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As máquinas de hostilidade

As máquinas de hostilidade

16/08/2023 Marco Antonio Spinelli

Os livros de Medicina do começo do século passado tinham capítulos sobre o Infarto do Miocárdio que eram quase notas de rodapé.

Muito pouco se sabia, menos ainda se estudava sobre o assunto. As pessoas morriam muito mais cedo, geralmente de causas infecciosas.

Rodolfo Valentino, um dos primeiros pop stars da história do cinema, morreu prematuramente por conta de uma apendicite, em 1926. Hoje teria sido operado e recebido alta em dois dias.

Com o advento dos antibióticos, as mortes começaram a ser evitadas. A industrialização da alimentação e as mudanças de dietas e de estressores fizeram as doenças vasculares, como os Infartos do Miocárdio e os AVCs cada vez mais proeminentes nas estatísticas de morte.

Os capítulos sobre eles foram substituídos por tratados e estudos bilionários para evitar a perda de vidas para essas doenças. Quando eu me formei, os cardiologistas eram os caras mais bacanas do hospital.

A partir dos anos setenta, intensificou-se o estudo de características psicológicas que estariam associadas a esse tipo de doença. Na época foi proposta uma classificação de tipos psicológicos: os tipos A, B e C.

Os tipos A tinham e tem até hoje uma correlação clara com doenças cardíacas: caras estressados, apressados, ambiciosos, explosivos e briguentos, com um perfeccionismo e uma combatividade a serviço da vontade de ganhar dinheiro e poder.

Os tipos C, ao contrário, seriam pessoas mais recolhidas, muitas vezes frustradas e passivo agressivas, que não tinham objetivos claros para a sua vida e muitas vezes retardavam a solução de problemas fazendo corpo mole ou fugindo das responsabilidades.

Os tipos C tendem a culpar os outros e a sociedade pelos seus problemas e tem dificuldade de assumir o protagonismo de sua vida e projetos.

Havia um CEO de uma grande multinacional americana que promovia anualmente uma demissão de dez por cento da força de trabalho, tentando tirar os tipos C da empresa.

Ele mesmo teve uns cinco infartos, então não é difícil presumir sua tipologia. Mas aí o leitor pode me perguntar: e os tipos B?

Os tipo B, se tudo der certo, são a maioria: trabalham em equipe, tem ambição mas não pisam no pescoço de ninguém por isso, tem altos e baixos de motivação, mas mantém a entrega e a regularidade no trabalho. Mas não exageram em suas ambições nem tem pressa para esmagar adversários.

Estamos vivendo num mundo em que os tipos B, que tentam um equilíbrio entre o fogo excessivo dos tipos A com o gelo glacial dos tipos C, estão entrando em extinção.

Vemos os gurus motivacionais e os influencers gritando sobre motivação, constância, produtividade. Todo mundo deve se converter a tipo A.

E um dos traços do tipo A está bombando nas redes sociais e mídias: a hostilidade. Os algoritmos organizam a sociedade do “nós contra eles”.

Vivemos numa loucura suficiente para um sujeito entrar na festa de um desconhecido e matar o aniversariante apenas porque tinha a bandeira do PT e uma imagem de Lula no bolo.

Hostilidade faz mal à saúde: aumenta a pressão arterial, o açúcar do sangue, o consumo de álcool e prejudica a resposta imune. Numa sociedade inflamatória como a nossa, o ódio alimenta a fornalha do medo e da doença.

Nossos sistemas de ódio aumentaram na Pandemia, quando a quarentena aumentou a sensação de isolamento, perigo e hostilidade.

Antes da eleição do ano passado, precisei medicar de maneira incisiva pessoas que estavam persecutórias, desestabilizadas e tomadas pela hostilidade em tempos de eleição e final de ano.

Quando Jesus falava sobre amar seus inimigos, não devia estar falando sobre levar quem você não gosta para uma ilha deserta. Provavelmente ele estava falando sobre devolver a seus inimigos a característica humana.

A tradução atual seria ter compaixão por seus inimigos. Torná-los pessoas, com suas fragilidades e defeitos, e não King Kongs prontos a te devorar.

Existe uma meditação que muito gosto, chamada Loving Kindness, em que uma parte dela consiste em mandar compaixão e bons votos para uma pessoa que tenha feito a gente sofrer.

Não é fácil de fazer, mas dá um alívio sutil em nossos sistemas de hostilidade. Tem um monge que muito admiro, falecido recentemente, chamado Thich Nhat Hanh que ensinava: a compaixão é nossa única defesa.

Cada vez mais posso constatar como ele estava certo. Compaixão aumenta os tipos B, equilibrando o Yang dos tipos A e o Yin dos tipos C.

Amar o próximo como a si mesmo significa viver a compaixão por mim e pelo Outro. Isso faz bem à saúde e ao planeta.

* Marco Antonio Spinelli é médico, com mestrado em psiquiatria pela Universidade São Paulo, psicoterapeuta de orientação junguiana e autor do livro Stress - o coelho de Alice tem sempre muita pressa.

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Fonte: Vervi Assessoria



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