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Escola nova ou nova escola

Escola nova ou nova escola

19/01/2021 Ítalo Francisco Curcio

No final do século XIX, surgiu na Europa um movimento no meio educacional intitulado Escola Nova, que teve como um de seus protagonistas o suíço Adolphe Ferrière (1879 - 1960).

Escola nova ou nova escola

Como curiosidade, destaca-se que Ferrière ficou surdo aos 20 anos e, mesmo assim, consta na História da Educação Contemporânea como um dos mais importantes pedagogos do início do século XX, não obstante suas dificuldades de comunicação, numa época em que a hoje denominada Educação Inclusiva era ainda incipiente.

Desde os últimos anos do século XIX, adentrando-se o século XX, o mundo, em particular a Europa, vivenciava os grandes efeitos da Segunda Revolução Industrial, que chegaram a outras partes do planeta, especialmente na América do Norte.

Nesta época, portanto nas primeiras duas décadas do século XX, percebeu-se a necessidade de uma significativa reforma no modo de ensinar, a escola existente não atendia mais aos anseios da sociedade. Por isso, o movimento de Ferrière tomou corpo, pois anunciava um novo modelo de escola, promissor, que ficou conhecido por Escola Nova ou Escola Ativa.

Neste novo modelo, anunciava-se uma proposta de ensino, com nova postura para o aluno, na verdade, dava-se a ele o protagonismo na sala de aula, que até então era todo do professor, além de proporcionar à população em geral a possibilidade plena de acesso. Ressalta-se, em tempo, que nesta proposta o professor não perdeu seu protagonismo, mas passou a compartilhá-lo com o corpo discente.

Este novo modelo, porém, só chegaria ao Brasil na década de 1920, anunciando-se com maior ênfase, apenas nos anos 1930, portanto, 10 anos depois, com a publicação, em 1932, do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. Movimento este feito por um grupo de professores conduzidos por Anísio Teixeira, Armanda Alberto, Cecília Meireles, Fernando de Azevedo e M. B. Lourenço Filho.

Sem coincidência com a realidade atual, foi nesta época que o Brasil passava por uma grande convulsão social, com diversas reivindicações, dentre as quais uma nova Constituição Nacional, depois dos episódios marcantes da Revolução de 1930. Destaca-se que, a partir de meados da década de 2010, portanto, poucos anos antes da pandemia da covid-19, o país também passou por sérios problemas de natureza política e econômica, até hoje não superados.

Neste momento, serve como lembrança, para reflexão, o fato de que nas três primeiras décadas do século XX, a Europa passara pela sangrenta Primeira Guerra Mundial e pela Pandemia da Gripe Espanhola, tendo de sepultar dezenas de milhões de mortos, além de sofrer também os efeitos do fatídico 24 de outubro de 1929, com o crash da Bolsa de Nova Iorque. Ao mesmo tempo, no Brasil, embora com graves problemas também decorrentes da Pandemia, como o grande número de mortos registrados, o país assimilou estes efeitos catastróficos muito menos que a Europa, por algumas razões específicas. Parece que a nação brasileira aprendeu e preocupou-se menos que os europeus, no contexto daquela realidade.

Fato interessante a se destacar, numa comparação da situação brasileira com a europeia é o de que, apesar desta hecatombe, a Escola Europeia experimentava um grande avanço, enquanto que, no Brasil, as reformas apregoadas e tentadas, surtiam pouco progresso, sobretudo em nível nacional. Nesse contexto, não obstante todo o esforço destes protagonistas brasileiros, a proposta da Escola Nova, para uma Nova Escola brasileira, pouco frutificou.

Saltando-se quase 100 anos, o Brasil, mais uma vez é atingido por crises, uma interna, de caráter político e econômico, e outra, proveniente do exterior.

Nesta última, novamente, mesmo sem ter sido seu causador, sofreu e continua a sofrer efeitos tão ruins ou até piores dos verificados nos países de origem, mais ou menos parecido com o registrado nos anos 1920, inclusive com relação à assimilação do problema, com seu menosprezo, por uma parte da população e de alguns governantes.

Contudo, na crise atual, da Pandemia da Covid-19, existe algo de se elogiar, com respeito à Educação: apesar de o país não possuir um Manifesto de Pioneiros, publicado num livro ou nos jornais, felizmente, hoje existe um contingente de milhões professores pioneiros, que tiveram que se reinventar de forma inesperada, sem planejamento, sem nenhum aviso prévio.

Hoje, o Brasil não vive uma Escola Nova, mas uma Nova Escola, ainda sem um modelo definido oficialmente, mas, um modelo que está se preconizando como um novo modelo de ensino: misto, híbrido, enfim, chama-se como se quiser chamar, mas, certamente, um novo modelo.

Lembrando que nos anos 1920 e 30, com todo o planejamento feito pelos Pioneiros da Escola Nova, não se logrou o êxito desejado, o que se pode pensar diante da crise atual, em que a nação foi pega de surpresa? Qual será o resultado da Nova Escola Brasileira, criada em meio a esta situação, com efeitos inimagináveis?

Inicia-se o ano de 2021, o segundo ano da Pandemia da Covid-19 vivenciado pela nação brasileira, com muita esperança - aliás, comum em todo início de ano - mas, este ano de maneira singular, de maneira especial. Inicia-se um novo ano, com muita fé de que tudo acabará bem, apesar das perdas irreparáveis do ano anterior. Inicia-se um novo tempo para a humanidade, em especial para o brasileiro, para a brasileira.

Inicia-se também o novo ano escolar, com a incerteza de qual modelo seguir, para se ter o melhor rendimento possível. Certamente, um modelo ainda não definido, mas um modelo que já vem sendo organizado empiricamente, diante da realidade do ano anterior.

Como será o ano letivo de 2021? Quem serão os protagonistas?

Serão os alunos? Os pais dos alunos? Os professores? Talvez, todos estes, mas, não se pode esquecer que para existir protagonismo é necessário perseverança e abnegação, não só por parte dos atores, mas sobretudo por parte dos gestores da peça e esta peça chama-se Educação Brasileira.

Que o ano de 2021 seja para o Brasil o ano não da Escola Nova, pois esta o tempo já registrou, mas de uma Nova Escola, rumo ao futuro, iniciando-se com o incessante empenho para o cumprimento das metas do atual, e as vezes ignorado, Plano Nacional de Educação, avançando-se com grande vontade, sem precedentes, para se ter, em breve, um Brasil que servirá como bom exemplo de superação para a nação e para o mundo.

Com toda certeza, somos capazes, basta querermos. A Educação é o maior patrimônio social.

* Ítalo Francisco Curcio é coordenador do curso de Pedagogia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, doutor e Pós-doutor em Educação.

Fonte: Instituto Presbiteriano Mackenzie



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