Que venha o técnico estrangeiro…
Que venha o técnico estrangeiro…
Acabou – para nós, brasileiros – a Copa do Mundo do Qatar.
Em vez do esperado hexa, resta-nos apenas assistir as partidas dos ex-adversários e a possível final entre França e Argentina. A Seleção Brasileira, única detentora de cinco títulos, não vem correspondendo à sua gloriosa historia e há 20 anos, não passa do 4º lugar (2014). Agora ficou em 7º sua segunda pior classificação, só batida pela de 1934, quando terminamos em 14º. A última grande alegria dada ao torcedor foi em 2002, quando ganhamos o penta em Yokohama (Japão).
Os feitos da Seleção de 1950 – vice-campeã – e das de 1958, 62, 70, 94 e 2002, quando ganhamos a taça, sustentaram a imagem de “país do futebol”, que embalou o sonho de gerações. Naquela época, no entanto, já havia quem observasse que vivíamos um bom momento mas isso poderia mudar. E foi o que aconteceu. A Europa passou a investir alto no futebol, seus times atraíram jogadores de todo o mundo, inclusive os melhores do futebol brasileiro e acabou estabelecida uma nova realidade no esporte. E o Brasil continuou no velho esquema, principalmente na Seleção. Enquanto outros países buscam técnicos no mercado internacional, ficamos com a solução caseira e deu no que deu. Tite hoje é xingado pelo que não conseguiu realizar nas duas Copas que comandou nossa equipe. Mas, muito provavelmente, seja quem menos culpa tem em toda a situação. Hoje clama-se pela busca de um técnico estrangeiro para substituí-lo. E o argumento é que isso tem dado certo a times brasileiros que tem ido à Europa e a outros países buscar seus treinadores e respectivas equipes.
Fiore Gigliotti, o brilhante narrador esportivo, dizia, lá nos anos 90, que logo veríamos times africanos despontando no futebol, e justificava sua previsão com o fato de os países da área estarem melhorando as condições de vida da população e a alimentação do povo que, com sua boa genética, faria sucesso. Cheguei a pensar que a previsão não se cumpria, mas Camarões e Marrocos, na atual Copa, mostram que demorou um pouco, mas meu saudoso amigo estava certo...
Assim como a economia, a política, a tecnologia e as relações entre os países, o futebol também se globalizou. A CBF (Confederação Brasileira de Futebol), que tem passado por muitas transformações, também precisa entrar no novo clima. Da mesma forma que os nossos jogadores – atraídos por elevados salários – se internacionalizam, é preciso abrir as portas e criar facilidades para o futebol brasileiro buscar no mercado ao redor do mundo os craques, treinadores e outros profissionais que necessita. O nacionalismo não é uma boa opção para quem atua num ambiente globalizado. Enquanto não entrar para valer na pauta internacional das contratações, em vez de só apenas vender jogadores para fazer caixa, o futebol brasileiro estará perdendo sua força e, se nada for feito, logo não teremos mais a coragem de nos qualificar como país do futebol. Que venham os estrangeiros. Da mesma forma que exporta, o nosso futebol deve também importar estrelas. Só assim poderá se manter como a alegria do povo...
* Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves - dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).]
Fonte: ASPOMIL