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Uma chave no lugar errado pode ser um estrago

Uma chave no lugar errado pode ser um estrago

20/03/2023 Antônio Marcos Ferreira

Início dos anos 80. Manga, às margens do rio São Francisco, era cercada também por estradas de terra por todos os lados. O asfalto que saía da capital parava em Montes Claros, a 275 km.

Naquela época, o meu irmão caçula, o Helinho, formado em agronomia em Viçosa, trabalhava com meu pai na fazenda da família.

O seu trabalho exigia o uso de vários equipamentos agrícolas e que frequentemente necessitavam de manutenção e troca de peças.

E aí é que a coisa se complicava, pois qualquer peça que precisasse ser trocada significava enfrentar aqueles 275 km da estrada esburacada na seca e lamacenta no período de chuva.

E foi num desses períodos que algumas peças quebraram e o Helinho precisou ir a Montes Claros. Ficou sabendo naquele dia que um amigo, que tinha um Corcelzinho "curraleiro" antigo e fazia viagens transportando gente pela região.

Uma outra amiga havia contratado uma viagem para levar sua mãe para Montes Claros. O Helinho pensou igual a Elis: "é com esse que eu vou"!

E no dia seguinte, bem cedo, lá estavam do outro lado do rio naquela viagem que seria uma verdadeira epopéia. Só pneus furados foram cinco. Aí as paradas nas localidades para fazer os reparos.

Era comum também furar mais de um pneu e ser necessário pegar uma carona para levar os pneus e outra para trazer e continuar a viagem. Nessa pelo menos foi um de cada vez. 

Chegou a Montes Claros já na parte da tarde. Tempo chuvoso. Fez as compras necessárias e por volta das 18 horas apanharam outra passageira e resolveram pegar a estrada de volta para Manga. 

Andaram alguns quilômetros debaixo de chuva fina e antes de chegar na localidade de Boa Esperança, de repente mais um pneu furado. Mais uma troca.

Pararam o carro, fizeram a substituição do pneu. Guardaram o pneu furado e a chave de rodas. Neste momento o motorista do corcel fechou o bagageiro inadvertidamente com a chave do carro dentro. "Não há nada que esteja ruim que não possa piorar", pensou.

- E agora? Você tem chave reserva? 

- Tenho não. E não tem como abrir com as ferramentas que eu tenho. 

E não havia como ter acesso ao bagageiro pelo lado de dentro do carro. 

- Meu Deus, como é que a gente vai fazer agora? 

Nisso escutaram o barulho de um carro que se aproximava. Como normalmente ocorre nessas ocasiões, o motorista parou, desceu e perguntou:

- O que foi que aconteceu? Posso ajudar? 

Estava junto com mais dois passageiros. Por sorte era uma Rural Ford, mesmo fabricante do Corcel, o que abria a possibilidade da chave abrir o porta-malas. 

Entregou as chaves da rural ao Helinho para que ele tentasse abrir. Enquanto tentavam abrir o porta-malas, o motorista da Rural, que era mecânico, usou uma chave de fenda e finalmente abriu. 

Alívio geral para os passageiros do Corcel. Helinho, alegre com o fato, agradeceu ao motorista, entraram no carro e seguiram viagem. 

Outra viagem custosa. Literalmente "entre trancos e barrancos", muitos trancos e também inúmeros barrancos. O motorista do Corcel pediu arrego pelo cansaço e o Helinho assumiu a direção. 

Depois de tantos desacertos chegaram em Manga por volta de uma hora da manhã. Já em casa, Helinho foi tirar aquela roupa suja e colocar para lavar e tomar um banho para poder dormir. 

Quando foi tirar a calça enfiou a mão no bolso, adivinhe o que ele encontrou? Sim, as chaves da Rural que havia parado para ajudá-lo. Helinho perdeu o chão.

- Meu Deus, e agora? Não conheço o cara, nunca o tinha visto, ele me ajudou e acontece uma coisa dessa? 

Quando o motorista abriu o porta malas com a chave de fenda, ele, de forma instintiva, colocou a chave da Rural no bolso, agradeceu e foi embora. Agora estava imaginando o que teria acontecido àquele motorista que o ajudara. 

A sua consciência só o aliviou porque, sendo mecânico, deveria ter feito uma ligação direta na Rural e seguido viagem.  Não antes de dar uma xingada básica no motorista do Corcel. 

Que naquele momento pedia perdão pelo ocorrido e rezava para que tudo tivesse dado certo para seu desconhecido amigo. Vida que segue.

* Antônio Marcos Ferreira

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