Portal O Debate
Grupo WhatsApp

Nem Nem: retratos do Brasil

Nem Nem: retratos do Brasil

04/05/2024 Daniel Medeiros

Um recente relatório da OCDE coloca o Brasil em segundo lugar entre os países com maior número de jovens que não trabalham e nem estudam.

O primeiro lugar é a África do Sul. Completam o pódio dos cinco a Turquia, Colômbia e Costa Rica. De cada 3 jovens, 1 não trabalha e nem estuda em nosso país.

Curiosamente, na mesma semana da publicação desses dados, o IBGE divulgou um novo mapa mundi, com o Brasil situado no centro do mundo.

Ou seja: a dissociação cognitiva é quase constrangedora. Enquanto as autoridades tentam emplacar uma espécie de geocentrismo redivivo, os números afirmam, quase aos berros, que o futuro do país é o subúrbio do planeta.

O que se pode esperar de jovens entre 16 e 24 anos que não aprendem e nem produzem nada? O que fazem de seu tempo?

Atividades informais, legais ou nem tanto, pra garantir uma graninha, horas e horas nas redes sociais, ócio e tédio, pai e mãe dos vícios e das ações equivocadas. Cabeça vazia…

Diante disso, de que serve a imagem ufanista se não há políticas públicas efetivas, concretas, para inserir esses jovens no mundo da cultura, tecnologia, conhecimento e, principalmente, trabalho?

O país está no centro do mapa do IBGE. Já os jovens pobres das periferias dos grandes centros desaparecem do mapa.

Não parece surpreendente essa outra notícia da semana: depois de um ano de governo, nenhuma das 3.700 obras de educação paradas é retomada. Nenhuma. Somos o centro do mundo, mas a escola não é o centro de nada.

Ao mesmo tempo, o Congresso aprova um arremedo de reforma de Ensino Médio, mudando sem mudar nada e condicionando o que pode acontecer de melhor - ensino integral e profissionalizante - a investimentos robustos na infraestrutura das escolas e na formação de professores.

No entanto, as notícias da semana informam-nos de mais essa medida: “governo corta verba de bolsas de estudos e da Educação Básica, além de tirar dinheiro da Farmácia Popular”.

Alguém avisa o pessoal do IBGE que o mapa com o Brasil no centro do mundo tá mais parecido com uma piada de mau gosto!

Na outra ponta, o sucesso de países improváveis, como a Estônia, a Irlanda e a Polônia, sem falar em Singapura e Hong Kong, deve-se a investimentos maciços em Educação, investimentos eficazes e eficientes, focados na formação de professores, tecnologia, cuidados com a educação básica, profissionalização dos jovens, pensando na sociedade em rápida transformação, com destaque para as mudanças provocadas pela Inteligência Artificial e a Internet das Coisas.

A razão desse sucesso é óbvia. Nada será como antes no futuro próximo. E nós, iguais como sempre, patinando eternamente em nossa incapacidade de investir em qualidade real, palpável, capaz de ser usufruída de verdade. Nossa eficácia resume-se aos discursos, aos cartazes, aos slogans, aos mapas com o Brasil no centro.

Fui um jovem em uma família que superou a pobreza por muito pouco e diversos itens de consumo da classe média brasileira eram sonhos distantes para mim, desde a simples goma de mascar até ter mais de um sapato por vez no armário.

Mas uma coisa jamais foi discutida, jamais entrou na pauta dos cortes orçamentários da minha família: educar-nos. Pois os filhos precisavam ter mais chances do que os pais.

Minha mãe teve de deixar a escola no terceiro ano primário, pois não tinha dinheiro para comprar o uniforme. Meu pai fez o Ensino Médio já adulto, em um supletivo. Eu e meu irmão entramos na Universidade Federal.

A lição da falta que marcou a vida deles tornou-se a obsessão de não permitir a História repetida. E isso também sem o apoio dos governos da época, que investiram muito pouco em escolas e muito menos em qualificação dos professores.

Quando cresci e participei da redemocratização, ouvi, animado, as promessas dos novos tempos: mais escolas, melhores escolas, futuro melhor.

Houve melhoras, até por que era muito difícil ser pior do que os incompetentes governos militares. Mas, mesmo assim, ficamos muito aquém do esperado. E chegamos onde chegamos.

O que se pode esperar de um país que tem a terceira maior população carcerária do mundo e o segundo maior contingente de jovens sem estudar e sem trabalhar no planeta?

Sim, senhores burocratas do IBGE, estamos mesmo no centro do mundo: no centro do pior prognóstico de futuro possível.

E se não formos nem capazes de reconhecer a urgência do problema e nem capazes de agir com desenvoltura e rapidez, o Brasil do futuro não vai nem aparecer no mapa.

* Daniel Medeiros é doutor em Educação Histórica e professor no Curso Positivo.

Para mais informações sobre jovens clique aqui…

Publique seu texto em nosso site que o Google vai te achar!

Entre para o nosso grupo de notícias no WhatsApp

Todos os nossos textos são publicados também no X (antigo Twitter)

Fonte: Central Press



Democracia: respeito e proteção também para as minorias

A democracia é um sistema de governo que se baseia na vontade da maioria, mas sua essência vai além disso.

Autor: André Naves


O Brasil enfrenta uma crise ética

O Brasil atravessa uma crise ética. É patente a aceitação e banalização da perda dos valores morais evidenciada pelo comportamento dos governantes e pela anestesia da sociedade, em um péssimo exemplo para as futuras gerações.

Autor: Samuel Hanan


Bandejada especial

Montes Claros é uma cidade de características muito peculiares. Para quem chega de fora para morar lá a primeira surpresa vem com a receptividade do seu povo.

Autor: Antônio Marcos Ferreira


Eleições para vereadores merecem mais atenção

Em anos de eleições municipais, como é o caso de 2024, os cidadãos brasileiros vão às urnas para escolher prefeito, vice-prefeito e vereadores.

Autor: Wilson Pedroso


Para escolher o melhor

Tomar boas decisões em um mundo veloz e competitivo como o de hoje é uma necessidade inegável.

Autor: Janguiê Diniz


A desconstrução do mundo

Quando saí do Brasil para morar no exterior, eu sabia que muita coisa iria mudar: mais uma língua, outros costumes, novas paisagens.

Autor: João Filipe da Mata


Por nova (e justa) distribuição tributária

Do bolo dos impostos arrecadados no País, 68% vão para a União, 24% para os Estados e apenas 18% para os municípios.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


Um debate desastroso e a dúvida Biden

Com a proximidade das eleições presidenciais nos Estados Unidos, marcadas para novembro deste ano, realizou-se, na última semana, o primeiro debate entre os pleiteantes de 2024 à Casa Branca: Donald Trump e Joe Biden.

Autor: João Alfredo Lopes Nyegray


Aquiles e seu calcanhar

O mito do herói grego Aquiles adentrou nosso imaginário e nossa nomenclatura médica: o tendão que se insere em nosso calcanhar foi chamado de tendão de Aquiles em homenagem a esse herói.

Autor: Marco Antonio Spinelli


Falta aos brasileiros a sede de verdade

Sigmund Freud (1856-1939), o famoso psicanalista austríaco, escreveu: “As massas nunca tiveram sede de verdade. Elas querem ilusões e nem sabem viver sem elas”.

Autor: Samuel Hanan


Uma batalha política como a de Caim e Abel

Em meio ao turbilhão global, o caos e a desordem só aumentam, e o Juiz Universal está preparando o lançamento da grande colheita da humanidade.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra


De olho na alta e/ou criação de impostos

Trava-se, no Congresso Nacional, a grande batalha tributária, embutida na reforma que realinhou, deu nova nomenclatura aos impostos e agora busca enquadrar os produtos ao apetite do fisco e do governo.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves