Portal O Debate
Grupo WhatsApp

O monitoramento no trabalho

O monitoramento no trabalho

17/07/2019 Maria Inês Vasconcelos

Não tem o que negar que, os avanços tecnológicos trouxeram benefícios para o mundo do trabalho.

Mas ao mesmo tempo, um cenário de alienação se faz presente. Isto porque a tecnologia criou possibilidades inimagináveis para o monitoramento e o controle do empregado, além do que o indivíduo pode suportar.

Nesse cenário, nos deparamos com distorções e desvirtuamentos da função empresarial frente aos empregados. Com a justificativa da otimização de resultados e aumento do lucro, as empresas praticam abusos constantes, ultrapassando as esferas constitucionalmente protegidas da vida privada, contrariando a honra e dignidade do trabalhador. Aquilo que antes se chamava de “follow-up up”, hoje é o comércio da loucura.

Para ilustrar a extensão desse desvirtuamento, observamos a situação de um bancário, que relata ao menos 100 ligações diárias recebidas de seus superiores durante a jornada de trabalho, para cobrar e incentivar o batimento das metas. A regra é atender, mesmo que esteja executando outra atividade.

Quando as chamadas não são atendidas, o gestor da empresa dispara uma mensagem por WhatsApp, referente às tentativas de contato do empregador, mantendo uma pressão contínua e progressiva.

Assim, quando as chamadas não são atendidas e respondidas, um emoji é encaminhado como aviso de acordo com sua cor. O amarelo corresponde a primeira tentativa, seguido pelo vermelho e pelo preto.

O uso dos emojis pretos evidenciam uma gestão deformada e anacrônica, que utilizam o terror e o medo para controlar seus funcionários. Essa estratégia, no entanto, também tem um custo humano e é psiquiatrizante.

Em outros casos, os empregadores já informam quanto a obrigatoriedade de manter os aparelhos móveis ligados até duas horas depois do encerramento da jornada, para que a comunicação e oportunidades não sejam perdidas.

Desta forma, se o vendedor estiver dentro de um determinado local, ao qual o sistema de rastreamento e localização indiquem potenciais clientes para a empresa, o funcionário poderá ser compelido a contatá-lo. Essa dinâmica alienante impõe ao indivíduo estar completamente em alerta e impedido de se desconectar do trabalho.

Os monitoramentos empresariais chegam a incluir o uso da internet, tablet, telefones corporativos, câmeras e até questionáveis gravações das conversas telefônicas.

Hoje em dia, a exploração cibernética é a nova chibata na linha de montagem, já que tais abusos estão cristalizados na neurose institucional de algumas empresas.

Trabalhar é uma dádiva, mas a liberdade e a privacidade são essenciais para que possamos viver com sentido e equilibradamente.

Em razão disso, é evidente que as empresas observem os limites constitucionais, que busca a proteção da privacidade, honra e dignidade do funcionário, e possibilita o ajuizamento de indenizações trabalhistas e, muitas vezes, sanções penais.

Dito isso, poderíamos apontar fatores etiológicos e antropológicos para recriminar a cultura de exploração do homem pelo homem, mas seria como chover no molhado.

Isto porque o alienismo existe e reproduz o pensamento da sociedade ao seu redor. No caso, a ideação de que os trabalhadores são os responsáveis pelo declínio econômico do país é o pensamento dominante.

Como dizia Freud, faz parte da natureza humana a ignorância de enxergar certas realidades, pois a indolência e a covardia fazem parte do homem.

Um dia, espero que seja possível olhar para esse tema de modo menos “míope”, com a certeza de que estamos produzindo uma legião de psquiatrizados.

* Maria Inês Vasconcelos é advogada trabalhista, palestrante, pesquisadora e escritora.

Fonte: Naves Coelho Comunicação



O embate Twitter Files Brasil: que legado queremos deixar?

Elon Musk está usando sua plataforma X (ex-Twitter) para um duelo digital com o presidente do STF, Alexandre de Moraes.

Autor: Patrícia Peck


Justiça e inclusão: as leis para pessoas com TEA

Por muito tempo, os comportamentos típicos de crianças que tinham Transtorno do Espectro Autista (TEA) foram tratados como “frescura”, “pirraça” ou “falta de surra”.

Autor: Matheus Bessa e Priscila Perdigão


Você conhece a origem dos seus direitos?

Advogado e professor Marco Túlio Elias Alves resgata a história do Direito no Brasil e no mundo em livro que democratiza os saberes jurídicos.

Autor: Divulgação


Os planos de saúde e os obstáculos ao bem-estar dos pacientes

No contexto do direito à saúde no Brasil, os planos de saúde privados são regulados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que estabelece normas e diretrizes para garantir a cobertura assistencial aos consumidores.

Autor: Natália Soriani


R$ 200 mil não apaga a dor, mas paga a conta

Um caso de erro médico do interior de São Paulo chamou atenção de todo Brasil por conta de dois fatores.

Autor: Thayan Fernando Ferreira


Precisamos mesmo de tantas leis?

O Direito surgiu como uma forma de organizar melhor as sociedades, uma vez que já havia algumas tradições reproduzidas a partir de exemplos ou de determinações orais que alguns grupos, especialmente os familiares, seguiam.

Autor: Marco Túlio Elias Alves


Proibição do chatbot na campanha eleitoral afeta políticos com menos recursos

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) atualizou normas relacionadas ao uso da inteligência artificial nas campanhas para as eleições municipais de 2024. A alteração é vista como pequena e mal discutida por especialistas da área.

Autor: Divulgação


Digitalização da saúde e os desafios na relação plano e consumidor

A digitalização da saúde, que compreende o uso de recursos tecnológicos e de Tecnologia da Informação (TI) para fins médicos, é um fenômeno que a cada ano se consolida e expande em todo o país.

Autor: Natália Soriani


Os equívocos do caso Robinho

A Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ), no uso de competência constitucional e regimental, analisou e, por maioria de votos, homologou o pedido de execução da sentença penal condenatória proferida pela Justiça Italiana contra o ex-jogador Robinho.

Autor: Marcelo Aith


A nova lei de licitações: o que deve mudar daqui para frente?

O sucesso dessa legislação dependerá do compromisso de todas as partes envolvidas em trabalhar juntas.

Autor: Matheus Teodoro


Exclusão de dependentes maiores de 25 anos de planos de saúde

Os magistrados têm reconhecido a existência de uma expectativa de direito por parte dos consumidores.

Autor: José Santana Junior


TikTok e a multa milionária por captura ilegal de dados biométricos no Brasil

Por utilizar métodos que ferem a Lei Geral de Proteção de Dados e o Marco Civil da Internet, o TikTok, rede social famosa por vídeos de curta duração, foi multado em R$ 23 milhões pela Justiça.

Autor: Renato Falchet Guaracho