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A saga da companheira Sara: dos seringais ao PT

A saga da companheira Sara: dos seringais ao PT

21/09/2014 Mario Guerreiro

“É preciso ter ultrapassado os limites da estupidez humana e ter dado já os primeiros passos no reino animal para não entender que Marina Silva é apenas o plano B do Foro de São Paulo para exorcizar o perigo Aécio Neves e manter-se no poder sob a aparência de que tudo mudou.” Olavo de Carvalho

Ora, dizemos nós, as coisas têm que mudar para que permaneçam as mesmas, como dizia aquele velho conde siciliano em O Leopardo, de Lampedusa. Nossa saga começa em Xapuri (AC) onde havia uma menina, de uma família de seringueiros, cujo grande sonho era ser freira. Chegou a morar numa casa de noviças, mas nunca fez seus votos como “noiva de Cristo”. Nesta época, ela frequentava uma Comunidade Eclesial de Base, onde recebeu doutrinação de Clodovis Boff, um dos mais destacados prosélitos da Teologia da Libertação, irmão de Genésio Darcy (nome verdadeiro de Leonardo Boff).

Como se sabe, do Cristo da Teologia da Libertação a Marx da ditadura do proletariado, é como do sublime ao ridículo: basta um passo. E foi realmente dado esse passo quando Maria Osmarina Silva entrou para o PRC (Partido Revolucionário Comunista), mas não sem antes se ligar a um bando de artistas de teatro mambembe. Não consta que ela tivesse pegado em armas nem se embrenhado na selva, porque na selva Silva já estava desde os tempos em que sonhava ser freira.

Mas se Limitou a liderar grupos de seringueiros, que protestavam contra o desmatamento desenfreado, lá por volta dos anos 70, e contra as precárias condições de trabalho desses trabalhadores. Desde que adquiriu o nome de guerra Sara, Osmarina se distanciou das Comunidades Eclesiais de Base para se dedicar, quase em tempo integral, ao seu ativismo ecológico, embora na época “ecológico” não constasse de seu vocabulário.

Uma companheira de partido de Osmarina, Júlia Feitosa, declarou: “Acho que teve esse rompimento com a estrutura da Igreja. Mas, com Deus, eu não sei. Depois, ela já começou a se incorporar de novo e, antes de virar evangélica [crente da Assembleia de Deus do bispo Malafaia] ficou bastante religiosa na época em que ficou doente”. (Folha de S. Paulo, 6/9/2014). Quero crer que não há, na declaração acima, nenhum subentendido de que o ateísmo da militância no PCR fez Osmarina se afastar da religião, mas a forte doença a trouxe rapidamente de volta.

De qualquer modo, a moçoila comunista diversificou suas atividades, tendo chegado a entrar para uma trupe de teatro mambembe chamada Grupo Semente. O PCR não era um partido regional acreano, mas sim um partido nacional do qual um dos mais destacados membros era – nada mais, nada menos – José Genoíno, um nome nacional público e notório, que dispensa qualquer apresentação. No plano regional, foram companheiros da Morena da Selva – i.e. Marina Silva – Binho Marques, mais tarde Governador do Acre (2007-2011) e sua inseparável companheira de lutas Júlia Feitosa, assessora da Secretaria de Articulação Institucional do Governo do Acre, decidida e fervorosa militante do PT (Partido dos Trabalhadores ou Perda Total). Júlia Feitosa não é daqueles ex-guerrilheiros hipócritas que costumam dizer que “lutavam contra a ditadura e a favor da democracia”, como está sempre dizendo a companheira Wanda ou Estella (dois dos vários nomes de guerra de Dilma Rousseff).

E tanto é assim que Júlia declarou: “O PRC era uma estratégia para estar em vários lugares e continuar avançando naquilo que a gente imaginava que ia fazer: a revolução armada no Brasil. A gente sonhava alto”. A voz do bom senso teria dito: muito alto, demasiadamente alto, levando em consideração a precariedade de seus recursos e a grande extensão territorial do Brasil, que não é uma ilhota como Cuba. Osmarina nasceu analfabeta, como a mãe do Lula.

Mas, diferentemente deste último, que não completou sequer o primeiro grau, ela foi iletrada até os 16 anos. Alfabetizou-se, fez curso supletivo e, posteriormente, entrou para a Universidade Federal do Acre, de onde saiu diplomada em História. [Sua trajetória dos seringais à universidade, lutando contra limitações financeiras e egressa de um meio social pobre e ignorante, é algo elogiável para qualquer cidadão em idênticas condições, mas não lhe confere nenhuma virtude apropriada enquanto candidata a Presidente da República].

Júlia Feitosa conheceu Osmarina numa Comunidade Eclesial de Base – um daqueles ninhos de padrecos vermelhos, como o ex-frei Leonardo, frei Clodovis e frei Betto. Esse outro trio maravilha – Feitosa, Binho e Osmarina – companheiros inseparáveis, fizeram juntos vestibular para o mesmo curso de História, outra chocadeira de pintos comunistas, com as honrosas exceções de Marco Antonio Villa, Leandro Narloch, Lira Neto e uns poucos historiadores brasileiros.

Como não é surpreendente, no curso de História da UFA, predominavam correntes marxistas, que se dividiam em estalinistas e trotskistas, como nas outras universidades federais brasileiras. Júlia afirma que ela, Binho e Osmarina nunca se filiaram a uma dessas facções, voltados que estavam para a luta dos seringueiros, tal qual o grande líder Chico Mendes assassinado em 1988. Chico Mendes era também um dos líderes do PRC no Acre, antes mesmo de adquirir fama internacional promovida pelo movimento ecológico global, do qual Al Gore (ou All Bore) é um dos mais destacados gurus.

Com a chamada redemocratização do Brasil em andamento, alguns membros do PRC, partido clandestino, resolveram ter uma atuação política institucionalizada. Desse modo, com o fim do regime de exceção em 1985, Osmarina se filiou ao PT. De onde acho que ela nunca saiu, pois era e é petista de corpo e alma. Está no seu ADN, como se diz popularmente. Membro da célula comunista de Chico Mendes em Xapuri, Gomercindo Gomes fala sobre a participação dele e de Osmarina nos inícios de suas carreiras no PT: “Fazíamos reuniões dentro da célula para decidir como votar no PT. A gente atuava dentro do PT, fazíamos a política do PT. Mas éramos minoria dentro do PT”.

Sabemos que no Partido dos Trabalhadores sempre houve várias facções, umas mais radicais, outras mais moderadas, porém costurando tudo sempre esteve Lula. Se o PT chegou a ser o que é, não se esfacelou em grupelhos rivais, isto se deve à inegável habilidade política de Lula. Creio que, sem o PT, Lula continuaria sendo o político matreiro e oportunista que sempre foi, mas o PT sem Lula seria quase nada ou nada.

No entanto, Gomercindo não esclareceu a que facção do PT pertencia Osmarina, mas cremos que devia ser da facção ecológica com a qual Lula nem sempre concordou, tanto que Osmarina insatisfeita _ principalmente com possíveis danos ambientais gerados por grandes obras de infraestrutura do governo federal– saiu do PT e ingressou no PV (Partido Verde por fora, mas vermelho por dentro), daí o apelido de Partido das Melancias…

*Mario Guerreiro é Doutor em Filosofia, Professor da UFRJ e Especialista do Instituto Liberal.



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