Deixe a mulher trabalhar
Deixe a mulher trabalhar
“Um tapinha não dói”. Por causa dessa falácia milhares de mulheres estão sendo trucidadas por companheiros e familiares, através do assédio sexual e moral, pelo qual o feminino na sociedade regride no nível da barbárie.
Na África, como é o caso do Sudão, Líbia, entre outros,
alguns dos vários episódios que acontecem de violência corpórea contra a mulher
são amplificados em número e grau por influência do fator teológico. Isto é,
cultores da religião mulçumana discriminam, impõem humilhantes códigos morais e
estupram meninas ainda crianças sem qualquer punição.
No Brasil, como é o caso de Pernambuco e Ceará, entre outros
estados da Federação, campeões de violência doméstica contra mulheres, alguns
dos vários episódios dessa violência são amplificados em número e grau por
influência do fator socio-econômico. Aliás, de maneira geral, é o fator
econômico que mais impulsiona, para o bem e para o mal, as relações humanas. Desde que surgiu a divisão social do
trabalho e a propriedade privada a humanidade nunca mais foi a mesma.
Claro, a mulher conseguiu certa mobilidade no mundo do
trabalho, no lar e no consórcio amoroso. Essa ascensão veio somar energia
sofisticada à força produtiva, cujo resultado é o aumento das doenças no
trabalho e a piora da sua qualidade de vida. No resto, para ambos, macho e fêmea,
o desemprego, a desestruturação familiar, a exploração da mão de obra e o
sofrimento social repercutem-lhes de maneira diferenciada.
Tudo isso acontece com a mulher de maneira mais intensa: há
contra as mulheres o racismo e o machismo, que são disseminados pela indústria
cultural a serviço de uma ideologia que visa perpetuar a dominação de uma
classe, a burguesa, sobre os demais grupos da sociedade. Portanto, é preciso
contabilizar a questão de classe na violência cotidiana contra as mulheres.
É necessário levar em conta tantos fatores que, juntos,
amalgam o desrespeito pela mulher na nossa sociedade, dita urbano-ocidental, e
na sociedade secular, como a africana. Também é muito bom para o avanço da
emancipação feminina a eleição da primeira mulher eleita presidenta e a segunda
a comandar o Brasil, Dilma Rousseff. Antes, o país já havia sido dirigido pela
princesa Isabel, nos anos dourados da nossa Monarquia, conforme registra a
historiografia oficial, e por Barbara Alencar, durante o governo revolucionário
pernambucano na época dos acontecimentos de 1817.
Mas o caminho para a igualdade de gênero de fato ainda é
longo. Em que pese intensas programações para a superação do feminocídio, os
dados concretos das delegacias e órgãos de defesa dos direitos da mulher
apontam uma escalada paulatina dessa violência.
E os períodos de férias e o Carnaval indicam que haverá
aumento nas estatísticas. Mas o que realmente piora tudo isso, e nesse caso a
própria posição de destaque de Dilma Rousseff Presidenta pode não conseguir
extirpar, é a participação da cultura e da indústria cultural, que ainda não
têm uma visão societária correta da mulher na sociedade. Os exemplos do baixo
papel exercido pelas mulheres, no Ocidente quanto no Oriente, dão uma pista da
enorme tarefa que temos para lutar pela emancipação humana.
* Alexandre Braga é coordenador de comunicação da UNEGRO-MG,
Conselheiro Municipal de Igualdade Racial de Belo Horizonte e Tesoureiro do
Forum Mineiro de Entidades Negras.