Como ficarão as aulas?
Como ficarão as aulas?
O primeiro semestre do ano letivo de 2020 está comprometido, com as crianças, adolescentes e jovens em casa, nem todos entendendo bem o que está acontecendo, principalmente as crianças menores.
Em muitas casas, os pais também estão em casa, por causa da quarentena. O fato é que muito se diz que não haverá mais a normalidade como era antes, ainda no começo do ano.
Não sabemos também quando exatamente as atividades sociais serão novamente possíveis, e tudo isso tem provocado angústia. Ansiedade e até depressão em muitos.
E muitas interrogações sobre como poderá ser o "novo normal", após a pandemia do coronavírus. Em reportagem publicada em O Globo, Audrey Furlaneto, ouviu vários especialistas sobre o assunto.
O governo federal dispensou as escolas de cumprir os 200 dias letivo, condensando a carga horária para 800 horas, o que foi criticado pelos especialistas, que não consideraram essa a melhor saída.
Vários temas foram objeto de abordagem, especialmente o ensino a distância (EAD), a formação dos professores e o papel dos pais no processo de educação dos filhos.
Segundo Andrea Ramal, "o ensino atual não deveria ter como referência a quantidade de conteúdos, e sim as competências: os conhecimentos, habilidades e atitudes que os estudantes desenvolvem. Aprender é um processo, não adianta condensar o aprendizado em menos dias e muitas horas diárias. Se os alunos ficarem mais tempo sem ir à escola, é melhor relativizar o 'ano letivo' e reorganizar as etapas de aprendizagem em módulos".
Priscila Cruz lembra que o fim da quarentena não significa a mesmo coisa que voltar de férias. "Será preciso fazer um nivelamento, para saber em que ponto está cada aluno. Uma estratégia eficiente seria separar os alunos por classes de desempenho e criar uma intervenção distinta para cada nível de aprendizagem".
Sobre o ensino à distância, Catarina de Almeida Santos diz que a pandemia tem sido usada para deturpar a modalidade, difundir concepções simplistas do processo de ensino-aprendizagem, comercialização de soluções ilusórias para os problemas da educação no país, apropriação de dados de professores, estudantes e seus responsáveis, por parte de muitas plataformas que lucrarão durante e depois da pandemia.
“O que se vende é que a tecnologia resolverá tudo, deixando de ser meio e se tornando fim”. Daniel Cara "educação à distância não é eficaz para a educação básica, que vai da creche ao ensino médio. Tampouco para a graduação. É simples a questão: se estávamos indo mal com Educação Presencial, agora está mais difícil."
E Priscila Cruz completa: "nunca a educação à distância substitui, nem é tão boa quanto a educação presencial".
O que vemos então é uma expectativa de que tudo mudará, se adaptando à realidade on line. Segundo os especialistas, não é bem assim.
O ensino a distância pode auxiliar no processo ensino-aprendizagem, mas não substituir inteiramente a relação aluno-professor.
Por isso que é cedo para conjecturas de como serão as aulas após a pandemia. O importante é que haja planejamento e senso da realidade, aproveitando ao máximo as possibilidades existentes para que o ano letivo tenha o melhor proveito.
Há muito que pensar sobre esse desafio, pois estamos diante de um fato histórico sem precedentes e que requer de nós responsabilidade, boa disposição e criatividade.
* Valmor Bolan é Doutor em Sociologia e Professor da Unisa.
Fonte: Reginaldo Bezerra Leite