Trump, Brexit, Dória, Venezuela e Le Pen
Trump, Brexit, Dória, Venezuela e Le Pen
É curioso observar a guinada à direita que vem sendo dada em todo o cenário político mundial.
No final da tarde de 23 de abril, os jornais de todo o mundo noticiaram o resultado do primeiro turno das eleições francesas: Marine Le Pen e Emmanuel Macron disputarão no próximo dia 7 de maio o segundo turno pela presidência da França e, de acordo com alguns jornais, o destino da Europa.
Pela primeira vez desde a reforma constitucional de 1958, os partidos Socialista e Republicano ficaram de fora da disputa pelo pleito presidencial francês. Tão logo os resultados foram divulgados, o jovem centrista Macron, de apenas 39 anos, recebeu apoio de candidatos derrotados, em uma clara tentativa de se formar uma “frente republicana”, coalisão de esquerda, centro e direita versus a extrema-direita que Marine Le Pen e a Frente Nacional – fundada por seu pai, Jean Marie Le Pen – representam, classe política acusada de xenofobia e protecionismo.
Le Pen viabiliza sua chegada ao poder ao criticar o atual governo e mostrar caminhos que levam ao lado oposto: o nacionalismo econômico; a proposta batizada de “Frexit”: um referendo que poderia levar a França a abandonar a União Europeia e a zona do Euro, a exemplo do que aconteceu na Inglaterra; a repressão ao que chama de “perigos islâmicos”.
Dos possíveis desdobramentos das propostas de Le Pen, dizem os especialistas, está o fim da União Europeia. É no mínimo curioso observar a guinada à direita que vem sendo dada em todo o cenário político mundial.
Donald Trump, presidente americano com pouco mais de 100 dias de governo já parece ter mostrado, com clareza suficiente, sua plataforma de governo: nacionalista, cujo discurso a todo momento promete “devolver o poder ao povo”, clara menção à dicotomia nós versus eles, como se o governo anterior tivesse usurpado os americanos, enfraquecido a hegemonia americana e, por isso, é dele a responsabilidade de fazer com que os Estados Unidos assumam novamente seu lugar no cenário internacional – “Make America great again”, vem repetindo ele à exaustão desde sua campanha.
Na Venezuela, o sonho socialista parece naufragar em um país carente de tudo: após o povo eleger representantes oposicionistas ao governo, Nicolás Maduro – o sucessor de Hugo Chávez, tentou manipular o Supremo Tribunal Federal a dissolver o Congresso e o que se viu foi uma sequência de acontecimentos que levaram o país à beira do caos. Não fosse a pressão exercida pela comunidade internacional, tal medida não teria sido revertida.
A repressão à livre manifestação e a violência nas ruas da Venezuela, de certa forma, são ingredientes já esperados na receita explosiva que contém, ainda: confisco de propriedade privada de multinacionais como a GM, carência de medicamentos, comida e produtos de higiene pessoal. Com milhares de manifestantes indo às ruas de Caracas, pouco a pouco a resistência da cidade dividida vai cedendo, ainda que tal conquista já tenha custado a vida de pelo menos 20 jovens nas últimas semanas.
Caracas não tem e nunca teve um muro com o de Berlim, mas a divisão entre a “cidade leste” e a “cidade oeste” foi até bem pouco tempo preservada pela força policial, que por fim, acabou cedendo à força do povo. A escassez de produtos que compõem o rol mínimo para a sobrevivência digna ainda é uma realidade.
Os residentes na fronteira entre Venezuela e Colômbia conseguem, de tempos em tempos, com a abertura da fronteira por algumas horas, abastecer minimamente suas casas, privilégio de uma minoria geograficamente favorecida.
Em todos os casos até aqui citados, o povo vem tentando, por meio do voto, renovar os governos, deixando as propostas mais à esquerda do espectro político para trás: nos Estados Unidos, elegeram Trump, em oposição às políticas de Obama; na França, o segundo turno entre um candidato liberal e um nacionalista revela que o povo francês quer renovação e, na Venezuela, as urnas deram o recado, ainda que o governo tenha buscado manobras para reverter isso.
No Brasil, em meio à avalanche de denúncias e processos contra políticos presentes no cenário do poder desde sempre, quem vem se destacando é o prefeito que refuta o rótulo de político e se autodenomina gestor: João Dória Jr.
O empresário eleito com 55% dos votos para governar a maior cidade – e o maior orçamento municipal do país, vem se destacando pelos seus feitos, e por todo o marketing que os enaltece: os primeiros 100 dias de gestão foram marcados pelo sucesso de projetos como “São Paulo Cidade Limpa”, “Corujão da Saúde” e as parcerias entre poder público e iniciativa privada.
Recentemente cotado pela imprensa como possível candidato ao Planalto, Dória pode vir a ser o Macron brasileiro nas eleições de 2018: a alternativa tupiniquim à renovação, deixando para trás caciques que chafurdam na lama da corrupção, não permitindo na Terra Brasilis a ascensão de uma extrema direita.
* João Paulo Vani é presidente da Academia Brasileira de Escritores.