Fenômenos distantes podem afetar incêndios no Brasil
Fenômenos distantes podem afetar incêndios no Brasil
Pesquisador aborda onda de incêndios na Amazônia e Pantanal e seus motivadores em diferentes escalas.
Você sabe o que é teleacomplamento e como isso pode ajudar a explicar a relação de eventos em locais e épocas diferentes com os incêndios no Brasil? O termo designa repercussões ambientais e socioeconômicas que ocorrem em consequência de sistemas naturais ou influenciados pelo homem que estão operando em locais distantes entre si.
"É uma junção teórica que empresta ideias de globalização da economia e de processos físicos naturais, como o clima em escala global", detalha o biólogo Alexander Vicente Christianini, professor do Departamento de Ciências Ambientais (DCA-So) do Campus Sorocaba da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
A partir do conceito de teleacomplamento, o pesquisador explica, por exemplo, como o comércio entre Brasil e China pode estar relacionado a incêndios em áreas naturais. "Uma demanda aumentada de carne e grãos por parte da China, por exemplo, favorece a conversão de áreas utilizadas originalmente para outros cultivos ou até mesmo a conversão de áreas de floresta para pastagens na Amazônia e a intensificação da pecuária no Pantanal. Parte dessas motivações está por trás da grande onda de incêndios que temos presenciado este ano nestas duas regiões do Brasil", alerta o docente da UFSCar.
Mas, os incêndios que transformam áreas naturais em pastagens podem prejudicar a agropecuária. Segundo o professor, há sinais de que a perda de floresta na Amazônia pode comprometer a chuva no Centro-Sul do Brasil, que responde por boa parte do agronegócio de exportação e da economia do País. "Todas essas mudanças geram ao mesmo tempo pressões conflitantes na sociedade, seja pela intensificação da exploração agropecuária de áreas naturais, seja pela conservação ou exploração mais racional dessas áreas", diz ele.
O assunto foi tema do texto "Arde el Brasil de Bolsonaro: contexto global de un desastre ecológico", escrito em parceria com o professor Daniel García, da Universidad de Oviedo, na Espanha, e publicado no Jornal TheConversation (de livre acesso), que pode ser acessado na íntegra em https://bit.ly/2IQYaSr. A publicação faz parte das atividades de Christianini em discutir conflitos entre conservação e desenvolvimento econômico, e conta com colaborações de estudiosos que pesquisam o impacto do fogo na vegetação e fauna do Cerrado. O docente também participa de um grupo de trabalho em políticas públicas da Associação Brasileira de Ciência Ecológica e Conservação (Abeco).
Fonte: UFSCar