Crise do aprendizado: formação da Geração nem-nem
Crise do aprendizado: formação da Geração nem-nem
É consenso que a escolarização da população é necessária e traz benefícios para a sociedade.
Problemas pertinentes à escolaridade frequentemente estão ligados à pobreza, o que se configura como uma barreira ao desenvolvimento pleno do ser humano. O nível educacional da população adulta de um país é resultante do investimento em educação por décadas e devem ser considerados quando pensamos no grau de desenvolvimento de determinados países.
Os investimentos em educação no Brasil representaram 4,9% do Produto Interno Bruto em 2014 (último dado disponível no estudo), segundo as informações da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que são, insuficientes diante dos elevados déficits que, se acumularam ao longo de uma história educacional de omissões.
Segundo o Censo Escolar 2017, publicado recentemente, o número de alunos matriculados na Educação Básica no Brasil diminuiu sutilmente de 2016 para 2017. Em 2016, havia 48,8 milhões alunos no sistema educacional brasileiro, enquanto fechamos 2017 com 48,6 milhões de alunos.
O que causa preocupação não são somente os dados de uma leve queda de um ano para outro mas sim, o déficit que já acumulamos desde 2013: 14,2% neste período a menos de matriculados no último ano do ensino fundamental. Dessa forma, é inevitável uma queda brusca de matriculas no Ensino Médio. O aluno já desmotivado no seu último ano de fundamental, não terá interesse algum em iniciar um novo ciclo de estudos no nível médio e mesmo no profissionalizante.
Temos tido várias discussões e reflexões acerca do tão alto índice dos jovens que vem formando a geração “nem-nem”, que não estudam e não trabalham, mas há situações que agravam diretamente este cenário como por exemplo, termos cerca de 15% dos nossos docentes que atuam na educação básica, sem ensino superior ou mesmo termos 24,3% dos que atuam na educação infantil, sem formação específica para tal (Censo Escolar 2017).
Não há oportunidades para se falar em uma educação motivadora, com o protagonismo docente comprometido pela ausência de formação e de planos de carreiras e mesmo um espaço de trabalho sem condições adequadas para receber e constituir uma comunidade escolar. Ou seja, a escola deixa de ser convidativa ao aluno e ao professor.
Para que o sistema educacional consiga ser transformador da sociedade que o envolve, ele deve conseguir prover o acesso universal à educação de qualidade, a partir do incentivo e do reconhecimento do papel do professor, do investimento qualitativo e quantitativo na educação básica, da promoção da autonomia e do incentivo à gestão participativa, que envolva a escola e a comunidade.
Entretanto, alguns desses gastos pressupõem um planejamento de longo prazo e vale salientar que, o investimento por si só, não reverte este cenário. Vemos sinais alarmantes de uma grave crise de aprendizado no cenário educacional brasileiro.
O efeito é “dominó”: se tenho um professor desmotivado, tenho um aluno futuro evadido e por conseguinte, uma escola fracassada.
* Renato de Oliveira Brito é doutor em Educação (Gestão e Políticas Públicas) pela Universidade Católica de Brasília, onde também atua como pesquisador.
Fonte: Renata Senlle