Portal O Debate
Grupo WhatsApp

Guerra na Ucrânia traz lição econômica para o Brasil e o mundo

Guerra na Ucrânia traz lição econômica para o Brasil e o mundo

29/03/2022 Samuel Hanan

A guerra na Ucrânia, além das questões humanitárias e políticas, traz uma consequência econômica que deve servir de reflexão para o mundo todo, em especial para o Brasil.

A decisão da Rússia de invadir o país vizinho e a retaliação mundial à decisão de Vladimir Putin, na forma de sanções econômicas aplicadas ao Kremlin, jogaram luz sobre um ponto que pode mudar a globalização: o grau de dependência de insumos e produtos de uma nação em relação à outra, especialmente no setor de energia, independentemente do seu grau de desenvolvimento.

A Alemanha e a Europa dependem em grande escala da importação de energia da Rússia, envolvendo petróleo, gás e carvão mineral.

Metade do gás consumido pelos alemães era importado da Rússia até o exército de Putin ultrapassar as fronteiras ucranianas.

Também vêm da Rússia 23% dos fertilizantes utilizados na agricultura do Brasil, que tem nas commodities do campo parcela importante do agronegócio, setor que responde por quase um quarto do nosso Produto Interno Bruto (PIB) e é responsável pelo superávit cambial brasileiro.

Enquanto pressionam a Rússia para acabar com a guerra, os líderes mundiais devem começar a buscar a autossuficiência em setores estratégicos para reduzir a dependência em relação a outros países, em especial aqueles que, escudados pelo desenvolvimento de armas nucleares, configuram potencial propensão ao uso da força militar antes do esgotamento das vias diplomáticas.

É bastante provável que o conflito no Leste Europeu provoque uma revisão global das cadeias produtivas. Tal medida seria importante também no Brasil, ainda extremamente dependente da importação de insumos para garantir sua produtividade no setor agrícola.

Atualmente, 86% dos fertilizantes utilizados nas plantações brasileiras são produzidos no exterior. O país importa adubos e fertilizantes químicos de mais de 50 países, mas sua dependência maior é justamente em relação à Rússia, fornecedora de 23% do que é consumido aqui nesse segmento.

Em seguida vêm China (14%), Marrocos (11%), Canadá (9,8%) e Estados Unidos (5,6%). Segundo dados do Ministério da Economia, em 2021, o país importou 41,6 milhões de toneladas de fertilizantes.

É fato que o Brasil não possui matéria-prima suficiente para atender o mercado interno e também se ressente da falta de infraestrutura para a produção de fertilizantes em larga escala e a preços competitivos com o mercado externo.

Entretanto, também é verdade que falta ao país uma diretriz condizente com sua condição de um dos maiores fornecedores de grãos para o mundo.

A ideia de um Plano Nacional de Fertilizantes, nascida em 2021, acaba de ter sua conclusão anunciada pelo governo federal.

A solução apresentada em busca de autossuficiência de fertilizantes ou, pelo menos, da redução de dependência externa para 30%, no prazo de 28 anos, é uma tentativa de dar uma resposta rápida à situação escancarada pela guerra na Ucrânia, devendo ser analisada com cuidado.

A pressa em anunciar sua conclusão logo após o início do conflito europeu gera a desconfiança de que foi feita uma atualização a toque de caixa.

Um processo nada transparente, sem que tenham sido apresentados os estudos, discutido com os especialistas, e ouvidos os vários atores da indústria e do agronegócio.

Trata-se, afinal, de uma questão complexa que o mapeamento e dimensionamento das reservas nacionais, a logística de armazenamento e transporte, e investimentos e suas fontes de recursos, dentre tantos outros detalhes.

Temos, mais uma vez, uma solução espasmódica, longe do ideal que seria o agronegócio integrar um Plano Nacional de Desenvolvimento inspirado naquele que o presidente Juscelino Kubitschek elaborou e implantou na década de 60, elevando o Brasil a outro patamar em questão de desenvolvimento.

Sem um plano com visão de futuro, baseado em políticas de Estado e não de governos, o Brasil jamais conseguirá se inserir na nova ordem mundial com papel relevante.

E isso inclui um novo olhar sobre a Amazônia, reconhecendo a necessidade da preservação da floresta e o desenvolvimento sustentável daquela região.

Para a agricultura, a água é tão ou mais importante que os fertilizantes cujo fornecimento se busca assegurar agora.

E a floresta em pé é uma garantia de equilíbrio no regime de chuvas, essencial para a produção do Centro-Oeste, Sul e Sudeste e ainda para a produção de energia hídrica, fundamental para a indústria, o comércio e a prestação de serviços.

É fundamental, portanto, que o país tenha claro e definido qual o papel reservado à Amazônia e quais diretrizes adotará para manter a floresta em pé, dando também segurança jurídica contra medidas ilegítimas e/ou que afrontem a Constituição.

A guerra no Leste Europeu certamente irá promover mudanças no mundo inteiro, a um custo altíssimo. O conflito já deixou evidente que tratados internacionais foram desrespeitados e que o planeta vive uma nova fase da corrida armamentista.

O domínio da tecnologia das armas nucleares e o esforço para a produção das maiores e mais letais ogivas é uma realidade indisfarçável no Ocidente e no Oriente, o que eleva a tensão mundial a nível só comparado ao da Guerra Fria.

O Brasil precisa entender a dimensão dos reflexos do conflito e refletir sobre seu futuro. Se cada candidato a presidente nas próximas eleições apresentasse à nação o seu plano nacional de desenvolvimento, já daríamos um passo fundamental rumo a uma nova realidade.

* Samuel Hanan é engenheiro com especialização nas áreas de macroeconomia, administração de empresas e finanças, empresário, e foi vice-governador do Amazonas (1999-2002).

Para mais informações sobre guerra na Ucrânia clique aqui…

Publique seu texto em nosso site que o Google vai te achar!

Fonte: Vervi Assessoria de Imprensa



A importância do financiamento à exportação de bens e serviços

Observamos uma menor participação das exportações de bens manufaturados na balança comercial brasileira, atualmente em torno de 30%.

Autor: Patrícia Gomes


Empreendedor social: investindo no futuro com propósito

Nos últimos anos, temos testemunhado um movimento crescente de empreendedores que não apenas buscam o sucesso financeiro, mas também têm um compromisso profundo com a mudança social.

Autor: Gerardo Wisosky


Novas formas de trabalho no contexto da retomada de produtividade

Por mais de três anos, desde o surgimento da pandemia em escala mundial, os líderes empresariais têm trabalhado para entender qual o melhor regime de trabalho.

Autor: Leonardo Meneses


Desafios da gestão em um mundo em transformação

À medida que um novo ano se inicia, somos confrontados com uma miríade de oportunidades e desafios, delineando um cenário dinâmico para os meses à frente.

Autor: Maurício Vinhão


Desumanização geral

As condições gerais de vida apertam. A humanidade vem, há longo tempo, agindo de forma individualista.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra


O xadrez das eleições: janela partidária permite troca de partidos até 5 de abril

Os vereadores e vereadoras de todo país que desejam trocar de partido têm até dia 5 de abril para realizar a nova filiação.

Autor: Wilson Pedroso


Vale a renúncia?

Diversos setores da economia ficaram surpresos com um anúncio vindo de uma das maiores mineradoras do mundo, a Vale.

Autor: Carlos Gomes


STF versus Congresso Nacional

Descriminalização do uso de drogas.

Autor: Bady Curi Neto


O que está acontecendo nos bastidores da Stellantis? Muitas brigas entre herdeiros

A Stellantis é rica, gigante, e a Stellantis South America, domina o mercado automobilístico na linha abaixo da Linha do Equador.

Autor: Marcos Villela Hochreiter

O que está acontecendo nos bastidores da Stellantis? Muitas brigas entre herdeiros

A verdade sobre a tributação no Brasil

O Brasil cobra de todos os contribuintes (pessoas físicas e jurídicas) sediados no território nacional, cerca de 33,71% do valor de todos os bens e serviços produzidos no país.

Autor: Samuel Hanan


Bom senso intuitivo

Os governantes, em geral, são desmazelados com o dinheiro e as contas. Falta responsabilidade na gestão financeira pública.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra


População da Baixada quer continuidade da Operação Verão

No palanque armado na Praça das Bandeiras (Praia do Gonzaga), a população de Santos manifestou-se, no último sábado, pela continuidade da Operação Verão da Polícia Militar do Estado de São Paulo.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves