Boas rodovias também salvam vidas
Boas rodovias também salvam vidas
Somente nas rodovias federais em 2020, ocorreram 63.447 acidentes, com 5.287 óbitos.
Os danos causados pela precariedade das estradas são imensos no Brasil, abrangendo a perda de vidas em acidentes, prejuízos econômicos e impactos negativos no turismo doméstico. E a situação tem piorado, conforme demonstra a 23ª edição da Pesquisa de Rodovias da Confederação Nacional do Transporte (CNT) e do Sest Senat. O estudo, referente a 2019, constatou problemas em 59% da extensão dos trechos avaliados, ante 57%, em 2018, incluindo o pavimento, sinalização a geometria das vias.
Outro levantamento revela que, somente nas rodovias federais em 2020, ocorreram 63.447 acidentes, com 5.287 óbitos. Apesar da redução de 5,9% em relação ao ano anterior, é um número que segue muito elevado. Em 2020, registraram-se 14 mortes por dia. Esses dados constam do Painel CNT de Consultas Dinâmicas de Acidentes Rodoviários.
Outro problema é demonstrado em trabalho da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), feito em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq): o Brasil perde 0,13%, 0,17% e 0,10%, respectivamente, de todo o arroz, trigo e milho transportados pelas estradas até os portos de embarque para exportação. A principal causa desse desperdício de alimentos é a precariedade das vias.
A solução desse gargalo nos transportes parece ainda distante, embora seja prioritária, pois está incluída no déficit geral da infraestrutura, para a qual faltam recursos, fator agravado na pandemia da Covid-19. A Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) estima que sejam necessários investimentos anuais de aproximadamente 4,5% do PIB, durante uma década, para se promover a modernização e adequação do setor à demanda nacional. Hoje, esse aporte de capital está em torno de 1,9% do PIB.
Mais grave do que os empreendimentos por fazer é o fato de haver numerosos paralisados e inúmeros projetos que sequer saíram do papel. O Tribunal de Contas da União (TCU) analisou, no final de 2019, mais de 30 mil obras públicas financiadas com recursos federais, incluindo estradas. Mais de 30% foram consideradas paradas ou inacabadas, correspondendo a quase 20% do investimento previsto. Além dos prejuízos e perda de recursos do erário, ainda se deixa de atender os setores produtivos e a sociedade.
Um exemplo de empreendimento muito importante, cujos projetos têm sido há muito protelados, refere-se à duplicação da rodovia "Doutor Manuel Hipólito Rego" (SP-55), o trecho paulista da Rio-Santos, administrado pelo Departamento Estadual de Estradas de Rodagem de São Paulo (DER). A via começa no entroncamento com a Cônego Domênico Rangoni (Piaçaguera-Guarujá) e cruza com a Mogi-Bertioga, a Rodovia dos Tamoios e a Oswaldo Cruz, já em Ubatuba. Atende, portanto, todo o Litoral Norte do Estado e apresenta especial significado logístico e de transporte de passageiros e cargas, pois tem conexões com o Porto de Santos e as industrializadas regiões do Vale do Paraíba e Cubatão, além de ser importante rota turística.
Em outubro de 2019, abriram-se novas perspectivas para a realização da obra. Na ocasião, a Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp) apresentou projeto de concessão internacional do Lote de Rodovias do Litoral Paulista, durante audiência pública realizada em Mogi das Cruzes. O plano prevê investimentos de R$ 3 bilhões em obras civis, além de R$ 2,8 bilhões para a operação e implantação de modernos serviços em trechos das rodovias SP-98 (Mogi-Bertioga), da SP-88 (Pedro Eroles) e da SP-55. Ao todo, estão previstos 89,8 quilômetros de duplicações, 108,5 de vias marginais e 35,6 de ciclovias, além de novos dispositivos de acesso, retorno e implantação de acostamentos.
Desde então, infelizmente, o projeto não avançou, talvez atropelado pela eclosão da pandemia. Esperemos, porém, que possa ser efetivado, pois é de grande importância para a economia, o turismo, a infraestrutura, a logística, o sistema de transportes e para salvar vidas.
* Luiz Augusto Pereira de Almeida é diretor da Sobloco Construtora e membro do Conselho Consultivo do SECOVI.
Fonte: Ricardo Viveiros & Associados Oficina de Comunicação