Senso de Justiça: conquista da maturidade
Senso de Justiça: conquista da maturidade
Foi divulgado por um órgão de grande circulação na imprensa do país que bebês com quinze meses de idade possuem comprovadamente um senso de justiça rudimentar.
A notícia, comenta o articulista Hélio Schvartsman, da Folha de S. Paulo, “fornece mais um dado aos pesquisadores empenhados em criar uma nova ciência a da moral”. Informações como essa provocam pelo menos duas reações: a primeira, de incredulidade, a segunda, de perplexidade. Ora, é sabido que comportamento das crianças é objeto de estudos permanentes por parte de psicólogos que, nos últimos anos, passaram a conhecer melhor o psiquismo infantil.
Mas a afirmação de que bebês com pouco mais de um ano de idade são portadores de um senso de justiça, ainda que rudimentar, é difícil de ser acolhida em primeiro momento, a menos que os autores da informação apresentem argumentos irrespondíveis em abono de sua tese. Pessoas que lidam com crianças e acompanham o seu desenvolvimento – principalmente os pais, as babás e os médicos, percebem a evolução do psiquismo infantil no dia-a-dia, ao observarem os gestos, os olhares os balbucios e as tentativas de comunicação entre os bebês e as pessoas a sua volta.
Percebem que elas são capazes de fazer julgamentos simples e desenvolver uma afinidade maior com os mais próximos, como os pais, os irmãos e as babás, por exemplo. São também capazes de identificar quem eventualmente, as trata mal, reagindo com o choro ou com a rejeição. Mas fazer julgamentos abstratos, ainda que em escala rudimentar, parece-nos algo muito polêmico, ressalvado o pensamento dos especialistas na matéria.
Parece-nos que a percepção do que é justo ou injusto, em um primeiro momento, deve estar ligada à elaboração cultural que depende de fatores como a índole, os costumes, os valores, as práticas, a ideologia, as circunstâncias históricas, etc. Esses pontos constituem o alicerce sobre o qual se constroem valores que, acolhidos por uma comunidade ou um povo, acabam por transformar-se em leis de obrigatória observância pelas pessoas a elas submetidas.
É o que ocorre com penalidades de diversa natureza, que variam de um país para o outro, como a da escravidão ou a da pena de morte. Deste modo, o entendimento do que é justo ou não refoge à valoração pessoal, para erijir-se em padrões informados por valores escolhidos por uma comunidade ou pela população de um país, de acordo com a sua história, costumes, visão de mundo, etc.
Trata-se evidentemente de um tipo de realização e escolha fora do alcance de seres ainda em formação, o que nos leva a colocar em dúvida as conclusões a que chegou o autor da matéria, a menos que ele apresente novos e robustos argumentos para comprovar o que afirmou.