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Super-mãe. Eu?

Super-mãe. Eu?

23/06/2020 Cristina Nacaratti

Lembro-me de um episódio que aconteceu há alguns anos atrás e que fez com que eu refletisse seriamente sobre meu comportamento de mãe.

Minha filha Camila estava com um problema sério ocular e fazia uso de Cortisona, a qual sabíamos, deveria ser “engolida” nos horários certos e nunca de estômago vazio.

Naquela manhã, Camila saiu para o Colégio com a medicação na mochila, mas sem o seu lanche.

Quando me dei conta de que o lanche ficara em cima da mesa, fiquei muito aflita. Desmanchei meu compromisso, corri e fiz o possível para chegar ao Colégio antes do intervalo. Cheguei.

Sentia-me feliz, porque afinal eu estava sendo uma boa mãe. Encontrei minha filha conversando com suas colegas e, sem cerimônia, me aproximei, entregando-lhe o pequeno embrulho.

Neste momento, vi em seu rosto, para meu espanto, uma expressão de total desaprovação e decepção para comigo.

Por quê? O que foi que eu fiz? O que havia de errado na minha atitude? Ela esquecera o lanche, o remédio deveria ser tomado com alguma alimentação e ela estava sem o lanche...

Eu não estava certa afinal? Fiquei perdida, sem entender o porquê da tal expressão em seu rosto e mal e mal segui com meus compromissos diários.

Pessoalmente, mais tarde, ouvi de Camila a seguinte explicação: “Mãe, você se afobou à toa e me fez passar vergonha diante das minhas colegas. Tá certo, eu esqueci o lanche, mas não esqueci do horário do remédio e nem de que ele deveria ser tomado sempre com alguma alimentação. Pedi dinheiro emprestado para minha amiga e comprei algo na cantina”.

Para minha surpresa ela não tinha esquecido do horário certo da medicação, como também não esquecera que este deveria ser “engolido” junto com algum alimento. Diante dessa constatação, tive que aceitar a minha inadequação.

Esse episódio que nos provocou sentimentos de aflição, susto, preocupação, desaprovação e vergonha teriam sido evitados se eu “lembrasse” de que uma adolescente de 15 anos, cursando o 2º ano do Ensino Médio seria plenamente capaz de se virar com uma questão corriqueira dessa.

Mas por que não “lembrei”, “não percebi” que Camila já era adolescente e eu ainda a tratava como uma criança de 5 anos de idade?

A partir desse momento, percebi que a necessidade de “encher aquele estômago”, o desejo de fazê-la “engolir” o remédio-alimento-cuidados maternos, era meu.

Ou seja, era um desejo legítimo de querer cuidar da minha filha; entretanto, falhei em pensar de que ela não seria capaz de cuidar de si própria. Até então, eu não sabia disso.

Temos aqui, uma mãe portando-se de maneira ridícula, sem se dar conta disso. Felizmente, para nossa sorte, pude surpreender-me e entender sua desaprovação e, a partir daí, redefinir nossa relação.

Não é óbvio que filhos cresçam e que de acordo com a idade conquistem uma certa autonomia relativa? E por que nossa resistência em não aceitar esse fato?

Talvez porque crescer signifique mudança, talvez porque signifique separação, talvez ainda, signifique a possibilidade - e dificuldade - de nossa própria mudança interior.

Ouço queixas de pais “Esse menino é um bobão, não sabe se defender”, “É preguiçosa”, “Esquece tudo”, “Se eu não escolho a roupa, ela sai de qualquer jeito”, “Ele não faz nada sem pedir ajuda”.

Ouço queixas de filhos: “Minha mãe não confia em mim”, “Minha mãe mexe nas minhas coisas”, “Ela não larga do meu pé e fica perguntando tudo de tudo”, “Ela nem ouve quando conto alguma coisa”, “Ela não gosta do meu melhor amigo e por isso quer que eu me separe dele”.

E agora? Há culpados ou sofredores? Cabe aqui a figura da super-mãe? O que ela pretende afinal, qual é o seu desejo?

Com certeza, ela quer “cuidar” da sua prole o melhor possível, mas a que preço? Ela quer ser boa, quer ser reconhecida como boa, pensa que é boa (ora, ela cuida mesmo de tudo!) e por que não é boa? Qual é o seu erro?

O erro está no excesso de cuidado e em subestimar a capacidade do filho de se cuidar minimamente. Dessa forma ela se torna inadequada e invasiva.

Para cada fase da vida há cuidados que devem ser observados com atenção, por exemplo, a troca de fraldas X assaduras, horários acertados X responsabilidade ou tratos combinados X falta de confiança.

Excesso de cuidado (ou dominação?) abafa, apaga, congela o desejo do outro, mata a possibilidade de um indivíduo livrar-se da dependência infantil para caminhar rumo à independência.

Sugiro assistirem a um filme, cujo título em português é Sob o domínio do mal. Nele, presenciamos a relação aparentemente boa entre mãe e filho, onde ela faz tudo pelo bem dele.

E ele, dominado e sem autonomia, deixa-se levar pelo querer dela porque já é tarde, sente-se impotente para rebelar-se contra essa mãe tão boa, tão presente, tão devotada, cuidadosa, amorosa, prepotente, dominadora, invasiva e… tão perigosa!

Que tipo de mãe sou eu? Aquela que promove a autonomia relativa e reconhece as aquisições parciais de seu filho, ou aquela que faz tudo por ele?

* Cristina Nacaratti é Psicanalista Adulto e Infantil e Psicopedagoga Clínica.

Fonte: Vervi Assessoria de Imprensa



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