Portal O Debate
Grupo WhatsApp

Greve geral, fruto de primitivismo jurídico

Greve geral, fruto de primitivismo jurídico

04/05/2017 Amadeu Roberto Garrido de Paula

Os lamentáveis acontecimentos desta sexta-feira, 28 de maio, poderiam ser evitados.

Bastaria a consciência, a partir do governo, de que somos um País constitucionalizado. E que devemos caminhar pelas estradas da Constituição. Todos os brasileiros são obrigados a respeitá-la.


A tempo e modo, é dizer, antes da ocorrência de tremores sociais e sofrimentos humanos como o de hoje. Provavelmente por seu curto mandato e o desejo de entrar vivo na história, lançou-se o Presidente Temer a mudanças que, num momento triste, chamavam de "projetos impacto".

Tudo muito rápido, como se nossas arranhaduras fossem hemorrágicas e nossas fraturas expostas. Sabe-se, porém, que os países que saíram de crises promoveram entendimentos políticos, sociais e compreensões culturais, antes de materializar medidas econômicas.


O Presidente pediu a tramitação do projeto de reforma trabalhista em regime de urgência no legislativo. Só essa conduta anunciava algo como autoritário, agressivo, desafiador ou, no mínimo, avesso ao diálogo com os interessados. Salvo um ou outro diálogo matreiro, a reforma foi posta sob a forma de um rolo compressor.


Evidentemente, as contraposições resistentes imediatamente se organizaram, num País em que temos várias Centrais Sindicais e várias Confederações Gerais de Trabalhadores, que se uniram. Vejamos no que o respeito à Constituição Federal nos poderia ter auxiliado.


O art. 10 da Carta Magna brasileira diz que " É assegurada a participação dos trabalhadores e empregadores nos colegiados dos órgãos públicos em que seus interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão e deliberação."

Uma interpretação pobre, ditada por uma jurisprudência conservadora, sustenta que o constituinte só nos assegurou a participação das organizações trabalhistas na esfera administrativa. No âmbito legislativo, seria um despautério, uma invasão.

Portugal, para comparar com um País irmão, de semelhantes tradições jurídicas, traz em sua Constituição normas análogas. Em seu art. 54º/5/d considera como direito das comissões de trabalhadores "participar na legislação do trabalho e dos planos econômico-sociais que contemplem o respectivo sector".

O mesmo direito é reconhecido às associações sindicais no art. 56º/2/a. É pressuposto inafastável da elaboração de leis dessa modalidade. Ignorá-lo implica na inconstitucionalidade formal da lei. Nossa interpretação é restritiva.

Não há esse direito de participação de entes de representação dos trabalhadores na elaboração de leis de seu interesse. Contudo,uma interpretação ampla e correta não seria utópica e tampouco implicaria em intromissão num dos poderes republicanos.

É o que ensina um dos maiores constitucionalistas do mundo, o português J.J. Gomes Canotilho, como se vê: "Se uma lei, decreto-lei ou qualquer acto legislativo, estabelecer a disciplina normativa das relações de trabalho sem a participação das comissões de trabalhadores ou das associações sindicais estaremos perante uma hipótese de falta de um elemento integrativo (grifo nosso) da competência dos órgãos legislativos quanto à legislação do trabalho e que não se pode considerar propriamente como fazendo parte do procedimento legislativo. No entanto, à semelhança do que acontece com os pressupostos de facto do acto administrativo, a participação dos trabalhadores através de suas comissões ou associações é um elemento vinculado (itálico do autor) do acto legislativo, decisivamente condicionante da competência dos órgãos legislativos quanto a matérias respeitantes aos direitos dos trabalhadores (idem). A participação é aqui um pressuposto objectivo do acto (idem), cuja falta origina a inconstitucionalidade da lei. ("Direito Constitucional e Teoria da Constituição", 7a. ed., p. 1.322).

Tínhamos tudo para agir como nossos irmãos portugueses, porém preferimos um projeto de lei em tramitação sob regime de urgência, somente debatido por ilibados parlamentares. O preço, pago nas ruas, talvez não existisse.

* Amadeu Roberto Garrido de Paula é Advogado e sócio do Escritório Garrido de Paula Advogados.



Dia de Ogum, sincretismo religioso e a resistência da umbanda no Brasil

Os Orixás ocupam um lugar central na espiritualidade umbandista, reverenciados e cultuados de forma a manter viva a conexão com as divindades africanas, além de representar forças da natureza e aspectos da vida humana.

Autor: Marlidia Teixeira e Alan Kardec Marques


O legado de Mário Covas ainda vive entre nós

Neste domingo, dia 21 de abril, Mário Covas completaria 94 anos de vida. Relembrar sua vida é resgatar uma parte importante de nossa história.

Autor: Wilson Pedroso


Elon Musk, liberdade de expressão x TSE e STF

Recentemente, o ministro Gilmar Mendes, renomado constitucionalista e decano do Supremo Tribunal Federal, ao se manifestar sobre os 10 anos da operação Lava-jato, consignou “Acho que a Lava Jato fez um enorme mal às instituições.”

Autor: Bady Curi Neto


Senado e STF colidem sobre descriminalizar a maconha

O Senado aprovou, em dois turnos, a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) das Drogas, que classifica como crime a compra, guarda ou porte de entorpecentes.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


As histórias que o padre conta

“Até a metade vai parecer que irá dar errado, mas depois dá certo!”

Autor: Dimas Künsch


Vulnerabilidades masculinas: o tema proibido

É desafiador para mim escrever sobre este tema, já que sou um gênero feminino ainda que com certa energia masculina dentro de mim, aliás como todos os seres, que tem ambas as energias dentro de si, feminina e masculina.

Autor: Viviane Gago


Entre o barril de petróleo e o de pólvora

O mundo começou a semana preocupado com o Oriente Médio.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


Nome comum pode ser bom, mas às vezes complica!

O nosso nome, primeira terceirização que fazemos na vida, é uma escolha que pode trazer as consequências mais diversas.

Autor: Antônio Marcos Ferreira


A Cilada do Narcisista

Nelson Rodrigues descrevia em suas crônicas as pessoas enamoradas de si mesmas com o termo: “Ele está em furioso enamoramento de si mesmo”.

Autor: Marco Antonio Spinelli


Brasil, amado pelo povo e dividido pelos governantes

As autoridades vivem bem protegidas, enquanto o restante da população sofre os efeitos da insegurança urbana.

Autor: Samuel Hanan


Custos da saúde aumentam e não existe uma perspectiva que possa diminuir

Recente levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indica que os brasileiros estão gastando menos com serviços de saúde privada, como consultas e planos de saúde, mas desembolsando mais com medicamentos.

Autor: Mara Machado


O Renascimento

Hoje completa 2 anos que venci uma cirurgia complexa e perigosa que me devolveu a vida quase plena. Este depoimento são lembranças que gostaria que ficasse registrado em agradecimento a Deus, a minha família e a vários amigos que ficaram ao meu lado.

Autor: Eduardo Carvalhaes Nobre