Educação Inclusiva para quem?
Educação Inclusiva para quem?
Há algumas décadas, nosso país já pensa na educação de pessoas ditas como “com deficiência”.
São em torno de 30 documentos que tentam regularizar o que deve ser feito com estas pessoas, em especial.
Temos uma tendência, como humanos, a considerar deficiente alguém que possui algo diferente, muito aparente, seja na parte física ou na parte de comportamento. Tudo o que foge ao que consideramos como regra da espécie é visto como especial.
Os nomes mudaram com o passar dos anos e atualmente tratamos como “educação inclusiva”. A quantidade de casos de educação inclusiva também cresceu muito, claro, porque estudos avançam e com eles a detecção de distúrbios, dificuldades e afins, que antes eram vistos como se a criança simplesmente fosse mais lenta.
Não é que surgiram novos casos, é que agora temos consciência de uma variedade maior de transtornos, distúrbios e afins, portanto classificamos em maior escala.
A princípio, considera-se que um professor que recebe uma inclusão em sua turma deve ter uma redução no número de alunos, porque terá que dedicar um tempo maior à inclusão.
Além disso, supõe-se que, dependendo do caso, ele tenha um auxiliar em aula e que receba, em mãos um diagnóstico ou relatório do especialista que acompanha a criança, porque terá que saber particularidades do caso para poder planejar adequadamente suas aulas. Lindo, não é? Seria, se isso realmente ocorresse.
Primeiramente, o professor não recebe uma formação adequada para lidar com inclusão e nem teria como recebe-lo na grade de pedagogia, não teria tempo para isso.
Neste caso, alguns professores têm sim um traquejo instintivo que ajuda demais, mas a falta de informação atrapalha também um montão.
Se o professor não tem uma afinidade ou não consegue ter empatia com o caso de inclusão, ela já perde a chance de acontecer como se deve.
Muitas vezes, o diretor ou coordenador atribui a classe a um professor que não lida bem com educação inclusiva, portanto ele e o aluno terão dificuldade de estar em sintonia.
Sempre bom saber antes se o professor está disposto de verdade a ter a inclusão na turma, ou mesmo se tem alguma limitação que o impeça.
Para completar, todas aquelas coisas bonitas como auxiliar, diagnóstico e suporte não acontecem em 90 por cento dos casos. São raras as vezes que o professor tem algum suporte.
Tudo isso é muito grave, mas vamos refletir um pouquinho. O nome “educação inclusiva” e a fala “você terá um aluno de inclusão” são suficientes para o raciocínio de alguns profissionais simplesmente travar.
Quando alguém me diz “tenha uma inclusão em sala”, penso comigo “na verdade, tem tipo 30 inclusões em sala”, porque cada aluno é diferente e tem necessidades diferentes.
O termo “inclusivo” e “inclusão” toma tanto conta do cenário, que o professor não percebe que ele tem 30 alunos, todos com características e personalidades diferentes, precisando de diferentes estímulos para aprender e, entre esses supostos 30 alunos, ainda há provavelmente uns 2 que, embora não sejam de inclusão ou não façam terapia, certamente têm algum distúrbio ou dificuldade de aprendizagem que a ciência ainda não nomeou.
Esses 30 alunos ainda experimentam realidades diferentes familiares, que irão facilitar ou dificultar seu convívio em aula e muitos deles terão dificuldades de aprendizagem advindas do uso excessivo de aparelhos eletrônicos.
A criança que chega como inclusão, na maioria das vezes tem um diagnóstico. Me pergunto então... não é muito mais fácil buscar informações de um distúrbio, uma dificuldade, uma deficiência nomeada, conhecida, do que ter em sala uma criança que não aprende e não sabemos o motivo? Porque esta também é uma inclusão, mas não diagnosticada!
Como você pode ver, o termo “educação inclusiva” é bonito e traz toda uma temática de acolhimento social e pedagógico, no qual em uma sociedade ideal, onde todos são pessoas parecidas (o que não acontece na vida real), ajudam na socialização daquele que é diferente.
Vivemos sob lentes “cor-de-rosa” ainda neste aspecto. É o momento de refletir sobre a realidade e tomar decisões a respeito dela, flexibilizando o currículo de modo mais adequado, considerando a inclusão de um modo mais amplo.
É o momento de pensarmos na sala como uma equipe, considerando que todos são diferentes e possuem diferentes necessidades.
Não apenas aquele, considerado como inclusão, precisa de cuidados diferenciados, mas também aquele, que aprende com mais facilidade e está entediado e desestimulado, e aquele, que não consegue lembrar o nome das letras que a professora acabou de falar, e ainda aquele, que tem dificuldade em fazer amizades e fica isolado.
Seria sim educação inclusiva, mas para quem?
* Janaína Spolidorio é designer de atividades pedagógicas, formada em Letras, com pós-graduação em consciência fonológica e tecnologias aplicadas à educação e MBA em Marketing Digital.
Fonte: EVCOM