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“Porque todos somos indivíduos”

“Porque todos somos indivíduos”

01/12/2014 Roberto Lacerda Barricelli

Deparei-me com um dos textos mais vitimistas e absurdos que já tive o desprazer de ler, com o título: “Porque eu sou negro”.

Um texto de alguém que não consegue enxergar a própria culpa pelo que critica. O texto, que você pode ler clicando aqui, conta a história de um paciente do autor, que é médico pediatra e neurologista infantil. O garoto em questão, cujo nome não foi revelado pelo autor, segundo este, tem oito anos e é muito inteligente e quer ser médico, mas decidiu optar por ser caminhoneiro. Ao ser questionado pelo autor a resposta é: “Porque sou negro”. Então o autor afirma que, por estar há 4 gerações “apenas” distante da escravatura, segundo a árvore genealógica da família, feita pela mãe, o garoto é um oprimido que deve ser reparado por teoricamente sofrer com consequências causadas à sua família pela escravidão.

O autor demonstra claramente ter essa opinião ao defender cotas, programas de distribuição de renda e atacar o mérito individual. O autor, cujo nome é João Paulo Porto, não percebe a própria incoerência e falta de lógica de seu discurso e ainda afirma: “Imagine agora, o quanto você é absurdamente privilegiado em relação a eles (família do garoto)”. Continuo procurando por tais privilégios. O autor demonstra total incoerência, primeiro por argumentar o quão absurdo é uma criança de oito anos achar que não pode alcançar seus sonhos por causa de sua cor de pele (o que realmente acho um absurdo) e espanto pela frase: “porque sou negro”.

Só que não se dá conta de seu próprio discurso fortificador dessa mentalidade da criança. Onde ele ouviu que não pode ser médico por ser negro? Com certeza não foi dos liberais, libertários e nem conservadores, pois estes defendem o mérito individual e que qualquer indivíduo pode ascender socialmente e financeiramente através de seu esforço pessoal e perseguir seus sonhos. É em cima deste pensamento que foram construídos os países mais capitalistas, e não por acaso, mais desenvolvidos do mundo, como os Estados Unidos, a Suíça e a própria Suécia, que hoje busca retomar o caminho do liberalismo econômico e diminuição de seu welfare state aos poucos, assim como o faz Dinamarca e Noruega, não à toa estão muito bem colocados no Index of Economic Freedom (índice de Liberdade Econômica) da Heritage Foundation.

Também é por causa da negação desse pensamento que o próprio Estados Unidos da América vê aumentar seu estado insistentemente, com um welfare state que se não for contido pode, em longo prazo, desencadear um Leviatã. Se não fosse por ainda haver boa autonomia dos estados da federação, acredito que a situação dos Estados Unidos não seria hoje das melhores e não estaria ainda com bom índice de liberdade econômica e civil. Por que eu disse tudo isto? Para demonstrar que esse menino de apenas oito anos com certeza teve essa ideia colocada em sua mente por uma coisa chamada: vitimismo.

O vitimismo pode ter partido de pessoas do local onde mora, de sua família, amigos de escola ou de conhecidos, de programas de TV, rádio, etc. Mas uma coisa é certa, este é um pensamento disseminado massivamente pela mesma esquerda que defende as cotas, a distribuição de renda estatal e critica o mérito individual. Aqui aponto o primeiro erro de coerência do autor: condena terceiros pelo fato de seu paciente ter impregnado em si o pensamento vitimista, sem perceber, ou ignorando que esse pensamento é nele impregnado pelas pessoas que defendem as mesmas ideia que ele (autor). O discurso do autor é justamente o discursos daqueles que infectam as mentes desses jovens e até de pessoas mais velhas com o vírus do vitimismo.

É como se autor dissesse: “Este garoto carrega o estigma da escravidão de seus tataravós e por isso acredita que não pode ser médico apenas por ser negro, um verdadeiro absurdo, portanto, as cotas são justas, pois elas corrigem esse erro histórico e permitem que ele alcance o sonho de ser médico”. Então eu perguntaria ao autor: “Mas por que ele precisa das cotas para entrar em uma universidade?”. Com certeza ouviria um “Porque é negro”. Eia a contradição exposta, meus caros. Quem defende o sistema de cotas automaticamente está dizendo que os negros são incapazes de conquistar as vagas nas universidades sem auxílio externo. Ou seja, são incapazes, porque são negros.

E ainda dizem que quem é contra cotas que dissemina esse racismo claro no discurso vitimista. Alegarão que: “Não, não é por ser negro apenas, mas porque ele é um oprimido, pobre e que não terá condições de estudar adequadamente, não terá acesso a uma boa educação, nem a oportunidades, etc”. Por que ele não terá acesso a nada disso, será pobre e sem condições? “Oras, porque ele é negro”. Será novamente a resposta. Isto é um ciclo, onde justificam as más condições por ser negro e tentam retificar dizendo que a culpa é das más condições, contudo, ao serem questionado, terão que admitir de novo que pensam assim por se tratar de negros, e assim eternamente.

Então porque a cota não é para pobres? (E não me venham com financiamentos como o ProUni, isto não é cota e tratarei em outro artigo). Porque para quem defende tal discurso se é pobre, então, é negro, se não tem estudo, deve ser negro, se não tem acesso a serviços X, Ye Z, deve ser negro, e se for negro, deve estar encaixado em uma das anteriores. Para quem adota tal discurso não há brancos em situação de miséria, pobreza, etc. Ignoram as questões locais. Há favelas com maior população negra, há cidades com mais incidência de brancos pobres, e assim por diante, mas a pobreza, a falta de acesso à educação de qualidade e a serviços e produtos básicos, a falta de oportunidades, não estão ligados à questão racial, como o autor acaba defendendo, mas ao estado que sufoca a iniciativa privada legítima em benefícios de quem está no poder e de seus amigos, e aos indivíduos que aceitam e até adota discursos vitimistas e outros que legitimam essa ação do estado.

A segunda contradição esta no mesmo ponto: ser negro é ser desprivilegiado. Quando o autor diz: “Imagine agora, o quanto você é absurdamente privilegiado em relação a eles”. Bem, ele colocou este texto na internet, será que ele entende que quem está lendo é privilegiados porque tem internet, ou se tiver colocado em jornais e revistas, porque tem acesso a isso? Ora, como ele pode afirmar que o leitor é um privilegiado e não um garoto como o que ele descreve ou alguém em igual situação? Ele pressupões que seus leitores não são pobres, negros, desprivilegiados e com acesso porco a serviços e produtos de qualidade? Se ele faz tal pressuposição, e ao que tudo indica, ele a faz, então, ele está assumindo a seguinte posição: “além de todo negro ser necessariamente pobre e lascado, ele não tem acesso a este conteúdo”.

Ser negro na mente deste autor parece que já virou sinônimo de necessariamente sofrer todos os males impossíveis e imagináveis, agora, não há pessoas “desprivilegiadas” (pobres) que conseguem acesso a jornais, revistas e internet? Ou o autor está dizendo que quem tem acesso não é miserável, logo, é um privilegiado frente aos miseráveis? Se for assim, no mínimo está dizendo que a família do garoto é miserável e que a causa dessa miséria é: porque são negros. É culpa da escravidão, que ocorrer há mais de 100 anos e pela qual todos temos que pagar, apesar de não termos escravizado ninguém, nem contribuído para tal. Inclusive, como fica então a escravidão de brancos na própria Europa? Deveria algum grego ser privilegiados em detrimento de outros? Romanos? Judeus? Ora, por que não então?

Simples, porque para os vitimistas, só é válido se for da cor de pele ou do gênero que eles escolherem, pois isto permite o fomento a uma lutas de classes até então inexistente. E a escravidão de negros por negros, na própria África? Ela é histórica e eles já a praticavam quando o homem branco lá chegou; tanto é fato que os próprios negros vendiam outros negros para servirem de escravos em terras tupiniquins, norte americanas, etc. Deveriam alguns negros com descendência de determinadas tribos na África ter mais privilégios que outros de outras tribos, para “reparar um dano histórico”? A terceira contradição do autor está em defender a distribuição de renda como forma de “reparar” os “danos históricos” causados pela escravidão.

Ele não usa estas palavras em seu texto, mas deixa isso bem claro quando desafia aqueles que são contra esta prática a dizerem que “programas de distribuição de renda são coisa de vagabundo”. Escravidão é a pior forma de destruição do indivíduo e o maior afronte possível aos direitos naturais à vida, liberdade e propriedade, mas não podemos delegar a ela as causas pela miséria de quase 100 anos depois, nem imputar aos indivíduos de hoje os erros dos indivíduos do século XIX. O que este sujeito defende é que uma parte da sociedade pague pelos privilégios de outra parte, beneficiando a segunda em detrimento da primeira, acusando os primeiros de “opressores” e filhos de uma elite branca racista que explorou os negros oprimidos.

Que defende tal ideia absurda não percebe que no fim está fazendo todos viverem à custa de todos, onerando e prejudicando mais sempre àqueles que estiverem mais na base da pirâmide e que teoricamente são justamente os que dizem defender. A distribuição de renda é antes uma distribuição de poder do indivíduo para o estado, não de riqueza de um para outro. Para que haja distribuição de riqueza é preciso primeiro gerar tal riqueza. Querem fatiar o bolo e distribuir os pedaços antes de levar à forma com a mistura ao forno, e quando esperam crescer, querem repartir através da ferramenta mais inadequada que é o próprio estado.

A baixa produção de riqueza no Brasil aliada ao assistencialismo populista estatal que desincentiva o trabalho é a causa da miséria e das dificuldades de alguns indivíduos em alcançarem seus sonhos, não a cor da pele, e ao dizer o contrário, que a cor da pele deste indivíduo de oito anos é responsável por sua miséria, o autor usa um discurso racista e falacioso. A quarta e última contradição do autor está justamente na questão do ataque ao mérito. Se a baixa produção de riqueza e o desincentivo estatal ao emprego dificultam a vários indivíduos, independente de gênero, cor ou etnia, que tenham acesso a diversos bens de consumo, até mesmo os mais básicos, e os jogo na miséria, então, como pode o autor atacar o mérito individual, sendo este um dos principais responsáveis pelo incentivo ao trabalho, através da recompensa obtida pelo esforço individual tender a ser maior quanto maior for tal esforço, enquanto indivíduo, e melhor for a qualidade de seu trabalho, enquanto profissional (alguns dirão que o escritor Best-seller milionário se esforça menos que o pedreiro, mas ignoram que o primeiro faz um esforço intelectual maior que o segundo, que por sua vez faz um esforço físico maior que o primeiro, tendo ambos às recompensas pelo seus trabalho de acordo com a qualidade deste.

Em alguns casos, haverá quem consiga os melhores resultados, com aparentemente menos esforço, contudo, isso só demonstra que enquanto indivíduo este recebe a recompensa pelo esforço que fez e como profissional pela qualidade de seu trabalho, cujo resultado é mérito individual dele). Ficando claro que o mérito individual é importantíssimo para a maior e melhor produção de riquezas de uma sociedade e que quanto maior esta produção, menor será o índice de pobreza, desde que tal riqueza seja produto do mercado e não do estado, pois este nada produz, vivendo da espoliação dos que produzem (critico aqui o uso do PIB como medidor de produção de riqueza, sendo que o cálculo deste está impregnado pela espoliação estatal, mais que pela produção de riqueza real), como então pode o autor, João Paulo Porto, ser contra o mérito e deixar entendido que este é um dos culpados, ou no mínimo insuficiente, pelas situação dos miseráveis, e como pode dizer que é este um dos culpados pela situação de seu paciente?

Caramba, além do negro necessariamente ser pobre e não ter acesso ao mínimo para sua subsistência, nem a oportunidades, sendo incapaz de alcançar seus sonhos sem um estado babá por trás, ele (negro) também é incapaz de vencer por mérito? A resposta da mente dos defensores de tal ideia é: sim, pois (por ser negro) ele é pobre, semianalfabeto, privado de oportunidades e incapaz de gerar oportunidades para si mesmo. Um exemplo pessoal. Minha mãe veio da Bahia para São Paulo nos anos 70, com uma roupa e nada mais, aos 12 anos de idade, pois minha avó morrera. Minha mãe, uma criança branca, nordestina e miserável, através de muito esforço que superasse outras dificuldade e limitações, conseguiu construir um patrimônio, constituir uma família e transformar sua filha em uma publicitária e este que vos fala em um jornalista, ou seja, proporcionar o acesso a ensino superior de qualidade que permite a minha irmã e a mim, exercermos da melhor maneira possível nossas profissões.

Claro que há melhores, ou mais conhecidos, e que tivemos a base familiar e financeira melhor que dos outros, mas quantos não tem muito melhor e viram indivíduos da pior espécie, ou acabam na miséria? Não se pode negar nosso mérito individual também. Quem fez isso por nós foi uma nordestina, branca, esforçada e que tinha tudo (com exceção d ser negra, segundo pregam os vitimistas como João Paulo Porto) para se dar mal na vida. Não foi o estado, mas um indivíduo com um sonho, com objetivos e que deu tudo de si para conquistá-los. O estado só fez e ainda faz que as conquistas sejam mais difíceis e demoradas, levando boa parte da renda obtida embora. Mas após seu suporte, tivemos que nos virar e seguir o exemplo dela.

Quem pretende fazer esse papel de suporte e formação hoje é o estado, que tenta usurpar isso dos indivíduos, e por isto promove mais miséria e destruição da base familiar, impelindo indivíduos à vitimização, acomodação e propagação do ódio ao bem sucedido, ao invés de buscar ser bem sucedido também. O estado dissemina o ódio e fomenta a luta de classe, dividindo a sociedade para conquistá-la e tornando cada vez mais frequentes casos como do paciente de oito anos que acredita em tal discurso e se conforma em ser caminhoneiro ao invés de médico: “porque sou negro”.

O que o autor consegue deixar claro é que não possui a menor coerência, pois reclama da situação de seu paciente e coloca a culpa justamente naquilo que possibilita que o mesmo sai de tal situação, enquanto defende as ideias que são as verdadeiras culpadas pelas dificuldades, pelo vitimismo e pela ideia impregnada na cabeça desse menino, de que não é capaz de vencer: “porque sou negro”. Aguardarei o autor, ou qualquer outro que compartilhe de sua visão deturpada dos fatos, dizer que escrevo este texto com estes argumentos, porque sou branco e privilegiado, o primeiro por puro racismo e o segundo por pura desonestidade, uma vez que provavelmente não sabe nada, ou quase nada sobre mim.

A mensagem que deixo para este garoto de oito anos é a seguinte: você é capaz de alcançar seus sonhos, assim como todos somos capazes, e sabe o porquê que todos somos capazes? Porque nossas escolhas, nosso esforço, nosso mérito individual e nossa vontade aplicada com foco e determinação são capazes de tornar sonhos em realidade. E sabe por que temos toda essa capacidade? Porque todos somos indivíduos!

*Roberto Lacerda Barricelli é Jornalista, Assessor de Imprensa do Instituto Liberal e Colunista do Clube Farroupilha, do Portal Liberdade em Foco, do Clube Miss Rand e do Epoch Times.



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