está aí”, se frustrará. É fundamental que tenhamos pessoas capazes, empreendedoras e corajosas para enfrentarem a luta política. Mas antes disso é fundamental que se modifique o clima de ideias predominante em nossa sociedade. Afinal, “somente ideias podem suplantar ideias” (Ludwig von Mises).
*Fábio Ostermann é Cientista Político (PUC/RS) e Diretor de Relações Institucionais do Instituto Liberal.