Portal O Debate
Grupo WhatsApp

História sarneysista

História sarneysista

01/06/2011 Helder Caldeira

“Talvez esse episódio seja apenas um acidente que não deveria ter acontecido na História do Brasil”. Foi com essa ignominiosa frase que o presidente do Senado Federal,José Sarney, sustentou a exclusão do impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello da história recente do país.

Com seu defectivo sapato lustrado, cuja origem remonta o suado bolso do tolo contribuinte brasileiro, o imortal literato maranhense esfregou na cara do país a ímpar capacidade de nossa classe política em compreender o poder e o valor da democracia e de como, em mãos equivocadas, podem ser frágeis as linhas que nos chancelam enquanto nação. Quando o presidente do Congresso Nacional decide manipular a história e extrair de suas páginas o último movimento político popular de grande monta, estamos diante não apenas de um desdenho institucional, mas da tentativa torpe de macular um tempo,de apagar páginas históricas que não podem – e não devem – ser esquecidas.

José Sarney afronta a dignidade, a honra e o orgulho do povo brasileiro. São indeléveis da história do país os milhões de jovens com suas caras pintadas que invadiram as ruas e exigiram que o então presidente da República, acusado de alta corrupção, fosse de fenestrado de sua cadeira no Palácio do Planalto. Revoga-se qualquer disposição em contrário, ainda que vinda de um presidente-coronel,comandante de uma nau de néscios engravatados – esses sim,cada dia mais desprezíveis. Alguns podem até imaginar que há muito barulho por nada na questão. Mas a decisão  de extrair os painéis e os textos que relatam o processo de impeachment de Collor da exposição histórica no chamado “Túnel do Tempo”do Senado Federal é emblemática  quanto à expectativa de subserviência e aniquilação cultural que a classe política dispõe à sociedade.

Vide a recente querela dos erráticos livros didáticos do Ministério da Educação e a posterior citação de seu ministro – que conseguiu a proeza inversa de tentar justificar os genocídios de Stalin –e temos um extraordinário exemplo dos tipos “suigeneris”a quem as “canetas”são concedidas nesse país. E quantos mais ainda serão “tiriricas”ou “severinos”? Mas como é possível um senador ter tanto poder? Fernando Henrique Cardoso abraçou José Sarney em seu governo.Lula beijou a mão do agora amapaense coronel ludovico. Dilma Rousseff fez e faz questão de estruturar seu governo no campo gravitacional do maior bigode político da nação.O que podemos concluir disso?

O sistema político e eleitoral do Brasil é tão anômalo e insano que a um homem capaz de destroçar seu estado natal por décadas e figurar como um dos piores presidentes da República, ainda é dado o poder de pisar, desdenhar e enodoar a história do país,mantendo uma espécie de soberania capaz de transformar mandatários em títeres e seus pares em patetas desprezíveis. José Sarney é apenas o principal expoente vivo dessa linhagem política decrépita. Um homem com poderes quase sobre humanos e cujo chão onde pisa é diariamente lambido e chafurdado pela vara bem vestida que o segue, contempla e reverencia. O inacreditável – e inabalável, diga-sede passagem – poder que lhe é outorgado obriga-nos a revisitar com constância nossa própria história na tentativa de encontrar quais pecados absurdos cometemos e que nos façam merecer tamanho degredo e punição.

Muito provavelmente, escamotear painéis da História do Brasil seja uma tentativa risível de nos poupar da constatação de que nossa República ainda é um feudo e de que nossos notáveis “senhores”não conseguem – e não querem – nos admitir enquanto cidadãos. A manutenção plena e absoluta da influência do imortal José Sarney, esse ser político inamovível,faz-nos lançar dúvidas sobre a nossa própria compreensão do que seja a administração de um Estado democrático. Fossemos realmente um país sério e politicamente engajado, a escória da sociedade não estaria em Brasília disfarçada sob togas ou recebendo auxílios-paletó. Fossemos, de fato, uma democracia consolidada e inteligente, já teríamos banido esses coronéis constitucionais e a Praça dos Três Poderes já teria deixado de ser uma capitania hereditária talhada em mármore e concreto. Mas, ao que tudo indica, a narrativa brasileira insiste sustentar-se em uma história sarneysista. Triste assim.

* Helder Caldeira é escritor, articulista político, palestrante e conferencista.



O choque Executivo-Legislativo

O Congresso Nacional – reunião conjunta do Senado e da Câmara dos Deputados – vai analisar nesta quarta-feira (24/04), a partir das 19 horas, os 32 vetos pendentes a leis que deputados e senadores criaram ou modificaram e não receberam a concordância do Presidente da República.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


A medicina é para os humanos

O grande médico e pintor português Abel Salazar, que viveu entre 1889 e 1946, dizia que “o médico que só sabe de medicina, nem de medicina sabe”.

Autor: Felipe Villaça


Dia de Ogum, sincretismo religioso e a resistência da umbanda no Brasil

Os Orixás ocupam um lugar central na espiritualidade umbandista, reverenciados e cultuados de forma a manter viva a conexão com as divindades africanas, além de representar forças da natureza e aspectos da vida humana.

Autor: Marlidia Teixeira e Alan Kardec Marques


O legado de Mário Covas ainda vive entre nós

Neste domingo, dia 21 de abril, Mário Covas completaria 94 anos de vida. Relembrar sua vida é resgatar uma parte importante de nossa história.

Autor: Wilson Pedroso


Elon Musk, liberdade de expressão x TSE e STF

Recentemente, o ministro Gilmar Mendes, renomado constitucionalista e decano do Supremo Tribunal Federal, ao se manifestar sobre os 10 anos da operação Lava-jato, consignou “Acho que a Lava Jato fez um enorme mal às instituições.”

Autor: Bady Curi Neto


Senado e STF colidem sobre descriminalizar a maconha

O Senado aprovou, em dois turnos, a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) das Drogas, que classifica como crime a compra, guarda ou porte de entorpecentes.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


As histórias que o padre conta

“Até a metade vai parecer que irá dar errado, mas depois dá certo!”

Autor: Dimas Künsch


Vulnerabilidades masculinas: o tema proibido

É desafiador para mim escrever sobre este tema, já que sou um gênero feminino ainda que com certa energia masculina dentro de mim, aliás como todos os seres, que tem ambas as energias dentro de si, feminina e masculina.

Autor: Viviane Gago


Entre o barril de petróleo e o de pólvora

O mundo começou a semana preocupado com o Oriente Médio.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


Nome comum pode ser bom, mas às vezes complica!

O nosso nome, primeira terceirização que fazemos na vida, é uma escolha que pode trazer as consequências mais diversas.

Autor: Antônio Marcos Ferreira


A Cilada do Narcisista

Nelson Rodrigues descrevia em suas crônicas as pessoas enamoradas de si mesmas com o termo: “Ele está em furioso enamoramento de si mesmo”.

Autor: Marco Antonio Spinelli


Brasil, amado pelo povo e dividido pelos governantes

As autoridades vivem bem protegidas, enquanto o restante da população sofre os efeitos da insegurança urbana.

Autor: Samuel Hanan