Mais importante que o “impeachment”
Mais importante que o “impeachment”
Vivemos o presidencialismo de conveniências, onde os aliados são atraídos com benesses, cargos e poder.
Observa-se no horizonte da política nacional, a revitalização da tese do afastamento da presidente da República. As votações no Congresso Nacional têm traduzido a falta de apoio ao governo ate por consideráveis parcelas dos parlamentares filiados ao seu próprio partido. Os aliados, então, circulam arredios e fragmentados, numa demonstração de que a aliança estabelecida é mais de conveniências do que de política ou ideologia.
O PMDB, grande aliado e partido do vice-presidente da República, é o maior foco de tensões, pois também abriga em suas hostes os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal que, eleitos contra a vontade do governo, atuam de forma independente e, pelo menos um deles, defende abertamente o rompimento do partido com o governo. Agora, vemos o PSDB, maior partido da oposição, advogando explicitamente o afastamento da presidente e a realização de eleições antecipadas.
Jovem nos anos 60, tive a oportunidade de acompanhar a crise que envolveu a posse e a queda de João Goulart, entre 1961 e 64. Reservadas as diferenças de contexto e época, temos hoje uma situação parecida. De um lado um governo acuado por denúncias, lutando para se manter em pé e reconquistar a confiança da população; e de outro as oposições, cada dia mais ampliadas, pregando o “impeachment”. Como coadjuvante, a crise econômica que tende a se agravar em função da instabilidade.
A essa altura dos acontecimentos, não chega a fazer franca diferença a opção de manter ou destituir o governo. Mais importante do que nomes e agremiações partidárias no poder é encontrar um meio de solução à crise política, institucional e econômica. Não podemos continuar indefinidamente sob a hipótese de afastar ou não afastar a presidente da República, pois essa indefinição pára o país e serve para agravar ainda mais a crise. Os brasileiros precisam de um governo que efetivamente o governe e de um Congresso e partidos políticos que cumpram com suas obrigações de fiscalizar e encaminhar a vida política nacional.
Vivemos o presidencialismo de conveniências, onde os aliados são atraídos com benesses, cargos e poder. Agora, durante a crise, como não há mais o que arrecadar, podem estar tentando mudar para restabelecer o círculo de interesse. Talvez seja a hora de pensar no parlamentarismo, donde o governo sai de dentro do próprio Congresso e é derrubado se não estiver dando certo.
Os brasileiros ficarão muito gratos se, independente de quem esteja no governo, se encontre o caminho de volta à normalidade econômica, institucional e moral. Os atores dessa grave encenação precisam ter coragem e grandeza para tomar as decisões que atendam aos interesses da Nação e não aos de seus próprios umbigos. A incerteza e a provisoriedade que hoje nos atropelam e potencializam a crise, têm de acabar...
* Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves - dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)