Seleção natural no mercado?
Seleção natural no mercado?
Charles Darwin afirmou, em um trecho do livro “A Origem das Espécies”, que a seleção natural procura a cada dia e momento, em todo lugar, as mais tênues variações, rejeitando as nocivas, conservando e ampliando todas as que forem úteis.
Tão imperfeita é a nossa visão das remotas idades geológicas, que só conseguimos ver que as formas orgânicas são agora diferentes do que foram em outras eras. Certamente esse foi um dos trechos da teoria darwiniana em que o economista inglês Thornstein Vebler se apoiou para erigir o seu conceito de “relação natural das organizações”.A mesma linha de pensamento é perfilhada por Hogdson, em busca de dados sobre a capacidade de adaptação de empresas aos momentos de adversidade. “Somos capazes de provar, por nossa observação”, afirma o professor, que há muitos anos registra a rotina empresarial, “que é mais importante a capacidade de adaptação de uma empresa às mudanças no mundo do que o lucro final”.
Em abono ao seu ponto de vista, ele lembra que as crises econômicas continuam a levar de roldão muitas pequenas empresas, o que não acontece com as de grande porte. Embora lamente o fato, ele ficou otimista com o ressurgimento das teorias do economista John Maynard Keynes, especialmente no gerenciamento de investimentos públicos e, de modo especial, no aumento de ativação do Estado em programas sociais e em obras públicas. Chegou mesmo a garantir que o fato de o Brasil não ter sofrido mais seriamente o impacto da crise econômica de 2009 deveu-se às boas políticas de desenvolvimento adotadas pelo país.
Qual é a idéia de Hogdson? Sem dúvida, é a de que as crises do capitalismo “podem dar origem a uma economia com mais valores”. E ele acrescentou à sua argumentação: “com a biologia, é possível aprender que enquanto a competição nunca deixará de existir, há grande quantidade de cooperação ocorrendo. Isso é verdade na natureza e na sociedade”.
Afirma o autor do artigo que países e empresas cooperam há anos. “Ao utilizar a teoria de Darwin, não se pode valorizar apenas o aspecto da competição expresso na ideia da seleção natural”. O naturalista inglês nunca deixou de reconhecer uma parcela de cooperação no processo evolucionário das espécies.
Seria, de fato, estranho, que a evolução não se aplicasse aos fenômenos da Economia e do Direito que, evidentemente não permanecem os mesmos depois que ocorrem mudanças significativas no contexto de uma sociedade. Servem de exemplo ao que estamos afirmando – e tivemos a oportunidade de também o fazer na Sala da Congregação da Faculdade de Direito da UFMG, no dia em que ali se homenageou a memória do professor Washington Peluso Albino de Souza, pioneiro do Direito Econômico no Brasil – os fatos que marcaram a intervenção do Estado no domínio econômico, no Brasil e no mundo.