Médicos, farmacêuticos e… curandeiros
Médicos, farmacêuticos e… curandeiros
O programa Mais Médicos – que trouxe profissionais do exterior para atuar em áreas onde os nacionais se recusam a trabalhar – ainda gera polêmicas e, para espanto da população, já surge outra briga na área da saúde.
Os farmacêuticos agora são autorizados a prescrever medicamentos que não exijam receita médica. A medida provoca a reação dos médicos, que lembram ser sua exclusividade profissional a realização do diagnóstico e da prescrição.
Os farmacêuticos argumentam já executar informalmente a atividade agora oficializada, e os médicos rebatem que, com isso, podem mascarar a doença, retardar o diagnóstico e piorar o estado de saúde do paciente. Infelizmente, o nosso país vive ao sabor dos interesses de classes e segmentos. Anos atrás, as farmácias foram impedidas de medir a pressão, de vender produtos alimentícios e de outras prestações de serviços. Algo compreensível e justo numa sociedade verdadeiramente organizada, onde cada segmento cumpre fielmente sua missão, sob rigorosa fiscalização dos órgãos reguladores.
Mas, da forma que se faz por aqui, onde “quem pode mais chora menos”, assistimos à sórdida briga de interesses, sem a mínima preocupação com o doente, que deveria ser o ator principal desse filme. A megalomania dos governos criou o SUS, conhecido como “o maior sistema de saúde pública do mundo”. Melhor seria que não fosse o maior do mundo, mas atendesse regularmente a todos que o procuram. Para isso, além de criar o serviço, deveriam tê-lo fiscalizado permanentemente.
Na questão da exclusividade de diagnóstico de doenças e prescrição de medicamentos, é inquestionável ser isso tarefa do médico. Mas, na falta do médico, o que fazer? Deixar o paciente sofrer e perecer por uma reserva de mercado, por um capricho ou até pelo interesse mercantil? Lógico que não! Governantes, parlamentares, sonhadores e loucos que viveram o doce exílio no primeiro mundo ou aqueles que por lá passam e tomam conhecimento de fórmulas revolucionárias, não podem se esquecer que, naqueles lugares, existem muitas outras coisas em funcionamento para garantir os sistemas e métodos revolucionários.
Sem a “infra-estrutura”, nada feito. Temos muitos exemplos desastrosos de métodos “importados” na saúde, na educação e em outros serviços públicos. Não podemos nos esquecer de que, principalmente na saúde, apesar de possuirmos centros de excelência (para poucos), ainda convivemos com a empírica realidade dos curandeiros, benzedores, parteiras, aparadeiras e outros que, bem ou mal, socorrem o povo na hora da dor. Para substituí-los há de se garantir a efetiva prestação dos serviços. No dia que todos tiverem acesso fácil ao médico, o farmacêutico e os curiosos não mais precisarão “receitar” medicamento...
*Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves - dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).