“Os bem-comportados podem sair”
“Os bem-comportados podem sair”
Havia na empresa onde trabalhei quase quarenta anos, o costume, enraizado na tradição, de não abandonar o local de trabalho, sem o chefe do departamento, dizer: “Podem sair!”
Ora, após a “Revolução dos Cravos”, muitos camaradas, confundindo liberdade com falta de educação, logo que os ponteiros do relógio indicavam a hora da saída, vestiam os casacos e debandavam, sem aguardarem a tradicional ordem.
Desconheço o que se passava noutros departamentos, no meu, o chefe – que gostava de falar bonito, – vendo a balbúrdia e sentindo-se inerme, passou a dizer no final do serviço: “Os bem-comportados podem sair…”
Passaram-se mais de quarenta anos, hoje, ao ver: carros estacionados nos passeios, peões e automobilistas a desrespeitarem semáforos e desrespeitos constantes às autoridades, fico a cogitar, de mim para mim: as leis, os deveres, são só para os: “bem-comportados”.
Quem é cumpridor, leal e respeitador é taxado, normalmente, por lorpa. Como se ser educado, cumpridor e respeitador, fosse defeito. Defeito que pode levar os íntegros a Rilhafoles.
Estando a conversar com amigo sobre o assunto, este saiu-se com boa: na sua firma há trabalhadores respeitadores e honestos, mas também serelepes provocadores, que geram conflitos e desestabilizam.
Estes, raras vezes são repreendidos, nem sofrem processos disciplinares. Todavia, quando o respeitador realiza infração, é-lhe aplicado castigo severo.
Perguntei-lhe atónito: Por que não lhe relevam a falta? Mas fiquei varado ao escutar: - “Dizem que é para servir de exemplo para os indisciplinados!…”
Conclui-se: nos tempos que correm, ser bom, obediente e educado, não só passou de moda, como passou a ser defeito crasso. Assim caminha o mundo, com sociedade que inverteu valores.
* Humberto Pinho da Silva