Ruídos ameaçam as telecomunicações do país
Ruídos ameaçam as telecomunicações do país
As conexões que transmitem os sinais pela internet e por outros meios de telecomunicação aos brasileiros precisam estar muito bem ajustadas para que todos os consumidores tenham acesso a serviços de qualidade.
Por problemas crônicos de infraestrutura, tais serviços jamais atingiram níveis de excelência no Brasil.
Porém, a situação fica ainda mais difícil quando os próprios atores responsáveis pela estrutura das telecomunicações começam a se desconectar.
Por interferência excessiva de autoridades ou por falta de colaboração entre elas, a qualidade cai e o resultado do serviço acaba sendo tirado indevidamente do bolso dos consumidores e da iniciativa privada envolvida no processo.
A realidade emerge: vende-se uma situação de controle que não se entrega. As prestadoras de serviços – espremidas entre agentes reguladores, operadoras e consumidores – são as que mais sofrem nesse processo de involução.
O SINSTAL - Sindicato Nacional das Empresas Prestadoras de Serviços em Telecomunicações -, entidade com base nacional, agrega aproximadamente sete mil empresas, contratadas que trabalham fortemente para operadoras e empresas públicas e privadas em geral.
São responsáveis pela instalação de telefones, sistemas de internet e de TV por assinatura na casa de usuários, pela operação de call centers e pela realização de reparos técnicos em equipamentos, dentre outras atividades.
Nossas entidades empregam atualmente mais de um milhão de pessoas em todo o País. Por congregar tamanha estrutura, dispomos de absoluta legitimidade e amplo conhecimento dos problemas enfrentados pelo setor.
Sabemos que os serviços especializados que prestamos constituem um processo irreversível, no Brasil e no mundo. Adiantemos um pouco mais sobre nosso setor. As empresas de outsourcing, segundo dados do Dieese, empregam hoje cerca de doze milhões de trabalhadores, 27% da força de trabalho ativa do País (estudo veiculado pelo Jornal Folha de S. Paulo, em 17/05/2015).
Além disso, as empresas de terceirização, especialmente no setor de teleatendimento, são responsáveis pelo primeiro emprego de muitos jovens em pequenas e médias empresas genuinamente brasileiras. Chama atenção a forma como a terceirização é conduzida por algumas contratantes.
Para cortar custos e gerar lucro para seus acionistas, essas empresas muitas vezes impõem condições inviáveis às terceirizadas, mediante remuneração incondizente com um serviço de boa qualidade, exigindo preços inexequíveis.
O resultado é previsível: suas contratadas acabam prestando um serviço sofrível, não remunerando adequadamente seus trabalhadores, atrasando fornecedores e aumentando passivos. Soma-se a este quadro o aumento de demissões de trabalhadores.
As próprias empresas informam que a redução de seus quadros já atingiu 30%, com a dispensa de funcionários que levaram meses de intenso treinamento ou anos de árduo trabalho no setor. As grandes vantagens decorrentes da terceirização são anuladas com a prática de preços irreais e quebra das empresas.
A conduta da Anatel diante do assunto só piora a situação. Como responsável pela regulamentação dessa questão, a agência faz vista grossa ao que se passa entre contratantes e contratadas, sem examinar a planilha de preços, qualidade e pontualidade de pagamento.
Ora, não se pode admitir que todo um segmento econômico seja virtualmente eliminado por descompromisso com a qualidade. Até o fim deste ano, a Anatel deverá fixar os termos relativos à revisão dos contratos de concessão das empresas de telefonia fixa, bem como o novo Plano Geral de Metas para a Universalização.
Esperamos mais atenção aos pleitos do setor. Fato é que as excessivas medidas e indicadores de controle impostas pela Anatel, fora de contexto e parcialmente inócuas, são preocupantes. Novas medidas foram incorporadas nos últimos anos e essas metas desnecessárias são repassadas às terceirizadas, gerando custos adicionais que impactam na taxa de retorno das operadoras.
Necessitamos fortemente de investimentos para o setor. Infelizmente, os fundos setoriais de telecomunicações criados com este propósito específico servem unicamente para abater problemas da dívida do Tesouro. Temos arrecadados aproximadamente 63 bilhões do Fistel, 19 bilhões do Fust e 5 bilhões do FUNTTEL. E muito pouco foi aplicado no setor.
Esta situação contribui ainda mais para aumento do desemprego, redução da capacidade de investimento das teles e aumento do preço cobrado pelos serviços para o consumidor. Não por acaso, o setor de serviços especializados terceirizados de telecomunicações vive a maior crise de toda a sua existência.
Não se pede que as autoridades interfiram em relações contratuais privadas. Mas o Ministério das Comunicações deveria voltar sua atenção para o relevante segmento das prestadoras em telecomunicações.
Sugerimos, por exemplo, análise e acompanhamento de questões como:
- quantidade, qualificação e remuneração de mão obra necessária para execução dos serviços terceirizados, que servem de base para os contratos firmados e a serem firmados entre contratantes e prestadoras de serviços;
- observância das convenções e normas coletivas vigentes;
- cumprimento dos prazos de pagamento estipulados entre as partes;
- rotatividade de mão de obra no setor;
- rotatividade e inadimplência de prestadoras de serviços no setor;
- cumprimento dos contratos firmados entre Anatel e operadoras, assim como entre operadoras e prestadoras de serviços, com implementação de metas factíveis e indicadores de controle, através de reuniões bimensais entre Ministério das Comunicações, Anatel, sindicatos patronais e sindicatos de trabalhadores.
Um setor com tamanha quantidade de empregos, que envolve milhares de empresas e participa da prestação de serviços públicos de alta relevância deve ser objeto de maiores cuidados. E de uma política pública mais condizente com seu porte.
* Vivien Mello Suruagy é presidente do SINSTAL - Sindicato Nacional das Empresas Prestadoras de Serviços em Telecomunicações.