Portal O Debate
Grupo WhatsApp

O coração bem cuidado do homem de cem anos

O coração bem cuidado do homem de cem anos

06/09/2017 Américo Tângari Junior

O coração deve estar preparado para bater por muito mais tempo, desde que se cuide bem dele.

O avanço da tecnologia nos leva a imaginar um mundo de ficção científica, com todas as facilidades das coisas ao alcance da mão: carros elétricos sem motorista atendendo ao chamado pelo smartphone; energia solar ou eólica em abundância para limpar a atmosfera; cidades sem trânsito, poluição ou barulho; alimentos puros produzidos em espaços menores; computadores capazes de compreender melhor a Humanidade para tentar harmonizá-la; educação de alta qualidade acessível a crianças de todo o Planeta.

Então, o melhor a fazer é trazer a imaginação para a realidade, pois tudo isso está em fase avançada de desenvolvimento e não é nenhum exercício de futurologia acreditar nesse novo mundo funcionando dentro de vinte anos. Pois é, vinte, apenas.

O mais fantástico de tudo é que a tecnologia vai, ao mesmo tempo, alongando a vida dos seres humanos e já é possível vislumbrar uma longevidade para além dos cem anos para boa parte da população mundial. Aparelhos de alta precisão poderão antecipar diagnósticos ainda difíceis de detectar. E se robôs podem realizar hoje cirurgias mais delicadas, imagine-se daqui a duas décadas.

Mas não há projeto para milagre – isso ainda pertence ao departamento de divindades. Por isso, o coração deve estar preparado para bater por muito mais tempo, desde que se cuide bem dele, com visitas periódicas ao cardiologista, exercícios rotineiros, uma vida saudável, sem estresse e sem vícios ainda comuns, como o sedentarismo ou o cigarro. Esta parte não muda, mesmo porque nenhuma tecnologia pode prever a reinvenção do homem.

A média de vida aumenta três meses a cada ano. Em 2013, a expectativa de vida era de 79 anos nos países desenvolvidos e no ano passado aumentou para 80. É um aumento natural, de forma que em 2037 a vida média naqueles países estaria por volta de 85 anos pelas condições atuais. Estaria, se o futuro não viesse tão depressa. A conta no Brasil é mais modesta, de 72,7 anos atualmente.

Mas vem aumentando, em razão do crescimento econômico. Essa longevidade serve para avaliar a qualidade de vida da população de um determinado lugar. Mas bem sabemos que o Brasil ainda se encontra capenga diante dos países desenvolvidos. Depois, o percentual médio brasileiro no quesito esperança de vida não reflete a realidade, pois particularidades regionais são camufladas e oscilam de Estado para Estado.

É o resultado de uma história errante desde o Descobrimento. E por maior que seja a pressão da sociedade por serviços básicos de qualidade, os governantes em geral ainda não conseguem retribuir para o povo uma das mais elevadas cargas tributárias do Planeta. O certo é que a civilização avança e mesmo países em desenvolvimento como o nosso e os mais pobres, como a maioria dos africanos, acabam por acompanhar lentamente, apesar dos pesares.

Um dos avanços na área da medicina deve entrar em operação em breve: um software desenvolvido pela empresa de sequenciamento genético Ilumina em parceria com a IBM Watson para fornecer relatórios mais precisos no combate ao câncer. Por meio de uma amostra do tumor do paciente, o sistema de computação cognitivo poderá analisar os dados, de modo que o médico tenha informações minuciosas para um ataque mais eficaz à doença.

E bem no início, fundamental para a cura. Na área cardiológica, os avanços também são rápidos e permanentes, desde os transplantes e a descoberta de novos medicamentos para evitar a rejeição, passando pelos stents – que, em muitos casos, evitam as cirurgias mais invasivas -, cirurgia robótica, corações mecânicos e outros tratamentos cada vez mais eficientes.

Se o paciente contribuir com uma existência saudável, essa bomba de sangue do organismo seguramente vai sobreviver por mais de cem anos, sem sobressaltos. E tudo leva à prevenção. Como o Tricorder, em vias de chegar ao mercado - um aparelho portátil para autodiagnosticar condições médicas e coletar sinais vitais básicos em questão de segundos.

Ele pode, por exemplo, digitalizar a retina, colher amostra de sangue ou medir a respiração – e ainda analisar 54 biomarcadores para identificar doenças. Nem o humor e a mentira vão escapar. O aplicativo "Moodies" poderá mostrar se o portador está bem ou mal-humorado. E em 2020 haverá aplicativos para revelar, por meio de expressões faciais, se alguém está mentindo.

Basta imaginar um debate político... Em breve não precisaremos mais de automóveis, a locomoção será por carro autônomo. Na verdade, vamos precisar de 90 a 95% menos de carros e os estacionamentos poderão virar parques. O mais importante: um milhão de vidas será salvo em razão disso. Hoje, um milhão e duzentas mil pessoas morrem a cada ano em acidentes de trânsito em todo o mundo – o que equivale a um acidente a cada cem mil quilômetros.

Com a condução autônoma, esse número deve cair para um acidente a cada dez milhões de quilômetros. As principais indústrias automobilísticas serão Tesla, Apple, Google. Em seu livro “Crônicas de uma Sociedade Líquida”, Umberto Eco dizia que “continuamos a acreditar que vivemos numa época em que a técnica dá passos gigantes e diários... mas refletimos com menor frequência sobre o fato de que o aumento do tempo médio de vida é o maior avanço da humanidade”.

E lembrava: “Os computadores já eram anunciados pela máquina calculadora de Pascal, que morreu aos 39 anos e já era considerada uma bela idade. A propósito, Alexandre Magno e Catulo morreram aos 30, Mozart aos 36, Spinoza aos 45, São Tomás aos 49, Shakespeare e Fichte aos 52, Descartes aos 54 e Hegel, velhíssimo, aos 61”.

Umberto Eco morreu em fevereiro do ano passado aos 84 anos. Como se vê, a tecnologia apressa a chegada das coisas, mas o que importa mesmo é alongar a vida dos homens, sem nenhum milagre à vista no periscópio.

O que há é muita inteligência a serviço do bem-estar da civilização. Que não funciona, sem a batida firme do coração. E se assim é, façamos um brinde aos cem anos.

* Américo Tângari Junior é especialista em cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia, Associação Médica Brasileira e da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo.



A importância do financiamento à exportação de bens e serviços

Observamos uma menor participação das exportações de bens manufaturados na balança comercial brasileira, atualmente em torno de 30%.

Autor: Patrícia Gomes


Empreendedor social: investindo no futuro com propósito

Nos últimos anos, temos testemunhado um movimento crescente de empreendedores que não apenas buscam o sucesso financeiro, mas também têm um compromisso profundo com a mudança social.

Autor: Gerardo Wisosky


Novas formas de trabalho no contexto da retomada de produtividade

Por mais de três anos, desde o surgimento da pandemia em escala mundial, os líderes empresariais têm trabalhado para entender qual o melhor regime de trabalho.

Autor: Leonardo Meneses


Desafios da gestão em um mundo em transformação

À medida que um novo ano se inicia, somos confrontados com uma miríade de oportunidades e desafios, delineando um cenário dinâmico para os meses à frente.

Autor: Maurício Vinhão


Desumanização geral

As condições gerais de vida apertam. A humanidade vem, há longo tempo, agindo de forma individualista.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra


O xadrez das eleições: janela partidária permite troca de partidos até 5 de abril

Os vereadores e vereadoras de todo país que desejam trocar de partido têm até dia 5 de abril para realizar a nova filiação.

Autor: Wilson Pedroso


Vale a renúncia?

Diversos setores da economia ficaram surpresos com um anúncio vindo de uma das maiores mineradoras do mundo, a Vale.

Autor: Carlos Gomes


STF versus Congresso Nacional

Descriminalização do uso de drogas.

Autor: Bady Curi Neto


O que está acontecendo nos bastidores da Stellantis? Muitas brigas entre herdeiros

A Stellantis é rica, gigante, e a Stellantis South America, domina o mercado automobilístico na linha abaixo da Linha do Equador.

Autor: Marcos Villela Hochreiter

O que está acontecendo nos bastidores da Stellantis? Muitas brigas entre herdeiros

A verdade sobre a tributação no Brasil

O Brasil cobra de todos os contribuintes (pessoas físicas e jurídicas) sediados no território nacional, cerca de 33,71% do valor de todos os bens e serviços produzidos no país.

Autor: Samuel Hanan


Bom senso intuitivo

Os governantes, em geral, são desmazelados com o dinheiro e as contas. Falta responsabilidade na gestão financeira pública.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra


População da Baixada quer continuidade da Operação Verão

No palanque armado na Praça das Bandeiras (Praia do Gonzaga), a população de Santos manifestou-se, no último sábado, pela continuidade da Operação Verão da Polícia Militar do Estado de São Paulo.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves