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Planejamento e mesada

Planejamento e mesada

07/11/2013 Marcus dos S. Mingoni

Um breve olhar sobre o dia a dia de nossas crianças e adolescentes mostra que a realidade atual é completamente diferen­te daquela vivida nas décadas de 1970 e 1980, quando se tinha apenas um par de sapatos para ir à escola e outro para “pas­sear”.

Os brinquedos se resumiam a bolas, bonecas e jogos de tabuleiro. No mais, eram brincadeiras e atividades ao ar livre, nas quais a criatividade era mais uma neces­sidade do que uma habilidade. Não havia computador, internet, TV a cabo, videoga­me, celular e iPod.

O acesso à informação e as opções de consumo cresceram de for­ma exponencial e, para temperar tudo isso, as estratégias de marketing estão cada vez mais agressivas e bombardeiam os jovens, que certamente não estão preparados para essa overdose de estímulos de consumo de uma infinidade de produtos e marcas. Esse contexto, aliado a outros fatores sociais, tem proporcionado profundas trans­formações nos valores familiares e na ma­neira pela qual os filhos modernos se rela­cionam com seus pais.

A demanda para os adultos de hoje é muito mais frequente e in­tensa. Os pedidos são feitos a todo instante, desde a roupa que “precisa” ter o desenho daquele personagem até o tênis de determi­nada marca que custa mais que um salário mínimo. Isso sem falar nos brinquedos, jo­gos, celulares e apetrechos tecnológicos que parecem ficar obsoletos a cada semana, gerando sensação crescente de insatisfação e novos pedidos de consumo.

Duas per­guntas emergem desse quadro de maneira nítida: como administrar essas demandas que pressionam os pais em uma velocidade incrível e como ajudar a preparar os filhos para que se tornem cidadãos e consumidores conscientes, responsáveis, com visão crítica da realidade e conhecedores dos impactos de suas decisões. Uma importante ferramenta é a famo­sa mesada. Se bem planejada e aplica­da, pode ser um instrumento muito útil no processo de educação, conscientização e amadurecimento dos filhos.

Entre­tanto, o alerta é que o tiro pode sair pela culatra, caso o processo não seja bem ad­ministrado e monitorado. Antes de tudo, é fundamental que os filhos que receberão alguma quantia a título de “mesada” ou “semanada” sejam envolvidos no orça­mento familiar, com nível de detalhamen­to proporcional a cada faixa etária. Para crianças muito novas não faz sentido falar de valores de renda e despesas, mas já é possível explicar que é preciso trabalhar “duro” para ganhar dinheiro e comentar sobre os principais itens do orçamento que necessitam ser atendidos.

O primeiro passo na hora de propor a mesada é definir os combinados de utili­zação. O valor deve levar em consideração a idade da criança ou do adolescente e a condição econômica da família, para que fique dentro de uma lógica no seu contexto social e ambiente de convivência. A perio­dicidade também pode levar em conta a faixa etária. Para as crianças menores, é mais fácil administrar quantias a cada se­mana. Na medida em que ela cres­ce, pode-se alongar a periodicidade, pois o desafio de gerenciar intervalos mais longos será parte do aprendizado.

Antes ainda de dar os primeiros reais a seu filho, uma dica que costuma ser útil é fornecer alguns co­frinhos, cada qual com um significado di­ferente, para que a criança possa dividir o valor recebido. Uma sugestão inicial é ter um cofre para guardar o valor que será utilizado para o consumo imediato, outro para juntar economias durante certo perío­do, permitindo a aquisição de algo que se deseja, aquele destinado a doações e um último para poupança no banco. A estratégia dos cofrinhos será uma ótima oportunidade para conversar com seu filho a respeito de conceitos como pla­nejamento, disciplina e caridade.

No que­sito poupança, os pais ainda podem esti­mular a criança criando regras de aporte conjunto, por exemplo, a cada real que a criança poupar o pai se obriga a contribuir também com mais um real. Para a estra­tégia realmente funcionar, são necessários alguns cuidados operacionais. Abra efe­tivamente uma conta poupança em nome do seu filho, mostre os extratos e explique os rendimentos. Isso dará concretude ao processo. Planejar o momento de entregar a quantia periódica também é importante.

Tenha em mãos o dinheiro trocado para facilitar a organização da criança. Outro detalhe relevante é buscar informações em sua comunidade sobre instituições que pos­sam receber as doações de seu filho. Existem mais alguns aspectos impor­tantes que devem ser explicados na hora de definir os combinados. Informe que não haverá antecipações e empréstimos. Ima­gine como seria trágico o futuro financeiro de uma criança acostumada a se endividar com a própria mesada.

Explique os itens que você espera que sejam consumidos com a mesada. Sugira, mas não interfira na deci­são final. A liberdade de escolha faz parte do processo de aprendizado. Se a criança gastou tudo em figurinhas e faltou dinheiro para o doce, a ideia é justamente que ela aprenda a lição. Outra estratégia interes­sante é vincular a entrega do valor ao cum­primento de tarefas domésticas (arrumar o quarto, ajudar com a louça etc.). Isso contri­bui para o desenvolvimento do senso de res­ponsabilidade e começa a demonstrar que é preciso esforço para conquistar dinheiro.

Os pais são exemplos de consumido­res e poupadores para os filhos; atitudes coerentes são indispensáveis para que as crianças se sintam encorajadas a seguir as orientações paternas. Os filhos devem ser inseridos na realidade econômica da sociedade, sempre respeitando os limites naturais de compreensão de cada idade. Comente sobre comerciais na TV e notícias econômicas relevantes. Esse ambiente con­tribui para que nossos filhos tenham noção das dificuldades que existem para conquis­tar as coisas e auxilia na formação de um espírito consciente e crítico com a reali­dade que nos cerca.

A conclusão é que a mesada pode ser um instrumento extrema­mente rico, no sentido de permitir o desen­volvimento de valores como planejamento, organização, disciplina, caridade e consu­mo consciente, além de ajudar a preparar nossos filhos para tomar decisões tendo em perspectiva as reais consequências de seus atos. Pode dar trabalho, mas nesse investi­mento o retorno é muito compensador!

*Marcus dos S. Mingoni é graduado em Administração de Empresas pela FGV, com MBA Executivo em Finanças pelo Ibmec, é Diretor de Operações da Divisão de Sistemas de Ensino da Saraiva.



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