Portal O Debate
Grupo WhatsApp

À deriva

À deriva

26/04/2020 Daniel Medeiros

A sensação de ficar sem ajuda é, primeiramente, claustrofóbica. Tudo começa com uma incredulidade, um espanto com aquela nova situação.

Você diz pra si mesmo: não, não é possível. É lógico que eu vou encontrar alguém pra me ajudar.

Tenho vários amigos, eles vão compreender a minha situação, amigo é para essas coisas. Uma mão lava a outra e, afinal, é uma coisa passageira, em dois ou três meses eu que vou estar emprestando pra eles.

Quando passa essa fase - e ninguém que você esperava ajudou - vem a raiva, uma raiva profunda contra todos.

Daí você diz, ou pensa, pra poder dizer mais alto: “gente mesquinha, um dia vai acontecer com eles e aí quero estar de camarote pra ver a cara deles; gente covarde, nem pra vir me falar, manda o filho dizer que não está, desliga o telefone, inventa desculpas e depois sai com a família no carrão pra jantar fora. Nunca mais quero falar com eles. Não preciso dessas falsas amizades”.

Nesse momento, sem aviso ou convite, vem o desespero. É a parte mais asfixiante. Você já gastou a reserva de emergência, o gás tá no fim, as crianças pedem isso e aquilo, a prestação da escola já venceu há dez dias, o condomínio, a luz.

Você se olha no espelho e pergunta: e agora? Toma banho, põe a melhor roupa e vai atrás de um fiapo de esperança que é uma indicação de um conhecido de um conhecido de um cara que precisa de alguém para um serviço rápido, quem sabe.

Mas você sabe que não tem a qualificação para esse serviço, vai lá para se humilhar e pedir uma chance. No fim da tarde você volta e sabe que amanhã não haverá mais nada.

É hora de começar a vender por qualquer preço tudo o que tem e pagar as contas e ganhar um respiro. A vida, definitivamente, deixa de ser a mesma. Você vai ter de queimar sua caixa de ferramentas para aquecer a noite e amanhã, bom, amanhã seja o que for.

Nesse estágio, começa um enrijecimento na percepção das coisas. É como se a alma ficasse cinzenta e invadisse com essa cor toda a forma de vida.

Você ainda anda, come, fala, mas há uma perda definitiva de substância afetiva, esperançosa. Você não crê que isso seja mais possível.

Agora, o contato é só com os aproveitadores, os pulhas, que compram seus bens por um quarto do valor e ainda fazem cara de maria mãe de jesus, e pagam com cheques de terceiros, dizendo: “é o que eu tenho, o cheque é quente, você que sabe, é pegar ou largar”.

E você pega, já pensando que vai dar pelo menos pra manter os meninos na escola por mais um mês antes de tirá-los de lá, o condomínio que se lasque, a prestação do carro, quem sabe dá pra empurrar pra frente, nem que venda por nada.

Na esquina, há um sem teto e agora você olha pra ele com certa simpatia em vez da aversão dos bons tempos.

Também os dois moleques do semáforo, limpando os vidros dos carros e recebendo xingamentos, “vagabundos”, “tirem as mãos do meu carro”, “marginais”, você sente uma certa compaixão.

Aquelas ideias que você adorava, de que quem quer consegue tudo na vida e que você gostava de recitar nos encontros de domingo na frente do seu cunhado pobretão; a máxima de que tudo o que você tem foi com seu esforço e que nunca precisou da ajuda de ninguém que você esfregava na cara do sogro mão de vaca (e que se recusou a ajudar de novo, lembrando da frase), tudo isso agora cai por terra.

Você chega no último estágio da sua transformação, que não tem nome, não tem forma, você nunca sentiu uma sensação como essa.

Você virou aquele que você nunca olhou, nunca ajudou, nunca teve compaixão ou solidariedade. Você agora é somente mais um brasileiro invisível.

* Daniel Medeiros é doutor em Educação Histórica e professor no Curso Positivo.

Fonte: Central Press



Democracia: respeito e proteção também para as minorias

A democracia é um sistema de governo que se baseia na vontade da maioria, mas sua essência vai além disso.

Autor: André Naves


O Brasil enfrenta uma crise ética

O Brasil atravessa uma crise ética. É patente a aceitação e banalização da perda dos valores morais evidenciada pelo comportamento dos governantes e pela anestesia da sociedade, em um péssimo exemplo para as futuras gerações.

Autor: Samuel Hanan


Bandejada especial

Montes Claros é uma cidade de características muito peculiares. Para quem chega de fora para morar lá a primeira surpresa vem com a receptividade do seu povo.

Autor: Antônio Marcos Ferreira


Eleições para vereadores merecem mais atenção

Em anos de eleições municipais, como é o caso de 2024, os cidadãos brasileiros vão às urnas para escolher prefeito, vice-prefeito e vereadores.

Autor: Wilson Pedroso


Para escolher o melhor

Tomar boas decisões em um mundo veloz e competitivo como o de hoje é uma necessidade inegável.

Autor: Janguiê Diniz


A desconstrução do mundo

Quando saí do Brasil para morar no exterior, eu sabia que muita coisa iria mudar: mais uma língua, outros costumes, novas paisagens.

Autor: João Filipe da Mata


Por nova (e justa) distribuição tributária

Do bolo dos impostos arrecadados no País, 68% vão para a União, 24% para os Estados e apenas 18% para os municípios.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


Um debate desastroso e a dúvida Biden

Com a proximidade das eleições presidenciais nos Estados Unidos, marcadas para novembro deste ano, realizou-se, na última semana, o primeiro debate entre os pleiteantes de 2024 à Casa Branca: Donald Trump e Joe Biden.

Autor: João Alfredo Lopes Nyegray


Aquiles e seu calcanhar

O mito do herói grego Aquiles adentrou nosso imaginário e nossa nomenclatura médica: o tendão que se insere em nosso calcanhar foi chamado de tendão de Aquiles em homenagem a esse herói.

Autor: Marco Antonio Spinelli


Falta aos brasileiros a sede de verdade

Sigmund Freud (1856-1939), o famoso psicanalista austríaco, escreveu: “As massas nunca tiveram sede de verdade. Elas querem ilusões e nem sabem viver sem elas”.

Autor: Samuel Hanan


Uma batalha política como a de Caim e Abel

Em meio ao turbilhão global, o caos e a desordem só aumentam, e o Juiz Universal está preparando o lançamento da grande colheita da humanidade.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra


De olho na alta e/ou criação de impostos

Trava-se, no Congresso Nacional, a grande batalha tributária, embutida na reforma que realinhou, deu nova nomenclatura aos impostos e agora busca enquadrar os produtos ao apetite do fisco e do governo.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves