Portal O Debate
Grupo WhatsApp

O legado da possibilidade

O legado da possibilidade

27/06/2020 Daniel Medeiros

Quando podemos dizer que uma coisa deu certo? O que é, afinal, um sucesso?

Essas perguntas são fáceis de responder quando o objetivo é muito restrito, específico. Se alguém queria comprar algo e comprou, pronto, foi bem sucedido; se pretendia chegar em algum lugar e chegou, deu certo.

Mas quando o propósito é maior, mais complexo, sem limites muito claros e previsíveis, como é que fica? Por exemplo, construir um país democrático.

Como sabemos, foram os gregos que tiveram essa ideia incrível de suspender as diferenças entre as pessoas e considerá-las, para efeito das decisões públicas, iguais.

Assim, o nobre, o comerciante, o artesão, o agricultor, desde que cidadão, lá na ágora, era igual, tinha direito a ter voz como qualquer outro que estava ali. Não sei o que vocês acham disso, mas para mim é uma coisa incrível essa ideia.

Não há, na natureza, e nunca havia existido antes nas sociedades conhecidas, uma ideia como essa, na qual a imaginação criava um campo de igualdade que anulava provisoriamente as diferenças reais e permitia que outras qualidades pudessem ser destacadas: o diálogo, a persuasão, o acordo, o consenso.

E deu certo? Foi um sucesso? Bom, aí é que está. Essa é a questão. Em favor da democracia, o que podemos dizer?

Deu voz a quem não era bem nascido e bem nutrido e permitiu que várias maiorias fossem formadas em favor de demandas dos grupos mais vulneráveis.

Boa parte do mundo experimentou esse modelo, com maior ou menor grau de incremento, e os resultados apareceram. Mas nada foi perfeito.

Porém, o sucesso exige perfeição? E o que seria essa perfeição? Aí que está. Os gregos só admitiam na praça os homens nativos adultos. O tempo passou e a ideia de isonomia ampliou-se, incluindo mulheres e jovens.

Em um país como o nosso, já somos quase 150 milhões de pessoas aptas a votar e a decidir quais ideias queremos que determinem os rumos dos nossos espaços públicos. Sucesso. Ou não?

Um outro aspecto muito relevante na democracia é que as ideias vencedoras nunca são definitivas.

Como são resultado dos consensos e os consensos são provisórios, quem é derrotado naquilo que defende pode melhorar seu argumento, refinar suas estratégias de persuasão e ter a certeza que logo terá a chance de lograr êxito e ver suas ideias sendo implementadas.

O caráter dinâmico da democracia é uma das marcas mais valiosas dessa invenção. Saber utilizá-la é um desafio constante para a sua existência.

Ainda outra coisa importante: todos os que se reúnem em torno de uma cidade-estado contribuem para a sua manutenção e os destinos desses recursos são decididos por representantes escolhidos na praça.

Logo, a democracia tem também um importante papel no processo de diminuição das diferenças entre os nobres, os comerciantes e os artesãos, na medida em que pode implementar políticas de distribuição de recursos para setores mais desfavorecidos e, ainda assim, preservar as diferenças que existiam antes de sua configuração.

Logo, a democracia nunca foi pensada para ser um sistema para criar uma igualdade real entre as pessoas, mas é um simulacro de igualdade que permite, provisoriamente, aos diferentes, uma instância de diálogo, na qual esses diferentes podem se olhar desvestidos de suas diferenças e aceitar concessões mútuas em nome de uma convivência comum. 

E funcionou? Funciona? Pode funcionar melhor?  Não tenho dúvida que sim. Não vejo, aliás, outra invenção melhor, com exceção, talvez, da anestesia e do chocolate amargo com pistache.

O que precisamos, sem dúvida, é investir nossos esforços na ideia de que a perfeição nunca foi o propósito da democracia.

O sucesso da democracia está na sua dinâmica, na sua persistência em apostar no diálogo de pessoas que, em outras circunstâncias, não teriam motivos para sequer olhar umas para as outras – e crer que acordos democráticos nunca deixam todos felizes, mas certamente evitam que se odeiem a ponto de quererem se matar.

É uma estratégia de sobrevivência social, mais do que uma utopia coletivista. É um antídoto para nossa natureza egoísta, mais do que um libelo pela fraternidade eterna. É um mecanismo de defesa de pluralidade, de paz, mesmo que não de amor.

* Daniel Medeiros é doutor em Educação Histórica e professor no Curso Positivo.

Fonte: Central Press



Dia de Ogum, sincretismo religioso e a resistência da umbanda no Brasil

Os Orixás ocupam um lugar central na espiritualidade umbandista, reverenciados e cultuados de forma a manter viva a conexão com as divindades africanas, além de representar forças da natureza e aspectos da vida humana.

Autor: Marlidia Teixeira e Alan Kardec Marques


O legado de Mário Covas ainda vive entre nós

Neste domingo, dia 21 de abril, Mário Covas completaria 94 anos de vida. Relembrar sua vida é resgatar uma parte importante de nossa história.

Autor: Wilson Pedroso


Elon Musk, liberdade de expressão x TSE e STF

Recentemente, o ministro Gilmar Mendes, renomado constitucionalista e decano do Supremo Tribunal Federal, ao se manifestar sobre os 10 anos da operação Lava-jato, consignou “Acho que a Lava Jato fez um enorme mal às instituições.”

Autor: Bady Curi Neto


Senado e STF colidem sobre descriminalizar a maconha

O Senado aprovou, em dois turnos, a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) das Drogas, que classifica como crime a compra, guarda ou porte de entorpecentes.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


As histórias que o padre conta

“Até a metade vai parecer que irá dar errado, mas depois dá certo!”

Autor: Dimas Künsch


Vulnerabilidades masculinas: o tema proibido

É desafiador para mim escrever sobre este tema, já que sou um gênero feminino ainda que com certa energia masculina dentro de mim, aliás como todos os seres, que tem ambas as energias dentro de si, feminina e masculina.

Autor: Viviane Gago


Entre o barril de petróleo e o de pólvora

O mundo começou a semana preocupado com o Oriente Médio.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


Nome comum pode ser bom, mas às vezes complica!

O nosso nome, primeira terceirização que fazemos na vida, é uma escolha que pode trazer as consequências mais diversas.

Autor: Antônio Marcos Ferreira


A Cilada do Narcisista

Nelson Rodrigues descrevia em suas crônicas as pessoas enamoradas de si mesmas com o termo: “Ele está em furioso enamoramento de si mesmo”.

Autor: Marco Antonio Spinelli


Brasil, amado pelo povo e dividido pelos governantes

As autoridades vivem bem protegidas, enquanto o restante da população sofre os efeitos da insegurança urbana.

Autor: Samuel Hanan


Custos da saúde aumentam e não existe uma perspectiva que possa diminuir

Recente levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indica que os brasileiros estão gastando menos com serviços de saúde privada, como consultas e planos de saúde, mas desembolsando mais com medicamentos.

Autor: Mara Machado


O Renascimento

Hoje completa 2 anos que venci uma cirurgia complexa e perigosa que me devolveu a vida quase plena. Este depoimento são lembranças que gostaria que ficasse registrado em agradecimento a Deus, a minha família e a vários amigos que ficaram ao meu lado.

Autor: Eduardo Carvalhaes Nobre