Manifestações e movimento da sustentabilidade
Manifestações e movimento da sustentabilidade
As férias escolares começaram e parece que diminuíram as manifestações estudantis.
O título “O gigante acordou” foi divulgado em todas as redes sociais e estudantes de todo o país foram mobilizadores de avatares da internet, que depois se tornaram reais nas ruas de várias capitais do país e de cidades do interior. Foi uma festa da democracia com cartazes e frases criativas, além de muita música e refrãos que esta geração ainda não tinha entoado.
O estopim dos 20 centavos ficou registrado para a história do Brasil nos quais os meus filhos com certeza estudarão daqui a cinco ou 10 anos nos livros ou websites sobre o tema. Agora os movimentos dos trabalhadores, os vários movimentos de classes, de profissões e afins começam também a buscar as suas demandas antes reprimidas e compradas por cargos políticos e trocas de favores. A ideia deste texto não é analisar o movimento, mas a ligação com alguns temas da sustentabilidade.
Os poderes legislativo e executivo começam a correr atrás do prejuízo para aumentar a sua popularidade em um ano pré-eleição, que terá um ponto de distração no meio, a Copa do Mundo no nosso país do futebol. Neste cenário de rejeições, liberdades e saudosismo, muitos amigos e amigas das áreas de sustentabilidade e das ONGs também foram para as ruas. De acordo com as idades, foram acompanhados pelos seus filhos, ou então acompanhá-los.
Este movimento é fundamental para o avanço das demandas debatidas pelos profissionais, ONGs e empresas que estão trabalhando pelo desenvolvimento sustentável. Um exemplo foram os questionamentos sobre os investimentos para a Copa e toda a gestão destes recursos. Neste assunto o Instituto Ethos já vem com uma iniciativa lançada em dezembro de 2010, que é o projeto Jogos Limpos1, com apoio da Siemens Integrity Initiative. A ideia do projeto é aproveitar as oportunidades destes megaeventos no país para ampliar a transparência dos investimentos governamentais, crescer a integridade nas relações público-privadas e aprimorar o controle social.
O projeto possui uma série de comitês: o Comitê Nacional de Coordenação e Mobilização, dois Comitês Nacionais Temáticos e 12 Comitês Locais, um em cada cidade-sede da Copa do Mundo de 2014. Os comitês nacionais temáticos são: Comitê Jurídico; Comitê de Empresas e Investidores. Com estes vários grupos o projeto pretende mobilizar todos os setores da sociedade em busca de uma maior transparência. Acredito sim que há muita convergência entre estes movimentos de ruas e o que muitas ONGs e empresas já estão realizando dentro da tal sustentabilidade, mesmo sem uma grande escala e muitas vezes em parceria com algumas “partes” do governo.
O que falta é que toda a energia destes movimentos de rua seja canalizada também até o final do processo. O estopim foi aceso, mas até as transformações acontecerem, talvez seja fundamental acendê-lo novamente, costurar mais barbante ou ainda colocar a mão na massa e realmente fazer algo. Mesmo porque, fazer movimentações é mais fácil do que mudar comportamento e maneiras de pensar.
Vi alguns posts bem interessantes nas redes sociais, inclusive uma delas mostrava exatamente isso, ou seja, comentava algo como depois do gigante acordar, agora é preciso que cada um de nós tomemos algumas atitudes como: parar de jogar lixo na rua, pagar os impostos direito, para de dar “jeitinho” para tudo, não furar o farol vermelho, não parar em cima da faixa de pedestres, não ficar competindo com o carro do lado, começar a reciclar o lixo de casa, e a lista ia sem fim. Mostrava bem alguns perfis do nosso povo.
Realmente os valores e atitudes das pessoas também precisam mudar, para que este lindo movimento que fizemos possas ter consistência e que não seja apenas 20 centavos. E sim que sejam muitos centavos e benefícios duradouros para esta e para as próximas gerações.
*Marcus Nakagawa é sócio-diretor da iSetor- gestão integrada; professor da ESPM; e diretor-presidente da Abraps – Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade.