Portal O Debate
Grupo WhatsApp

Um Bravo Santana no Meio do Dilúvio

Um Bravo Santana no Meio do Dilúvio

11/12/2009 Fábio P. Doyle

Crônica quase amena de mais um temporal dezembrino numa avenida que se transformou em rio de lama.

O CÉU (seria mesmo céu?) estava escuro, cada vez mais denso na negritude de núvens ameaçadoras. Voltei ao meu Santana, bravo, valente e velho companheiro de tantas guerras, virei a chave, e procurei fugir da tempestade que se avizinhava.

NÃO adiantou a pressa. No meio do caminho o aguaceiro me pegou em cheio, e não apenas a mim, mas a todos os demais que, ao meu lado, ou em direções opostas, tentavam escapar. Ao entrar na Amazonas, lá pelos lados da Gameleira, já não se conseguia enxergar nada. Água escura e vento forte, as gotas grossas, mais que gotas, jatos vindos de cima e dos lados, batiam nos vidros, faziam o carro balançar. A sinalização precária nas pistas, sobre o asfalto corroido e esburacado, praticamente não se fazia perceber pelo motorista, pelos motoristas que como eu enfrentavam o temporal dezembrino. Liguei o sistema de alarme luminoso, acendi todos os faróis possíveis, fechei os vidros, e fui em frente, devagar, lentamente, no meio da avenida transformada em um rio de águas violentas e enlameadas, para evitar a enxurrada que descia por ela, carregando tudo o que encontrava solto na pista, nos passeios, formando fontes verticais de água suja junto dos postes, das árvores, dos carros estacionados nas calçadas.

 

O PIOR estava ainda por vir. As partes baixas da Amazonas transformaram-se em lagos, em lagoas, em represas. Alguns se aventuravam, eu entre eles, confiante no velho, valente e bravo Santana. Outros, com carros mais baixos, não se moviam, engarrafando o fluxo, impedindo a aventura dos que ousavam enfrentar os baixios alagados. Os ônibus, elefantes sobre muitas rodas, demonstravam o prazer sádico dos seus motoristas, atravessando as lagoas formadas pela chuva em velocidade criminosa, jogando sobre os que estavam por perto, nos vidros embaçados, água marronzada, enlameada, vedando a já mínima visibilidade.

FORAM, assim, do mesmo jeito, na mesma agonia sofrida, minutos intermináveis. Afinal, chegando à avenida do Contorno, livre dos alagados pela sua posição altaneira, o fim do drama. A chuva já amainara. E o portão da minha garagem, e meu refúgio, já podia ser visto, à esquerda, gloriosamente azul e intacto.

NO CAMINHO, no longo e perigoso caminho percorrido, me lembrei de São Paulo. Quantas pessoas morreram lá nas chuvas de terça-feira? Quantas terão morrido, ou perdido suas casas, com o nosso quase dilúvio de quarta? Por que os governos municipais permitem construções em áreas de risco? Por que não realizam obras que evitem os alagamentos e as enxurradas, como a que enfrentei na Amazonas? Por que gastam tantos recursos, nossos recursos, pois nós é que bancamos suas contas, em obras suntuárias, adiáveis, desnecessárias? 

FOI um temporal dezembrino. Outros virão.Os jornais darão manchetes. Os governantes anunciarão medidas emergenciais. raramente executadas depois do perigo esquecido. E senhores dirigindo valentes, bravos e velhos Santanas, enfrentarão os riscos, alguns escaparão, e tudo acabará em uma crônica quase amena.

* Fábio P. Doyle, jornalista e membro da Academia Mineira de Letras

 



A medicina é para os humanos

O grande médico e pintor português Abel Salazar, que viveu entre 1889 e 1946, dizia que “o médico que só sabe de medicina, nem de medicina sabe”.

Autor: Felipe Villaça


Dia de Ogum, sincretismo religioso e a resistência da umbanda no Brasil

Os Orixás ocupam um lugar central na espiritualidade umbandista, reverenciados e cultuados de forma a manter viva a conexão com as divindades africanas, além de representar forças da natureza e aspectos da vida humana.

Autor: Marlidia Teixeira e Alan Kardec Marques


O legado de Mário Covas ainda vive entre nós

Neste domingo, dia 21 de abril, Mário Covas completaria 94 anos de vida. Relembrar sua vida é resgatar uma parte importante de nossa história.

Autor: Wilson Pedroso


Elon Musk, liberdade de expressão x TSE e STF

Recentemente, o ministro Gilmar Mendes, renomado constitucionalista e decano do Supremo Tribunal Federal, ao se manifestar sobre os 10 anos da operação Lava-jato, consignou “Acho que a Lava Jato fez um enorme mal às instituições.”

Autor: Bady Curi Neto


Senado e STF colidem sobre descriminalizar a maconha

O Senado aprovou, em dois turnos, a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) das Drogas, que classifica como crime a compra, guarda ou porte de entorpecentes.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


As histórias que o padre conta

“Até a metade vai parecer que irá dar errado, mas depois dá certo!”

Autor: Dimas Künsch


Vulnerabilidades masculinas: o tema proibido

É desafiador para mim escrever sobre este tema, já que sou um gênero feminino ainda que com certa energia masculina dentro de mim, aliás como todos os seres, que tem ambas as energias dentro de si, feminina e masculina.

Autor: Viviane Gago


Entre o barril de petróleo e o de pólvora

O mundo começou a semana preocupado com o Oriente Médio.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


Nome comum pode ser bom, mas às vezes complica!

O nosso nome, primeira terceirização que fazemos na vida, é uma escolha que pode trazer as consequências mais diversas.

Autor: Antônio Marcos Ferreira


A Cilada do Narcisista

Nelson Rodrigues descrevia em suas crônicas as pessoas enamoradas de si mesmas com o termo: “Ele está em furioso enamoramento de si mesmo”.

Autor: Marco Antonio Spinelli


Brasil, amado pelo povo e dividido pelos governantes

As autoridades vivem bem protegidas, enquanto o restante da população sofre os efeitos da insegurança urbana.

Autor: Samuel Hanan


Custos da saúde aumentam e não existe uma perspectiva que possa diminuir

Recente levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indica que os brasileiros estão gastando menos com serviços de saúde privada, como consultas e planos de saúde, mas desembolsando mais com medicamentos.

Autor: Mara Machado