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Homem, sonhos e o trabalho: reflexões sobre um futuro próximo

Homem, sonhos e o trabalho: reflexões sobre um futuro próximo

14/07/2020 Ricardo Pereira de Freitas Guimarães

O homem, seja pela perspectiva do criacionismo ou do evolucionismo, sempre teve um relacionamento necessário e direto com o trabalho.

Num primeiro momento, trabalhar tinha um significado mais latente em relação a própria necessidade de sobrevivência (homem enquanto caçador-coletor).

Em momento posterior, após as primeiras conquistas territoriais de além-mar, o humano percebeu que seu domínio poderia ultrapassar a barreira dos animais e plantas, ou seja, observando as abissais diferenças culturais e do próprio conhecimento entre os conquistadores e os conquistados (humanos nos continentes), passou a exercer o domínio sobre o próprio homem, momento em que vivenciamos a pior das relações “humanas”, a relação de fidalguia e escravidão.

Aqui, o domínio do humano através do açoite, dos escambos enganosos criou a insaciável vontade da competição plena pelo ter mais.

Instalaram-se ainda, em diversas partes do mundo, regimes de viés político e até filosófico que também se apropriaram do humano e de sua força de trabalho – quando não da sua própria vida – como o regime comunista que se caracteriza pela obediência a um partido ou a um sindicato (representados por Marx, Stalin e Trótski), e ainda, o fascismo de Mussolini que se caracterizou pela valorização da raça e da nação em detrimento do humano e suas vontades individualmente avaliadas.

Ambos regimes, claramente fracassados, tinham na forma ditatorial de um a ideia do todo, buscando num único líder e ditador um suposto sentido para o desenvolvimento e a igualdade, o que evidentemente sempre foi uma aldrabice.

Noutras palavras, tais movimentos criaram um “ideal imaginário” para seus respectivos povos, contudo as reais intenções eram do domínio do humano pelo domínio, inclusive no que se refere ao trabalho forçado para muitos, enquanto poucos se regozijavam no embuste criado.

Enquanto tais fatos ocorriam, em terras distantes nasce um movimento de natureza mais liberal, que diga-se de plano, também se alimenta – e não em raras vezes – de excessos, ao não reconhecer a dificuldade dos tons de igualdade e de vontade individual que prega, muitas vezes recebendo o substantivo “ultra” pelo extremismo em certos posicionamentos.

Dentro de todo esse contexto, países, ou melhor Estados, adotaram determinados caminhos de condução de sua própria manutenção e alteração do caminho a ser realizado.

Uma dessas formas se denomina democracia, que nada mais é que a participação direta do povo como soberano de um governo e no sentido político, a possibilidade de um povo eleger seus dirigentes.

Perceba-se que o regime democrático talvez seja o primeiro alento aparente quanto ao domínio até então existente da raça humana por outro da raça humana, não obstante não tenhamos ainda alcançado o limite mínimo de democracia sustentável no regime capitalista democrático, sobretudo nas relações de trabalho, tendo em vista que a dominação citada escapou de uma relação direta de percepção para todos – como na escravidão – trasmudando-se sob uma nova ótica em aparência – muitas vezes – de igualdade não existente, tendo em vista dois fatores, a saber: a busca desenfreada dos homens pelo poder e pelo ter, e de outro lado a dificuldade de acomodação da igualdade com a liberdade, que hoje são garantias constitucionais no nosso país.

Mas então de que forma se dá o domínio do humano pelo humano hoje?

Nos tempos ditos pós-modernos, como o que vivemos, globalmente acelerado pela tecnologia da informação, inteligência artificial e algoritmos caminhando a passos largos, os movimentos de domínio se direcionam com sutileza quase imperceptível, sobretudo nas relações de trabalho.

Uma primeira visão se condensa na necessidade do homem se transformar num “tecno-homem”, sob pena de se designar para seu posto de trabalho uma máquina que fará o trabalho em menos tempo e com maior índice de assertividade.

Esse dito “tecno-homem” recebe todos os mecanismos necessários para o desenvolvimento de seu trabalho à distância, junto com uma pseudoliberdade.

Noutras palavras, a agressividade aos músculos do humano enquanto corpo passa a dar lugar à agressividade da meta que esse deve atingir em seu trabalho em qualquer lugar que ele se encontre.

O “ideal imaginário” plantado agora como verdade, não trata mais do seguir algum líder, do seguir o cosmos, do seguir um regime, e sim do autorregramento humano no seu trabalho, que possui como pano de fundo muitas vezes, a exigência além de suas forças, pregando que só assim ele terá seu emprego garantido e mais, seus sonhos realizados.

Essa combinação se apresenta perigosa aos limites mentais do humano, o que se comprova facilmente pela enxurrada de afastamentos existentes hoje no Brasil em razão de doenças claramente ligadas ao excesso de trabalho.

O humano hoje acaba tendo a falsa sensação de que tudo que ele queira conseguir no trabalho depende só dele, e portanto, acaba muitas vezes tendo de dar a vida ou parte dela, apenas e exclusivamente às suas tarefas laborais, não havendo tempo destinado a qualquer outra atividade de convivência, lazer, religiosa, física, etc.

Nesse cenário, na hipótese de ausência de percepção da sociedade ou pelo menos dos eleitos por ela nesse regime que engatinha ainda em relação a democracia, a fotografia do futuro é muito pior.

É possível uma fotografia pior? Qual será o próximo passo?

Após o domínio do humano enquanto “Ser” realizador de seus sonhos, quanto àquilo que o trabalho pode propiciar materialmente falando, nascerá um movimento extremamente perigoso, tal qual o relatado no livro “O círculo”.

Grandes empresas certamente montarão – e hoje isso já é um fato-, centros de trabalho em que tudo seja possível ao empregado, com festas, hotéis, restaurantes, ambiente elitizado, contudo algo será cobrado desse empregado. A cobrança será a sua vida de presente para a empresa.

E como isso poderá ocorrer? Bem, acreditamos que pelo que vive a sociedade moderna no que se refere a escândalo atrás de escândalo, principalmente no cenário político, tendo em vista a busca pelo “ter” e pelo “poder”, a única forma que o pós-modernismo apresentará como solução será a ausência de privacidade.

A democracia se estenderá da soberania de eleger para a soberania de fiscalizar. Explique-se: Hoje, já sabemos que os instrumentos tecnológicos e produtos como a Alexa e nossos celulares são capazes de através de algoritmos que se retroalimentam saber tudo de nossas vidas desde que isso esteja no mundo da internet.

Em futuro bem próximo, sob a égide de evitar fraudes, proteção do patrimônio público, e conhecimento de quem é seu empregado realmente, todos, exatamente todos os movimentos nossos serão filmados e todos, exatamente todas nossas comunicações não serão mais privadas, sob o argumento de que “o segredo é mentira”, ou seja, em nome da transparência, teremos dificuldades em exercer nossas próprias vontades pelo avanço da completa ausência de privacidade.

O pensamento será de que apenas a sociedade transparente será capaz de exercer a democracia de modo pleno.

Talvez esse seja até o próprio “slogan” do futuro. No aspecto das relações de trabalho, mas não só, esse futuro próximo é destrutivo, pois irá tirar de forma plena a individualidade, a vontade, ou melhor, arrancará o “eu” e o “ser” das pessoas, seus temores, seus segredos.

Sua rede de amigos monitorada; quantas curtidas ou likes você deu naquele dia; o que efetivamente aprecia nas redes sociais; em quais projetos da empresa você está efetivamente envolvido e todas as discussões; se você tem ido aos eventos da empresa; se gosta do seu superior; se gosta do seu trabalho; sua relação real com os clientes etc.

Sua avaliação será realizada com fundamento nessas informações. Seremos então empregados robôs, tecno-humanos exercendo nosso mister dentro do que os outros querem que sejamos, não sendo o que somos.

Atores “on line” ou atores “na nuvem”. Tudo isso em troca da realização dos sonhos que o trabalho pode nos propiciar. Mas quem tem sonhos e não pode realizá-los sonha para que mesmo?

Aguardemos as cenas do próximo capítulo.

* Ricardo Pereira de Freitas Guimarães é advogado, especialista, mestre e doutor pela PUC-SP.

Fonte: Ex-Libris Comunicação Integrada



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