As novas ferrovias. E as antigas?
As novas ferrovias. E as antigas?
As gigantes na produção de grãos unem-se e pretendem investir na construção de seis novas ferrovias, com quase 5 mil quilômetros, que constituirão alternativas para o escoamento das safras.
A noticia é auspiciosa e demonstra que a historia simplesmente se repete, mudando apenas o pano de fundo de cada época. Nos séculos passados, os produtores de café uniram-se e construíram a maior parte das ferrovias de São Paulo, Rio, Minas Gerais e Paraná.
Mas, os revezes da própria economia e os interesses políticos e até estratégicos levaram as estradas ferro a caírem encampadas pelos governos, que as exploraram, sucatearam e abandonaram. Hoje temos vergonhosos cemitérios de trens no lugar da outrora florescente via de transporte e desenvolvimento. A falência das ferrovias é atribuída à opção pelo rodoviarismo e à atuação dos cartéis de caminhões, pneus, combustíveis e outros. Independente do que tenha produzido o abandono, hoje vivemos também o caos rodoviário.
Todas as modernizações do setor têm sido insuficientes para fazer frente aos congestionamentos e ao crescente número de acidentes e prejuízos ao usuário e à economia nacional. Paradoxalmente, ao lado da rodovia congestionada, encontramos o absurdo da ferrovia ociosa. Os trilhos servem apenas para trazer problemas e atravancar os centros urbanos que, no passado, ajudaram a implantar. Os governos atuais – como sucessores daqueles que promoveram o desleixo – precisam encontrar uma solução.
Ainda que não atendam aos saudosistas que pensam no trem de passageiros, é preciso dar uma utilidade ao que ainda resta do vasto patrimônio. Existem mercadorias com perfil adequado para serem transportadas pelo trem e, hoje, seguem em imensos caminhões, meio mais caro de locomoção e prejudicial às nossas estradas.
Os técnicos do setor conhecem muito bem a divisão dos modais e seu funcionamento nas diferentes regiões da Europa e Estados Unidos, de onde derivam nossos serviços de transporte. Para consolidar o desenvolvimento econômico, o Brasil precisa colocar cada carga no seu devido modal e, preferencialmente, fazê-los funcionar de forma integrada. Ferrovia, rodovia, hidrovia, aerovia e cabotagem não podem ser concorrentes. Precisam ser complementares...
*Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves - dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).