Saúde e a velha máxima: prevenir é melhor que remediar
Saúde e a velha máxima: prevenir é melhor que remediar
O consenso entre os especialistas é que o mundo chegará a ter uma população, por volta de 2050, de até 10,5 bilhões de pessoas.
Uma previsão mais radical das Nações Unidas chega a elevar esse número para 16 bilhões de pessoas no final do século. A população cresce, a expectativa de vida aumenta e a demanda por saúde se torna cada vez maior e mais complexa. Como governos, planos e instituições de saúde podem responder a essa realidade satisfatoriamente?
Mais do que nunca, a velha máxima de que prevenir é melhor que remediar torna-se atual e crucial para o futuro. É nesse contexto que o modelo de gestão em saúde tende a incorporar as diretrizes da vigilância epidemiológica e da prevenção social. Torna-se fundamental o conhecimento das condições de saúde da população, através da produção de informações suficientes para diagnóstico sanitário e gestão do risco comportamental.
Como desafios, são essenciais ferramentas de tecnologia da informação, comunicação e educação social para organizar e analisar informações relevantes sobre as condições de saúde e do comportamento de consumo da população, para que ocorra a melhor orientação sobre autocuidado. Existem oportunidades para grandes melhorias no valor da assistência à saúde e enormes ganhos podem ser alcançados simplesmente fazendo uso mais eficaz do atual conhecimento social.
Chegamos à firme conclusão de que a tecnologia médica é importante, mas o principal problema do sistema de saúde, hoje, não é tecnologia médica e, sim, a aplicação do conhecimento já existente. As atividades de todos os envolvidos no ciclo de atendimento têm que ser futuramente integradas e coordenadas, em torno de um comportamento social. Somente assim virá a responsabilidade conjunta pelos resultados em todo o ciclo de atendimento.
Deste modo, a corrente contemporânea da saúde coletiva denominada “Corrente da Vigilância da Saúde” surge como estratégia para articular avanços da Epidemiologia Crítica com a elaboração de propostas de mudança na organização tecnológica do trabalho em saúde, repensando novos modelos de equipes de saúde e intervenção. A Vigilância da Saúde entende que a saúde resulta de um processo de acumulação social, expresso em um estado de saúde, sintetizando múltiplas determinações que podem ser encontradas em grupos causais principais: biologia humana, serviços de saúde, estilo de vida, meio ambiente e cultura.
Ao ponderar que a saúde é um produto social resultante de fatores econômicos, políticos, ideológicos e cognitivos, esta corrente sugere que ela deva ser apreendida por um olhar interdisciplinar, e que as práticas sociais em saúde devam dar-se na ordem da educação. Partindo dessas considerações, sugere-se que a prática sanitária da atenção a saúde deva ser informada pelo modelo teórico-conceitual da Produção Social da Saúde.
Assim, desapareceria a “artificial separação entre ações curativas e preventivas”, uma vez que “o ambiente social pode ter papel curativo importante, assim como a existência de serviços confiáveis de saúde pode exercer função preventiva pelo sentimento de confiança que cria na população”.
*Leonardo Florêncio é médico, mestre em Políticas de Saúde e Planejamento, MBA em Gestão de Saúde e CEO da ePrimeCare.