Portal O Debate
Grupo WhatsApp

Estado, mercado e solidão coletiva

Estado, mercado e solidão coletiva

02/01/2018 Valdemir Pires

Um animal essencialmente político (anthropos physei politikon zoon).

É isso o homem, para Aristóteles. E a afirmativa é tão célebre quanto o imortal filósofo de Estagira. Mas vai se tornando estranha no século XXI, parecendo coisa de um maluco do passado remoto.

Nas grandes cidades (polis?) pós-modernas(?) até mesmo os líderes (?) andam afirmando não serem políticos! Teriam eles, junto com os indivíduos de classe média que os apoiam e dizem odiar política, transcendido a condição humana? Ou será que, pelo contrário, caíram para abaixo dela, juntando-se aos animais irracionais?

Responder a essa questão é algo urgente, premente. É preciso ter alguma certeza a respeito da natureza do homem e do papel que nela cumpre a política. Pois se nem isso formos capazes de saber, estamos condenados a vagar a esmo, por aí, cometendo barbaridade atrás de barbaridade e nos matando mutuamente, sem saber o porquê.

Se abrimos mão de tentar descobrir de onde viemos, para onde vamos e qual o sentido da vida (se, enfim, deixamos de filosofar), não podemos deixar, do mesmo quase-impune modo, de entender as bases dos relacionamentos quotidianos a que estamos submetidos, dos quais não podemos fugir tão facilmente como os ermitões da antiguidade.

Aristóteles tinha em mente a polis, a cidade, o lugar do coletivo, destino do homem, ser gregário, incapaz de viver isoladamente. Mais do que isso: ser limitado se não transcende a oikos, a casa, o lugar da família.

A oikos dá lugar ao que chamamos economia (e, por extensão equivocada, mercado) e na polis nasce a democracia. Na oikos cuida-se da sobrevivência – provisão da condição material de existência; na polis, da vida – a aventura em aberto das relações com o outro, as coisas, o mundo.

Vida que é vivida em comum, na comunidade, no ambiente amplo da sociedade, onde ninguém tem ascendência sobre ninguém por razões de sangue ou afetivas e, portanto, onde as decisões e ações se baseiam nas capacidades, em confronto, de persuadir e dissuadir, baseiam-se, em uma palavra, na política.

Tendo se mercantilizado ao inserir a troca e a divisão do trabalho (agora assalariado e não escravo, como no tempo de Aristóteles) no seu modus operandi quotidiano, essa sociedade (ocidental?), com isso, operou o milagre do fim da política, a transformação da oikos numa casa ampla, onde cabe toda a “família” humana, convivendo seus membros em harmonia, já que se tornaram capazes de fazer do próprio egoísmo uma ferramenta para enriquecer, ao mesmo tempo beneficiando o próximo (ao modo de Adam Smith)?

Não, milagres não acontecem, a não ser como exceção: a vida segue sem eles, a crença no espantoso e no anormal dando vazão ao providencial sonho de que não somos tão pouco, quase nada, mero pó de estrelas. E menos ainda se individualmente considerados, isolados do coletivo humano, de que somos parte e que dá algum sentido à nossa curta existência.

A política, de fato, sem milagre, está aí, no nosso quotidiano, cada dia mais forte, onipresente. Não enxergá-la é juntar-se ao pior cego: o que não quer ver. O que aconteceu é que ela se deslocou da polis controlada pelos homens das oikos (pelas famílias aristocráticas) para a economia política, a casa a que damos o nome de mercado, o lugar onde o povo (demos), sob um pacto por uma res publica, batalha pela sobrevivência, a maioria praticamente abrindo mão da vida.

Oikos moderna, agora politicamente subordinada às grandes corporações e bancos – a aristocracia que se esconde por trás da caricatura de polis a que foi reduzido o Estado contemporâneo, capturado pelas imensas dívidas públicas que os obrigam a gastar mais com juros do que com as provisões para os membros das “famílias” nacionais.

Estado onde tem funcionalidade especial aquele que acha um meio de tirar para si um naco da coisa pública se propondo a dela cuidar, mas de fato aceitando migalhas para servir ao poder da casa bancária.

E assim seguimos, construindo a solidão coletiva em que estamos mergulhando cada dia mais: isolados nas nossas oikos sem famílias (o que, afinal, é isso, hoje em dia?) e nas nossas polis sem governo, presos na bolha de informações e formulações que os idiotas (em grego, o que não se envolve com a polis) construíram, no lugar da Enciclopédia, nas redes sociais.

* Valdemir Pires é economista, professor e pesquisador da Unesp/FCL-Araraquara.



Violência não letal: um mal silencioso

A violência não letal, aquela que não culmina em morte, não para de crescer no Brasil.

Autor: Melissa Paula


Melhor ser disciplinado que motivado

A falta de produtividade, problema tão comum entre as equipes e os líderes, está ligada ao esforço sem alavanca, sem um impulsionador.

Autor: Paulo de Vilhena


O choque Executivo-Legislativo

O Congresso Nacional – reunião conjunta do Senado e da Câmara dos Deputados – vai analisar nesta quarta-feira (24/04), a partir das 19 horas, os 32 vetos pendentes a leis que deputados e senadores criaram ou modificaram e não receberam a concordância do Presidente da República.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


A medicina é para os humanos

O grande médico e pintor português Abel Salazar, que viveu entre 1889 e 1946, dizia que “o médico que só sabe de medicina, nem de medicina sabe”.

Autor: Felipe Villaça


Dia de Ogum, sincretismo religioso e a resistência da umbanda no Brasil

Os Orixás ocupam um lugar central na espiritualidade umbandista, reverenciados e cultuados de forma a manter viva a conexão com as divindades africanas, além de representar forças da natureza e aspectos da vida humana.

Autor: Marlidia Teixeira e Alan Kardec Marques


O legado de Mário Covas ainda vive entre nós

Neste domingo, dia 21 de abril, Mário Covas completaria 94 anos de vida. Relembrar sua vida é resgatar uma parte importante de nossa história.

Autor: Wilson Pedroso


Elon Musk, liberdade de expressão x TSE e STF

Recentemente, o ministro Gilmar Mendes, renomado constitucionalista e decano do Supremo Tribunal Federal, ao se manifestar sobre os 10 anos da operação Lava-jato, consignou “Acho que a Lava Jato fez um enorme mal às instituições.”

Autor: Bady Curi Neto


Senado e STF colidem sobre descriminalizar a maconha

O Senado aprovou, em dois turnos, a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) das Drogas, que classifica como crime a compra, guarda ou porte de entorpecentes.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


As histórias que o padre conta

“Até a metade vai parecer que irá dar errado, mas depois dá certo!”

Autor: Dimas Künsch


Vulnerabilidades masculinas: o tema proibido

É desafiador para mim escrever sobre este tema, já que sou um gênero feminino ainda que com certa energia masculina dentro de mim, aliás como todos os seres, que tem ambas as energias dentro de si, feminina e masculina.

Autor: Viviane Gago


Entre o barril de petróleo e o de pólvora

O mundo começou a semana preocupado com o Oriente Médio.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


Nome comum pode ser bom, mas às vezes complica!

O nosso nome, primeira terceirização que fazemos na vida, é uma escolha que pode trazer as consequências mais diversas.

Autor: Antônio Marcos Ferreira