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Grécia no fio da navalha

Grécia no fio da navalha

12/11/2015 Isidoros Karderinis

Passam exatamente cinco anos da adesão da Grécia ao Mecanismo Europeu de Estabilidade, em estreita colaboração com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Nessa altura, os dados financeiros críticos e centrais eram os seguintes: o PIB valia 221.151 bilhões de dólares no final de 2010.

A dívida pública era de 148,3% em relação ao PIB. O desemprego situava-se nos 12,5%. A percentagem de gregos que estava a viver abaixo do limiar da pobreza (ganhando menos de 60% do rendimento médio nacional disponível) era de 27,6%.

A política de extrema austeridade aplicada no país sob a direção dos credores internacionais ao longo dos anos agravou ainda mais a realidade econômica e social. Em resultado disso, o PIB caiu para 186,54 bilhões em 2014. A dívida pública subiu em flecha para os 176% em relação ao PIB.

O desemprego subiu dramaticamente para os 26%, afetando principalmente os mais jovens, muitos dos quais têm brilhantes competências científicas, pelo que, em face desta situação, emigram para outros países – uma grave perda de talentos que poderiam ajudar o país nesta conjuntura crítica.

A percentagem de gregos a viver abaixo do limiar da pobreza é de 34,6%, ou 3.795.100 pessoas. Assim, é possível concluir dos fatos acima descritos que este programa de consolidação orçamental num país que já estava em recessão antes de 2010 falhou completamente, e que não seria racional, econômica e socialmente, continuar a aplicá-lo.

Esta política orçamental e estas medidas de austeridade particularmente restritivas criam uma espiral excepcionalmente destrutiva de dívida-recessão-austeridade, eliminando quaisquer possibilidades de desenvolvimento.

A dívida é gigante e insustentável

Diante deste cenário, a persistência observada na estrita continuação do programa de austeridade extrema dos credores terá consequências verdadeiramente trágicas. Levará ao desastre econômico total, que não será corrigido por décadas, além de que levará certamente a uma crise humanitária incrivelmente grave, em linha com uma Europa do pós-guerra.

Os cidadãos atirados para a pobreza e sem-abrigo que podem já ser vistos nas ruas de Atenas multiplicar-se-ão rapidamente. Os suicídios motivados pelo desespero e pela falta de horizontes causados pela incapacidade de subsistência continuarão na sua extraordinária tendência de crescimento.

Tornar-se-á um fato quotidiano ver crianças a desmaiar nas escolas por falta de uma alimentação adequada. A questão que, na sequência disto, se coloca com a intensificação deste período crítico é: o que deve ser feito para que a Grécia deixe o tunel sem luz em que se encontra que é a crise econômica, e entre numa iluminada avenida para o desenvolvimento e progresso.

Em primeiro lugar, o peso da dívida que a economia grega carrega nos seus ombros é gigante e insustentável, e não parece haver possibilidade de que seja pago na totalidade. Por isso, precisamos de eliminar a maior parte do valor nominal da dívida para que a carga de dívida do país fique abaixo dos 100% e se torne sustentável, através de uma técnica que não seja prejudicial para os outros povos da Europa.

O pagamento da dívida remanescente estaria ligado a uma “cláusula de desenvolvimento”, de modo a processar-se a partir do desenvolvimento e não de qualquer excedente orçamental. Em segundo lugar, é necessário reconstruir a produção no país com estes elementos-chave:

a) O equilíbrio sustentável da balança comercial e da conta corrente através da mudança da mistura de produtos produzidos no país, assim fortalecendo as margens de orientação exportadora de vários sectores da economia grega;

b) A industrialização com a implementação de uma política integrada industrial sustentada e o desenvolvimento da pesquisa doméstica e da produção de uma vasta gama de produtos de valor acrescentado. O sector produtivo é particularmente importante, uma vez que é impossível esperar que um país suba na cadeia de valor na distribuição global de trabalho sem criar a base produtiva necessária que inclui principalmente o fabrico de produtos industriais acabados;

c) O ênfase especial no turismo, no qual a Grécia tem uma forte vantagem comparativa,na indústria de transporte naval – a Grécia tem a maior frota de marinha mercante do mundo –, e certamente na agricultura, para a produção de bens de importância social, e

d) A eficiente exploração das matérias-primas – tais como a bauxite, a partir da qual se obtém o alumínio –, e das potencialmente grandes reservas de petróleo localizadas tanto no Mar Egeu como no Mar Jónico.

Construindo um Estado moderno e eficiente

Em terceiro lugar, precisamos de construir um estado moderno, eficiente e racional, que deverá funcionar com honestidade e que não deverá criar obstáculos burocráticos ao desenvolvimento empresarial. Precisamos de travar uma luta eficaz contra a Hidra de Lerna que é a corrupção e a evasão fiscal, para remover as múltiplas consequências negativas econômicas, sociais e políticas que esta causa, e finalmente para aplicar uma taxação justa.

Os efeitos econômicos não estão apenas relacionados com as perdas nas finanças públicas mas também com efeitos adversos para o sector privado. Quando está enraizada a noção de que apenas é possível conseguir obter resultados subornando indivíduos que estejam em posições de poder na administração pública, então os investimentos são desencorajados, a competição justa fica distorcida e as empresas que se recusam a entrar nesse comércio ilegal e imoral são condenadas à estagnação.

As consequências sociais e políticas da corrupção são também extremamente sérias. A corrupção leva ao ressentimento, à frustração e ao colapso de valores importantes entre os cidadãos. Consolida a ideia de que nada funciona adequadamente e de que os cidadãos cumpridores da lei não se sentem recompensados por proceder deste modo.

As instituições têm o seu funcionamento minado, abanado e, em última análise, vilipendiado pela mesma democracia, aos olhos dos cidadãos. Precisamos de estabelecer imediatamente um sistema fiscal que não encoraje nem “justifique” a evasão fiscal, mas que contribua decisivamente para o desenvolvimento das consciências dos contribuintes, e que tenha como resultado um aumento significativo das receitas fiscais.

A Grécia não consegue suportar mais austeridade

Estas medidas deveriam aplicar-se imediatamente para retirar a Grécia do seu atual estado de coma e recessão, e para que se possa dirigir para um caminho tão desejado de desenvolvimento, longe das políticas de austeridade selvagens e sem saída, que formam a frente do capitalismo financeiro na sua tentativa de levar ao pagamento de toda a dívida, e de manter a sua soberania numa época de crise capitalista intensa e generalizada.

Pela sua parte, os cidadãos europeus deveriam estar solidários com o drama que o povo grego atravessa, este que, nos últimos anos, se tornou uma cobaia, dado que a grande maioria do dinheiro pedido como empréstimo pelo governo grego não acaba nas mãos dos contribuintes gregos, mas sim nos bancos ou no pagamento dos empréstimos, ou na recapitalização dos bancos gregos, sendo que a grande parte destes custos é suportada pelos contribuintes gregos.

Em conclusão, a Grécia não consegue continuar a suportar a austeridade. Já chegou aos seus limites mais extremos, depois do nível de vida ter colapsado, e, com ele, ter igualmente colapsado a dignidade do povo grego.E isto tem que ser compreendido pelos credores. O novo terceiro acordo com medidas de austeridade extremas só reforçará a recessão e terá efeitos destrutivos. O que significa que tempos de conflito e ruptura não estarão longe.

* Isidoros Karderinis nasceu em Atenas, Grécia, em 1967. É um novelista, poeta e economista com estudos pós-graduados em economia turística.



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