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A revigorante corrupção

A revigorante corrupção

06/11/2014 João César de Melo

Um grande escândalo de corrupção abalou o Japão nesta semana: uma instituição vinculada a Yuko Obuchi, Ministra da Economia, usou ilicitamente recursos para comprar entradas de teatro para seus filiados!

Este caso me lembrou o de uma parlamentar sueca, anos atrás, quando veio a público que ela gastou quase duzentos dólares do cartão corporativo do governo para comprar uma roupa para ela mesma usar num evento oficial. Lembrei-me também do caso de um assessor de Obama que foi acusado pela imprensa de não ter declarado certa quantia (se não me engano, uns 10 mil dólares) no imposto de renda.

Nos três casos, os acusados foram à televisão pedir desculpas a sociedade pelo desvio de conduta. Os três entregaram os cargos, visivelmente envergonhados. No caso americano, o próprio Obama foi à televisão pedir desculpas por ter nomeado alguém de comportamento tão reprovável. Para cada mazela brasileira, há dezenas de exemplos noutros países de como nossa realidade poderia ser diferente. A maioria dos brasileiros que viaja para o exterior procura os países desenvolvidos, especialmente na América do Norte e Europa.

Maravilham-se com a limpeza, segurança, beleza e organização de suas cidades. Durante a Copa do Mundo realizada meses atrás no Brasil, a mídia nacional gastou valiosos minutos mostrando os japoneses recolhendo não apenas seu próprio lixo nos estádios, mas também o dos outros. Um programa de televisão meses antes mostrou que nas escolas públicas japonesas as crianças destinam algumas horas da semana para a limpeza dos banheiros que usam. Quase na mesma época, outro programa mostrou a completa ausência de mordomia dos parlamentares suecos – deputados dividindo kitnets uns com os outros, dormindo em sofás-camas, compartilhando lavanderia e cozinha coletivas; nenhum tendo secretária, motorista ou assessor particular.

Ou seja, não nos falta referência de um “mundo melhor”. As mesmas informações que chegam a mim, chegam a todos. Austeridade, ética e responsabilidade estatal não são utopias. E é sempre bom lembrar que, quanto mais livre economicamente é uma sociedade, menos tolera desvios, desperdícios e privilégios de seus representantes políticos. A verdade: todo crime ou desvio de caráter é manifestado sempre em função da perspectiva de impunidade. O ser humano é o que é – criatura propensa a falhas e à corrupção –, porém, preza sua liberdade e seus bens materiais e financeiros.

Ninguém quer passar um único dia numa cadeia. Ninguém quer perder um centavo do que tem. Em países onde a corrupção de fato é combatida, a propensão ao crime é contida pelo próprio indivíduo que a hospeda, o contrário do que ocorre no Brasil, onde a corrupção é estimulada tanto pelo Estado quanto pela sociedade, com a maioria da população (direta ou indiretamente) institucionalizando o “jeitinho brasileiro” como legítima estratégia de ascensão social e profissional.

A pesquisa apresentada pelo sociólogo Alberto Carlos Almeida em seu livro A Cabeça do Brasileiro, publicado em 2007, deixa bem claro que a maior parte dos brasileiros é conivente com a corrupção porque faria uso dela se tivesse a oportunidade. Almeida comprova em números o que comprovamos todos os dias ao ver casos de corrupção substituindo uns aos outros no noticiário quase no mesmo ritmo da tabela do Campeonato Brasileiro de Futebol. Não são boatos. O que chega aos olhos e ouvidos dos brasileiros são vídeos, extratos bancários, testemunhos, documentos, arquivos digitais, mensagens eletrônicas e delações dos próprios envolvidos.

Uma fração do que preenche os jornais brasileiros numa semana abalaria qualquer país desenvolvido, qualquer sociedade séria. A carreira política de Lula teria desmoronado no dia seguinte ao depoimento de Roberto Jeferson, em 2005. Nunca teríamos ouvido falar de Dilma Rousseff e provavelmente muitos outros casos não teriam acontecido. Mas cá estamos diante da quase certeza de que a divulgação de escândalos de corrupção na véspera de uma eleição presidencial não apenas revigora a militância como conquistava novos eleitores para o partido corruptor.

Lula e o marqueteiro João Santana complementam-se como a encarnação de Gramsci. Sabem usar a propensão do brasileiro à corrupção em favor do PT. Dilma sobe nas pesquisas na medida em que os detalhes da corrupção de seu governo são levados a público. Então vem a mim a lembrança de um passado muito, muito distante... Alguém se lembra das manifestações do “passe livre” que ocorreram lá ano de 2013?

Dezenas de milhões de pessoas nas ruas cobrando mudança. Mudança! Pois é, foi há muito tempo atrás... Num tempo em que os horizontes eram desenhados e borrados com a mesma tinta. Passado que não passa. A dolorida verdade: O brasileiro continua sendo aquele índio na beira da praia, oferecendo aos exploradores suas filhas em troca de espelhos; ou, como escrevi num canto de página do livro de Almeida, “Ao brasileiro, combater a corrupção é tão difícil quanto a um doente proceder uma cirurgia em si mesmo”.

*João Cesar de Melo é Arquiteto, artista plástico, escritor e colunista do Instituto Liberal.



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