Portal O Debate
Grupo WhatsApp

Confiança no azar

Confiança no azar

20/08/2014 Bruno Peron

Como alunos bem comportados que fomos, crescemos ouvindo de nossos professores que o Brasil foi descoberto e que a América do Sul era povoada por índios selvagens e sedentos de civilização.

Nesta hora e noutras, como admiro os alunos rebeldes! Em viagem recente que fiz ao Acre, em agosto de 2014, vi de perto o que é um território naturalmente belo e fecundo, mas tomado por pecuaristas oportunistas, seringalistas primitivos e haitianos desesperados. Toda a responsabilidade pela aflição do Haiti deveria pesar sobre os ombros daqueles europeus bárbaros metidos a civilizadores fraternos e igualitários de La France.

Atrocidades como a de sequestrar africanos e escravizá-los na América e no Caribe foram algumas que La France cometeu, junto com Cool Britannia e seu vassalo produtor de vinho, Portugal. Na chegada às terras novas da América, houve a fundação de países em vez de seu descobrimento. Entre eles, esteve o Brasil. Todo o processo, porém, deu-se com carnificinas e grilhões. E o que esta revelação tem a ver com o Brasil atual e seus descaminhos?

Primeiro, é preciso entender a história em que nosso país se gerou pleno de contradições e vulnerável ao materialismo de outro continente. Em circunstâncias similares, a atrasadíssima Espanha chegou em busca de ouro e prata. Esta busca de riqueza fácil estendeu-se durante séculos sem que se perdessem tradições que o Brasil herdou como corrupção, escravismo, elitismo e paternalismo. Elas não tiveram origem neste país, como muitos antipatriotas acreditam.

Pior que isso, a maioria dos professores a que me referi acima fala sobre o Brasil de costas para o Brasil. Assim, há os que estudam os índios seguindo os mesmos preconceitos de Claude Lévi-Strauss e os que citam Jürgen Habermas em todo trabalho acadêmico, até para falar sobre o canto das araras e a comunicação entre as capivaras! Por isso, entendo que o Brasil é uma terra abençoada pela natureza, mas condenada pelos neo-bandeirantes que têm disseminado seus rastros de destruição.

Esta é a impressão que o Acre me deixou, a despeito de sua gente acolhedora e digna, mas mal acostumada pelo exemplo ruim de suas elites. De uma região conquistada num conflito insólito com a Bolívia passou a ser um modelo de lugar confiante no azar. Para a viagem de ônibus que fiz entre Rio Branco e Cruzeiro do Sul, ouve o prenúncio seguinte de um acreano: “Você só verá florestas no caminho”. Ilusão. Havia buracos na rodovia, nuvens de cigarras e pastos com boizinhos brancos.

Os neo-bandeirantes avançam com acréscimo baixíssimo de tecnologia e a miúdo em áreas de preservação ambiental. Eles compõem as classes médias e altas de cidades várias no interior do país, enquanto as maiorias brutalizam-se como escravos por dívidas e mão-de-obra que só paga sua sobrevivência. O interior do Brasil, portanto, segue um modelo extrativista de desenvolvimento (veja os recordes da soja!). O Acre ascendeu a decaiu desta maneira.

Primeiro teve a extração de látex até que trapaceiros de Cool Britannia traficaram nossa planta à Malásia, baixaram os custos de produção de borracha e quebraram o negócio que desbravou a Amazônia. Assim, o método de Cool Britannia foi tão bárbaro, cínico e sanguessuga quanto o de La France alhures na América. Ambos países enriqueceram-se às custas da miséria de africanos escravizados e até de migrantes nordestinos, que se assentaram no Acre para fazer girar as pelas (gomas de borracha) da maneira mais primitiva possível.

O Brasil é assim até hoje, infelizmente. Mais saem riquezas daqui que as que entram. Nossa economia continua extrativista até que algum cientista ou ladrão europeu tenha alguma ideia brilhante que quebre a economia brasileira. Nesse ínterim, o povo entretém-se com aparelhinhos eletrônicos de valor tecnológico incalculável e entristece-se com o acidente que matou um candidato à Presidência num jatinho que diz-que caiu por causa da chuva em Santos. Temos confiado demais no azar! Que pensa sobre o tema, leitor?

*Bruno Peron.



As histórias que o padre conta

“Até a metade vai parecer que irá dar errado, mas depois dá certo!”

Autor: Dimas Künsch


Vulnerabilidades masculinas: o tema proibido

É desafiador para mim escrever sobre este tema, já que sou um gênero feminino ainda que com certa energia masculina dentro de mim, aliás como todos os seres, que tem ambas as energias dentro de si, feminina e masculina.

Autor: Viviane Gago


Entre o barril de petróleo e o de pólvora

O mundo começou a semana preocupado com o Oriente Médio.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


Nome comum pode ser bom, mas às vezes complica!

O nosso nome, primeira terceirização que fazemos na vida, é uma escolha que pode trazer as consequências mais diversas.

Autor: Antônio Marcos Ferreira


A Cilada do Narcisista

Nelson Rodrigues descrevia em suas crônicas as pessoas enamoradas de si mesmas com o termo: “Ele está em furioso enamoramento de si mesmo”.

Autor: Marco Antonio Spinelli


Brasil, amado pelo povo e dividido pelos governantes

As autoridades vivem bem protegidas, enquanto o restante da população sofre os efeitos da insegurança urbana.

Autor: Samuel Hanan


Custos da saúde aumentam e não existe uma perspectiva que possa diminuir

Recente levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indica que os brasileiros estão gastando menos com serviços de saúde privada, como consultas e planos de saúde, mas desembolsando mais com medicamentos.

Autor: Mara Machado


O Renascimento

Hoje completa 2 anos que venci uma cirurgia complexa e perigosa que me devolveu a vida quase plena. Este depoimento são lembranças que gostaria que ficasse registrado em agradecimento a Deus, a minha família e a vários amigos que ficaram ao meu lado.

Autor: Eduardo Carvalhaes Nobre


Argentina e Venezuela são alertas para países que ainda são ricos hoje

No meu novo livro How Nations Escape Poverty, mostro como as nações escapam da pobreza, mas também tenho alguns comentários sobre como países que antes eram muito ricos se tornaram pobres.

Autor: Rainer Zitelmann


Marcas de um passado ainda presente

Há quem diga que a infância é esquecida, que nada daquele nosso passado importa. Será mesmo?

Autor: Paula Toyneti Benalia


Quais são os problemas que o perfeccionismo causa?

No mundo complexo e exigente em que vivemos, é fácil se deparar com um padrão implacável de perfeição.

Autor: Thereza Cristina Moraes


De quem é a América?

Meu filho tinha oito anos de idade quando veio me perguntar: “papai, por que os americanos dizem que só eles vivem na América?”.

Autor: Leonardo de Moraes