Portal O Debate
Grupo WhatsApp

Da varíola ao mercúrio, a extinção indígena persiste

Da varíola ao mercúrio, a extinção indígena persiste

30/04/2024 Víktor Waewell

Os nativos brasileiros perderam a guerra contra os portugueses, principalmente por causa da alta mortalidade das doenças que vieram nos navios.

Fossem infectados de forma proposital ou não, estima-se que 90% deles morreram adoecidos. Os brancos também faleciam por doenças, é claro, mas estes eram fruto de uma longa linhagem de indivíduos resistentes a elas.

É bom lembrar que, àquela altura, os indígenas brasileiros não estavam distribuídos no território de forma aleatória, nem viviam, como hoje, frequentemente, em lugares remotos.

Como qualquer ocupação humana, a tendência era a concentração perto da praia e ao longo dos rios. Sendo assim, os lugares com mais gente foram os primeiros aos quais os portugueses chegaram e também onde desataram as primeiras epidemias.

Muitos indígenas que escaparam das guerras, das doenças e da escravização fugiram continente adentro em grupos pequenos ou grandes, gerando movimentos migratórios rumo ao interior. No caminho, às vezes se uniam a indígenas que encontravam, ou guerreavam pelo controle da área.

Só que o furor português, partindo do litoral, não tardava a alcançá-los outra vez, e os nativos tinham que migrar de novo. Em muitas partes, terminaram cercados por fazendas e cidades, e já não havia mais aonde ir.

Expulsos das terras mais férteis e com a constante degradação ambiental, a mais recente onda de migração dos indígenas é para as cidades, em busca de meio de sobrevivência.

Assim, em termos bem gerais, a história dos últimos 500 anos, do ponto de vista de boa parte dos povos nativos, costuma ser a da extinção ou a de migrações periódicas.

Os indígenas que hoje sobrevivem frequentemente não vivem no território de seus ancestrais e são a conjunção de duas ou mais culturas que em algum momento se encontraram.

Sem a capacidade de revidar militarmente, a resistência passou a ser através dos tribunais, da opinião pública e da proposital manutenção de determinados costumes.

Só que, contra um povo enfraquecido e espalhado, os massacres se tornaram cada vez mais sistemáticos. Temos vários e vários registros de infecção proposital contra povos indígenas para levá-los à extinção.

Já em 1574, o governador do Rio de Janeiro mandou trouxas de roupas contaminadas com varíola para os nativos que viviam na atual região da Lagoa Rodrigo de Freitas. Com a aldeia extinta, foi construído ali um grande engenho público para produção de açúcar.

Há o caso de 1818, quando os Timbira foram atraídos para a vila de Caxias, no Maranhão, e lá colocados em convívio com portadores de varíola. A tragédia assolou aldeias num raio de 1800 quilômetros.

Em 1967, os Pataxós, na Baía, viram aviões lançarem brinquedos do céu, parecendo presentes para as crianças, só que eram brinquedos infectados com varíola, sarampo e gripe.

As terras esvaziadas teriam sido distribuídas para criminosos do garimpo e da mineração, assim como figurões do governo militar.

No começo de 2023, vimos as fotos das crianças Yanomami, raquíticas, lembrando judeus em campos de concentração. O mais recente fator do genocídio foi a contaminação dos rios por mercúrio, usado no garimpo.

Mesmo com tantos desenlaces, os povos indígenas seguem resistindo contra uma guerra de conquista que nunca foi interrompida.

Sem a capacidade de enfrentar belicamente os invasores, o simples direito de existirem permanece em disputa. Após mais de 500 anos da “descoberta”, essa luta está longe de acabar.

* Víktor Waewell é escritor, autor do livro “Guerra dos Mil Povos”, uma história de amor e guerra durante a maior revolta indígena do Brasil.

Para mais informações sobre indígenas clique aqui…

Publique seu texto em nosso site que o Google vai te achar!

Entre para o nosso grupo de notícias no WhatsApp

Fonte: LC Agência de Comunicação



O fim da reeleição de governantes

Está tramitando pelo Congresso Nacional mais um projeto que revoga a reeleição de Presidente da República, Governador de Estado e Prefeito Municipal.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


PEC das drogas

O que esperar com a sua aprovação?

Autor: Marcelo Aith


PEC do Quinquênio simboliza a metástase dos privilégios no Brasil

Aprovar a PEC significará premiar, sem justificativa plausível, uma determinada categoria.

Autor: Samuel Hanan


O jovem e o voto

Encerrou-se no dia 8 de maio o prazo para que jovens de 16 e 17 anos pudessem se habilitar como eleitores para as eleições municipais deste ano.

Autor: Daniel Medeiros


Um mundo fragmentado

Em fevereiro deste ano completaram-se dois anos desde a invasão russa à Ucrânia.

Autor: João Alfredo Lopes Nyegray


Leitores em extinção

Ontem, finalmente, tive um dia inteiro de atendimento on-line, na minha casa.

Autor: Marco Antonio Spinelli


Solidariedade: a Luz de uma tragédia

Todos nós, ou melhor dizendo, a grande maioria de nós, está muito sensibilizado com o que está sendo vivido pela população do Rio Grande do Sul.

Autor: Renata Nascimento


Os fios da liberdade e o resistir da vida

A inferioridade do racismo é observada até nos comentários sobre os cabelos.

Autor: Livia Marques


Violência urbana no Brasil, uma guerra desprezada

Reportagem recente do jornal O Estado de S. Paulo, publicada no dia 3 de março, revela que existem pelo menos 72 facções criminosas nas prisões brasileiras.

Autor: Samuel Hanan


Mundo de mentiras

O ser humano se afastou daquilo que devia ser e criou um mundo de mentiras. Em geral o viver passou a ser artificial.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra


Um País em busca de equilíbrio e paz

O ambiente político-institucional brasileiro não poderia passar por um tempo mais complicado do que o atual.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


Nem Nem: retratos do Brasil

Um recente relatório da OCDE coloca o Brasil em segundo lugar entre os países com maior número de jovens que não trabalham e nem estudam.

Autor: Daniel Medeiros