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Tempo da delicadeza

Tempo da delicadeza

28/03/2021 Daniel Medeiros

Na bela canção de Cristóvão Bastos e Chico Buarque, o personagem vive o fim do amor e a possibilidade do reencontro.

A letra diz: “prometo te querer, até o amor cair, doente.” E, ainda a tempo de evitar uma fratura permanente, anuncia: “depois de te perder, te encontro, com certeza, talvez num tempo da delicadeza”.

Acordo a cada dia nesses últimos tempos e olho para todos os cantos e percebo que estou perdendo a capacidade de imaginar um tempo assim, encantado. Isso me enche de tristeza e tenho dificuldade de viver envolvido por esse sentimento.

No trânsito, na fila do supermercado, na farmácia, na calçada enquanto caminho na volta do trabalho, no pedido de informação, na conversa com os parentes e, soberanamente, nas redes sociais, vivemos muitos de nós como nos reinos dos desenhos animados, depois que a princesa é enfeitiçada e a bruxa passa a mandar em tudo.

O céu está permanentemente plúmbeo, as árvores ressequidas - com galhos em forma de braços enrugados que terminam em garras sem folhas e sem frutos - o solo árido, sem cantos dos pássaros ou movimento dos animais na mata. Só desolação e medo. 

Até as noites não escapam desse ambiente de amor doente. Como um personagem kafkiano, tenho constantes sonhos inquietos e acordo pasmado com o cenário sem matizes do cotidiano que se impôs às nossas vidas.

Estamos mergulhados no loop infinito dos noticiários, dos discursos dos motoristas de uber, das mensagens do grupo da pescaria, sempre tão estúpidas, tão caricatas, que chego a pensar que houve um sequestro cognitivo generalizado na humanidade.

Seria uma explicação consoladora. Mas é só um tempo que drenou e tirou do nosso corpo todo o sentimento. O que ficou foi uma espécie de borra, um resto azedo da nossa sensibilidade, um sinal de incêndio mandando-nos agir rapidamente para não sucumbir de vez.

Então respiro. Conto os sobreviventes de meu exército dizimado. Olho-me no espelho e busco não me assustar com as marcas que não sairão mais.

Ensaio gestos leves, cruzo minhas mãos, aperto-as e tento sentir de novo o frêmito de um contato amigável, caloroso. É preciso recuperar embaixo dos trapos sujos a lembrança dos momentos de encher os olhos.

Depois é necessário reaprender as palavras naquele tom de quem traz uma boa nova. De quem compra um presente sem data ou sem motivo e entrega pelo prazer da surpresa e do sorriso do Outro.

Hannah Arendt ensina que há apenas duas formas de superar a imprevisibilidade da vida. Para modificar o passado, o perdão, que é a decisão de fechar a torneira da dor diária provocada por um erro.

Para modificar o futuro, a promessa, que é uma jura de presença em um tempo ermo e fugaz. Tanto para uma atitude quanto para a outra é exigida puma dose de humanidade que é preciso coletar aos poucos, pois não é produto abundante.

E quando reúne a quantidade exigida, é preciso juntar uma outra dose de ampla generosidade para gastá-la com quem foi responsável por um passado torpe ou uma dose de coragem para gastá-la com a pessoa que desperta esse desejo de um encontro futuro.

Esse é o antídoto para a tristeza desses tempos, embora frágil e incerto. É a chance de sair do labirinto soturno e voltarmos a ver algum verde no campo, alguma fruta na árvore, cantos na floresta, sorrisos no espelho, abraços nas esquinas, beijos na boca, juras de amor e de amizade.

Apenas com esse exercício da nossa humanidade somos capaz de encontrar, “no último momento, um tempo que refaz o que desfez”. E vivê-lo com mais delicadeza.

* Daniel Medeiros é doutor em Educação Histórica e professor no Curso Positivo.

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Fonte: Central Press



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