Portal O Debate
Grupo WhatsApp

Abuso sexual: um ponto de vista psíquico

Abuso sexual: um ponto de vista psíquico

22/09/2018 Raquel Heep

Denúncias relacionadas a abuso sexual na infância e adolescência têm sido recorrentes na mídia.

Após escândalos envolvendo a Igreja Católica e esportistas de diversas nacionalidades, esse triste e cotidiano fato tornou-se foco de discussão. Infelizmente, apenas a discussão é nova, o fato ocorre diariamente, nas diversas classes socioeconômicas, em contextos muitas vezes domésticos e em números assustadores.

Segundo estimativas de várias ONGs dedicadas à infância, como a UNICEF e Save the Children, uma a cada cinco crianças são vítimas de violência sexual, ou seja, 20% da população sofreu algum tipo de abuso durante a infância, segundo o Conselho da Europa.

Porém, o relatório Olhos que não querem ver (Save the Children), denuncia que somente 15% dos casos de violência sexual contra um menor são denunciados. Tal disparidade nos deve fazer pensar no porquê tantas crianças são abusadas e tão poucas são amparadas.

Estima-se que entre 70% e 85% dessas agressões procedem de um parente ou de alguém próximo ao núcleo familiar. A idade média do primeiro abuso é em torno de 9 a 10 anos. Nessa fase de vida ocorre a organização, diferenciação, sofisticação e ampliação do aparato psíquico. Em outras palavras: a preparação para um adulto saudável psiquicamente.

Um abuso sexual ocorrido nesse momento - e, em geral, por alguém que deveria trazer confiança - causa um desequilíbrio no amadurecimento psicológico. Desde fatores neuroquímicos liberados pelo estresse causado pelo abuso, muitas vezes repetitivo, até aspectos que envolvem a construção do ego, trazendo sentimentos de culpa, vergonha, inferioridade e desconfiança.

Nessa fase da vida, a natureza nos faz equilibrar sentimentos impulsivos com sentimentos mais refinados e elaborados. Os laços de confiança se concretizam, assim como uma identidade e uma personalidade íntegra. Isso aconteceria num mundo perfeito.

Em vítimas de abuso sexual - o que não envolve apenas penetração - a formação psíquica ocorre, muitas vezes, de forma desordenada, trazendo consequências a longo prazo. Em geral, a criança não conta sobre o abuso, pois sentimentos de culpa e medo, ameaças e inferioridade a assombram.

Mas mudanças de comportamento já são visíveis: alterações de sono, apetite, retraimento social, redução do rendimento escolar, irritabilidade, agressividade, tristeza e choro imotivado devem nos fazer prestar atenção. Tais sintomas podem ser compartilhados com diversas causas, mas entre elas, nós, os adultos, devemos cogitar a possibilidade de abuso sexual.

Num mecanismo de defesa, achamos que isso nunca ocorrerá tão próximo de nós, mas não é o que as notícias e as estatísticas revelam. Formas adequadas de abordar o assunto com uma criança devem ser rotina e parte da educação. Não se trata de uma aula de etiqueta, mas sim da formação de uma pessoa saudável. O tabu em discutir-se sexualidade e abuso na infância deve ser quebrado.

Mas vale ressaltar que, para tudo, há formas adequadas, bom senso e informação para uma abordagem assertiva. Respeitar a fase da infância, seu contexto cultural, habilidades sociais e seu nível de amadurecimento é fundamental. É preciso trazer o assunto para o cotidiano, mas de forma qualificada.

Assim, desmistificamos o medo e o sentimento de inferioridade que o abusador causa à vítima, e trazemos mais discernimento à criança de quem realmente está errado. Seu diálogo fica mais aberto e a proximidade com a família se estreita, reduzindo também aspectos de desconfiança.

Atualmente, grande parte dos casos de abuso sexual na infância e adolescência só vêm ao conhecimento de outros (inclusive da justiça) na fase adulta. Anos se passam até que o adulto consiga externalizar essa violência.

Até lá, a probabilidade de doenças psiquiátricas aumenta de forma considerável. Suicídio, depressão, transtornos de personalidade, ansiedade generalizada e transtorno bipolar são exemplos de doenças comportamentais que têm a taxa aumentada na vigência de um abuso sexual.

Os transtornos psiquiátricos atingem cerca de 700 milhões de pessoas no mundo, representando 13% do total de todas as doenças. Podemos pensar que esse número ainda está subnotificado, devido ao preconceito e psicofobia ainda existentes.

Depressão já é a segunda causa mais comum de invalidez em todo o mundo e suicídio é terceira causa de morte entre jovens, sendo que o Brasil ocupa 8ª posição no ranking mundial de suicídio. Tal panorama nos faz ver que as consequências a curto e longo prazos do abuso sexual está mais perto do que imaginamos, assim como as vítimas. Basta enxergar.

* Raquel Heep é médica psiquiatra e mestranda em Ensino nas Ciências da Saúde.

Fonte: Central Press



A importância do financiamento à exportação de bens e serviços

Observamos uma menor participação das exportações de bens manufaturados na balança comercial brasileira, atualmente em torno de 30%.

Autor: Patrícia Gomes


Empreendedor social: investindo no futuro com propósito

Nos últimos anos, temos testemunhado um movimento crescente de empreendedores que não apenas buscam o sucesso financeiro, mas também têm um compromisso profundo com a mudança social.

Autor: Gerardo Wisosky


Novas formas de trabalho no contexto da retomada de produtividade

Por mais de três anos, desde o surgimento da pandemia em escala mundial, os líderes empresariais têm trabalhado para entender qual o melhor regime de trabalho.

Autor: Leonardo Meneses


Desafios da gestão em um mundo em transformação

À medida que um novo ano se inicia, somos confrontados com uma miríade de oportunidades e desafios, delineando um cenário dinâmico para os meses à frente.

Autor: Maurício Vinhão


Desumanização geral

As condições gerais de vida apertam. A humanidade vem, há longo tempo, agindo de forma individualista.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra


O xadrez das eleições: janela partidária permite troca de partidos até 5 de abril

Os vereadores e vereadoras de todo país que desejam trocar de partido têm até dia 5 de abril para realizar a nova filiação.

Autor: Wilson Pedroso


Vale a renúncia?

Diversos setores da economia ficaram surpresos com um anúncio vindo de uma das maiores mineradoras do mundo, a Vale.

Autor: Carlos Gomes


STF versus Congresso Nacional

Descriminalização do uso de drogas.

Autor: Bady Curi Neto


O que está acontecendo nos bastidores da Stellantis? Muitas brigas entre herdeiros

A Stellantis é rica, gigante, e a Stellantis South America, domina o mercado automobilístico na linha abaixo da Linha do Equador.

Autor: Marcos Villela Hochreiter

O que está acontecendo nos bastidores da Stellantis? Muitas brigas entre herdeiros

A verdade sobre a tributação no Brasil

O Brasil cobra de todos os contribuintes (pessoas físicas e jurídicas) sediados no território nacional, cerca de 33,71% do valor de todos os bens e serviços produzidos no país.

Autor: Samuel Hanan


Bom senso intuitivo

Os governantes, em geral, são desmazelados com o dinheiro e as contas. Falta responsabilidade na gestão financeira pública.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra


População da Baixada quer continuidade da Operação Verão

No palanque armado na Praça das Bandeiras (Praia do Gonzaga), a população de Santos manifestou-se, no último sábado, pela continuidade da Operação Verão da Polícia Militar do Estado de São Paulo.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves