Meu avô e sua consulta médica: a pinga ou a vida!
Meu avô e sua consulta médica: a pinga ou a vida!
Nascido Adelerme Freilandes de Souza Villaflor, o meu avô, ao se casar, resolveu simplificar o seu nome para Adelerme Ferreira de Souza, mas era conhecido em Manga e redondezas como Seu Délio.
Foi uma figura de muitas histórias, algumas delas já contadas em causos publicados por mim.
Seu Délio viveu até os 97 anos, embora contrariando muitas recomendações de ordem médica, principalmente quando se tratava de hábitos alimentares.
A sua alimentação, além de muito condimentada, era sempre muito gordurosa, condição normalmente rejeitada pelos médicos e muito longe das boas práticas recomendadas. E ele seguia sempre o seu gosto particular, independente do que pensassem os médicos.
Depois que o meu pai mudou-se para Belo Horizonte com a família em 1967, ele vinha para a capital algumas vezes para acompanhar a minha avó, cuja saúde merecia maiores cuidados.
Em Belo Horizonte vivia um meio irmão dele, o tio Alfredo, um senhor bastante diferente nos costumes e no jeito de ser, muito educado, mas bastante formal.
Era pai de dois filhos, um deles médico cardiologista, que passou a ser o médico da nossa família durante muitos anos.
Certa vez, numa dessas vindas a BH, depois dos exames de praxe da minha avó, o meu pai resolveu levá-lo para uma consulta médica com o Dr. Mauro Tostes, seu sobrinho. Meu avô, na ocasião, estava com uns 85 anos.
Na primeira conversa, o médico quiz saber dos seus hábitos e costumes e , como de praxe, solicitou que fosse ao laboratório para os exames de sangue, fezes e urina.
Mais uma contrariedade para ele, que achava uma bobagem todos aqueles exames. Mas fez todos os que foram solicitados.
Alguns dias depois, já com todos os exames feitos e com os resultados em mãos, foram levá-los para o Dr. Mauro. De posse dos resultados, o médico chamou o meu avô e disse:
- Tio Délio, os exames do senhor estão bons, mas eu preciso fazer algumas recomendações. O senhor precisa diminuir a quantidade de sal, de pimenta e, principalmente, gordura na sua comida. E tem outra coisa: aquela pinga que o senhor gosta de tomar, vamos ter de cortar também.
Meu avô escutou aquilo na certeza que era uma grande bobagem. Quando o médico terminou aquelas recomendações, ele perguntou:
- Ô Mauro! Se eu fizer tudim do jeito que ocê tá falando, quantos anos ocê acha que eu vou viver?!
- Difícil dizer, tio Délio, mas pode ser uns 8 ou 10 anos.
Meu avô matutou um pouco e disse:
-Ô Mauro, vamos fazer um negócio? Ocê fica com seus oito ou dez anos que eu vou viver minha vida do jeito que eu quero, viu?
Deixou o consultório do Dr. Mauro pela última vez e viveu mais doze anos, com muita pimenta e gordura na comida e, logicamente, sua inseparável pinga.
* Antônio Marcos Ferreira
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