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Meu avô e as pingas secretas

Meu avô e as pingas secretas

22/11/2022 Antônio Marcos Ferreira

Meu avô, conhecido como Seu Délio, foi uma figura que deixou muitas histórias interessantes.

Nascido em 1890, em Manga, viveu toda a sua vida naquela cidade, trabalhando na área rural, enfrentando as estradas de terra, as enchentes do rio São Francisco, a falta de comunicação e as dificuldades próprias dessas realidades.

Mas nunca teve com relação a isso um sentimento de revolta. Tudo fazia parte da sua história de maneira natural.

Viveu 97 anos e nos últimos anos de vida adotou um hábito que não fazia parte do seu cotidiano antes da velhice: o gosto por uma cachacinha.

Só que o novo hábito era disfarçado o quanto podia. Ele achava que as pessoas que viviam na casa não sabiam que ele gostava de uma pinga. Para disfarçar, apanhava uma garrafinha escondida no bolso para ir ao bar próximo da sua casa.

Como já não tinha muita noção de dinheiro, pedia ao dono do bar para encher a garrafa e pagava com algumas moedas que levava. O dono do bar fornecia a pinga e depois informava aos netos, que completavam o pagamento do preço real.

Mas os familiares que moravam com ele começaram a ficar preocupados com o fato de estar bebendo mais do que ele aguentava e que era natural para sua idade. 

Para disfarçar o cheiro de pinga e evitar que as pessoas percebessem que ele estava bebendo, a estratégia que ele usava era passar álcool canforado no corpo.

O álcool com cânfora dá um cheiro muito forte, o que suplantava o cheiro da cachaça. Só que, naquele tempo, ele tinha uma coceira no pé que o incomodava muito.

Como ele já não conseguia se abaixar para coçar os pés, a solução que ele adotava era torcer um guardanapo de papel, como se fosse um pavio.

Acendia então um fósforo, queimava aquele papel e o colocava no chão. Então se sentava e colocava o pé por cima do fogo para debelar a coceira.

O medo do pessoal agora era de que, com o corpo cheio de álcool canforado, ele colocasse fogo nele mesmo. Era preciso arranjar uma solução para evitar esse perigo.

Proibí-lo de beber sua pinga não faria mais sentido a esta altura vida, e então resolveram mudar de estratégia.

Ao invés de precisar ficar bebendo escondido e correr risco, resolveram oferecer diariamente uma dose pra ele, sempre próximo ao horário de almoço, que era quando ele gostava.

Todo dia então, próximo do horário do almoço um dos netos lhe oferecia uma dose. Naquela época Joaquim, um dos seus netos, trabalhava na loja da tia Dete, filha mais velha do Seu Délio, ao lado da casa. O outro neto, Helinho, estava sempre por lá também.

Certa vez, estavam na loja, e meu avô sentado próximo ao balcão. O Helinho estava sentado do lado de fora da loja.

Era próximo do horário de almoço, e conforme combinado, o Joaquim foi até ele e perguntou:

- E aí, Vô, já tomou sua cachacinha hoje?

E ele deu a sua resposta característica:

- Quá, tem é aaaanos que eu não tomo uma cachaça! 
- O Sr quer uma?
- Quero, uai. 

Joaquim então buscou uma dose e entregou a ele, que a bebeu.

Do lado de fora da loja, Helinho observava a cena e esperou um tempo. Depois de uns cinco minutos, foi lá dentro e perguntou:

- Ô Vô, já tomou uma cachacinha hoje?
- Tem é aaaanos que eu não tomo uma cachaça!
- Uai, Vô, então o que foi aquilo que o Joaquim deu pro senhor agora?

Ele parou, olhou pra Helinho e disse:

- Ô moço, se ocê quer dar, dá. Se não quer, não enche o saco!

Riram bastante e esperaram pela pela próxima dose que, segundo meu avô, viria anos depois.

* Antônio Marcos Ferreira

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