Yes, We Can!
Yes, We Can!
O Candidato Barack Obama forjou, durante sua campanha eleitoral, um dos mais espetaculares slogans que, de forma simples e objetiva, preconizou a efetiva possibilidade de se proceder a radicais mudanças nos rumos das políticas interna e externa dos EUA.
Não obstante toda sorte de naturais desconfianças quanto à capacidade de fazer cumprir suas aparentemente utópicas promessas de campanha, é cediço concluir que, após a reiteração da força daquele "grito de esperança", o vitorioso Presidente Obama, no auge do exercício de seu segundo mandato, reconhecidamente conseguiu provar de forma, no mínimo, surpreendente, ser capaz de tornar realidade o que parecia simplesmente impossível.
Após exonerar duas das poucas mentes pensantes de seu governo, - o Secretário de Defesa republicano Robert Gates (2006-2011) e a Secretária de Estado democrata Hilary Clinton (2009-2013) -, Obama parece estar prestes a ultrapassar seu maior rival em "desastres de política externa", o ex-Presidente Jimmy Carter (1976-80), com a inimaginável possibilidade de lograr ressuscitar o que parecia completa e definitivamente sepultado nos últimos anos do século XX: o fantasma da Guerra Fria.
Numa clara e renovada demonstração de que seus mais veementes críticos tinham plena razão, um ainda despreparado e imaturo Presidente, - desafiando lições elementares de geopolítica -, simplesmente resolveu embarcar em uma "armadilha" de incentivar a derrubada de um presidente eleito democraticamente em uma ex-república soviética, habitada por cerca de 10 milhões de russos (mais de 20% da população), - a Ucrânia -, absolutamente estratégica para a sobrevivência das naturais aspirações da legítima herdeira do muito que ainda restou do poder nacional da outrora União Soviética.
A irresponsável aventura -, cuja pronta resposta russa, com a imediata anexação da região autônoma da Criméia (pertencente à mesma até 1954), e uma mobilização militar fronteiriça sem precedentes, parece ter surpreendido por completo seus principais assessores -, destruiu, na prática, o que restava da frágil liderança estadunidense, deixando o presidente da maior potência econômico-militar do planeta simplesmente sem possibilidades reais de uma resposta convincente, salvo risíveis "sanções" e discursos retóricos que chegaram ao rompante infantil de chamar um país com mais de 2.000 ogivas nucleares estratégicas de "potência regional".
Ademais, o Presidente Obama parece estar prestes a enterrar o pouco da credibilidade norte-americana (as duras penas conquistada pela Secretária Clinton, quando, em seu encontro com o Secretário Sergei Lavrov (2009), propôs um "RESET" nas relações russo-americanas) extremamente abaladas pelos inúmeros compromissos, pós-guerra fria, que simplesmente deixaram de ser cumpridos, especialmente a promessa que não haveria expansão da OTAN sobre os antigos integrantes do Pacto de Varsóvia e que, em nenhuma hipótese, seriam estacionadas forças militares em território da antiga Alemanha Oriental (condição acordada para a pacífica unificação da Alemanha) ou em países integrantes da antiga URSS.
Passados anos, após anos, as queixas de Moscou, parecem legitimar-se não somente pelas promessas vagas do passado, mas fundamentalmente pela insistência ocidental em instalar mísseis anti-balísticos na Polônia, como ainda pelo desdobramento de forças da aliança militar ocidental até mesmo nos países bálticos fronteiriços à Rússia. Neste sentido, parece que o Kremlim resolveu estabelecer uma verdadeira "linha vermelha" na Ucrânia, o que simplesmente não pode ser ignorado, considerando ser a Rússia a segunda potência militar do planeta.
É hora de os EUA entenderem que, como incontestes vencedores da Guerra Fria, não podem, sob esta premissa, simplesmente humilhar o derrotado que, - apesar de seu substancial declínio de poder nacional -, continua dispondo de um formidável poder nuclear de alcance global, ainda capaz de levar o mundo para a pré-história civilizatória.
Permitir um segundo round a uma potência derrotada por pontos e não por nocaute, revela-se não somente insensato, como "joga por terra" todas as grandes conquistas, - baseadas na cooperação e não no confronto -, que nos permitiram os mais diversos e importantes acordos e compromissos internacionais, tais como os de redução e monitoramento dos arsenais nucleares, segurança e não-proliferação, ações conjuntas em relação ao Irã, além da luta comum contra o terrorismo internacional.
*Reis Friede é Desembargador Federal e professor emérito da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército – ECEME.