Medalhas e Migalhas
Medalhas e Migalhas
No torneio global da economia, o Brasil está distante do pódio, pois é baixíssima a sua capacidade de competir.
A Olimpíada do Rio de Janeiro, considerando as cerimônias de abertura e encerramento, a modernidade das instalações e a organização, encantou e surpreendeu o mundo.
O balanço foi positivo, mas o grande evento vendeu a imagem de um país que não existe. Para clarear essa questão, é oportuno entender por que ganhamos muito menos medalhas do que outros países. As equipes olímpicas de nações como os Estados Unidos, Grã Bretanha, Alemanha, China e Rússia (os dois últimos do BRIC, como nós) contam com apoio permanente, base sólida de treinamento e formação nas universidades.
A maioria de nossos atletas, inclusive alguns medalhistas, têm imensa dificuldade para treinar, manter-se e participar dos jogos, sobressaindo-se graças ao seu talento e muito esforço pessoal. Assim também ocorre com as empresas brasileiras no jogo global da economia.
Suas concorrentes externas contam com o respaldo de políticas industriais bem estruturadas, pagam muito menos impostos, obtêm financiamentos e crédito com facilidade e juros baixos, têm mais acesso à tecnologia desenvolvida nas universidades e amplo apoio em programas de exportação.
Os empresários brasileiros não têm apoio e lutam contra numerosos obstáculos. Como poucos, honram o ideal olímpico de que “o importante é competir”.
Aqui, jogamos sozinhos, enfrentando as adversidades de sistemas tributário e trabalhista arcaicos e onerosos, os juros reais mais altos do mundo, burocracia, dificuldade de acesso ao crédito e insegurança jurídica, além dos prejuízos — materiais e morais — provocados pela corrupção, que nos envergonha no mundo e desencoraja os investimentos produtivos externos.
Infelizmente, o universo político também conspira contra os setores produtivos, pois coloca interesses pessoais e de grupos acima das causas maiores do País. Vejam o que ocorreu até mesmo no processo de impeachment de Dilma Rousseff.
Michel Temer enfrentou, na interinidade, imensa pressão de parlamentares, num leilão fisiológico dos votos relativos ao afastamento definitivo da presidente. Isso praticamente imobilizou o novo governo em seu início, adiando medidas prementes para a retomada do crescimento econômico.
Nesse ambiente corrosivo para quem produz e trabalha, as empresas são exemplos de superação, imensa capacidade de gestão, conhecimento do negócio e muito trabalho, assim como nossos atletas. Honramos, como poucos, o ideal olímpico de que “o importante é competir” e vez ou outra ganhamos uma medalha.
No entanto, se os grandes problemas estruturais brasileiros não forem solucionados, continuaremos colecionando migalhas na competitiva economia global.
* Sidney Anversa Victor é presidente da Abigraf Regional São Paulo (Associação Brasileira da Indústria Gráfica-SP).