Quando o sentimento de superioridade transcende o próprio indivíduo
Quando o sentimento de superioridade transcende o próprio indivíduo
“Seu ego é frágil e precisa ser constantemente reforçado, porque, no fundo, ele sabe que não é nada do que diz ser”
Recentemente Mary Lea Trump, sobrinha do chefe do executivo dos EUA, anunciou que o lançamento de seu livro de memórias ‘Too much and never enough: How my family created the world's most dangerous man’ (Demais e nunca o suficiente: Como minha família criou o homem mais perigoso do mundo, em tradução livre) deverá ocorrer em 28 de julho, semanas antes da Convenção Nacional Republicana, que, provavelmente, indicará Donald Trump à reeleição.
No livro, Mary assegura que seu tio se transformou em uma “ameaça à saúde, à segurança econômica e ao tecido social do mundo”, além de ser um sujeito com baixa autoestima, que necessita humilhar terceiros.
“Seu ego é frágil e precisa ser constantemente reforçado, porque, no fundo, ele sabe que não é nada do que diz ser”, escreveu.
Um casal carioca, entretanto, mostrou que não é necessário ostentar bilhões de dólares na conta bancária ou mesmo ser o chefe político de uma grande nação para que o espírito de superioridade transcenda o próprio indivíduo. Basta ser “engenheiro civil. Formado, e muito melhor que você!”.
A fala supracitada faz parte de um vídeo exibido em reportagem do programa Fantástico, da TV Globo, no último dia 5, que chocou o país.
Na matéria, a equipe de jornalistas acompanhava uma ronda da Vigilância Sanitária no primeiro dia da reabertura dos bares e restaurantes no Rio de Janeiro quando flagrou aglomerações nos estabelecimentos.
O casal, contrariando às autoridades de saúde por não usar máscaras, valeu-se do argumento citado para desacatar o fiscal que havia notificado as irregularidades.
É provável que a postura agressiva do engenheiro civil formado e sua esposa tenha sido motivada pela falta de entendimento de que o fiscal atuava para o bem comum.
De acordo com o professor Mario Sergio Cortella, indivíduos arrogantes são aqueles que consideram que não têm mais nada a aprender, e avaliam que apenas os seus desejos são corretos.
Talvez isso explique, embora não justifique, o comportamento beligerante do casal, que, ao que tudo indica, considera o próprio anseio de diversão mais relevante que a saúde pública.
Diante da repercussão negativa, a autora das ofensas, Nívea del Maestro, foi rapidamente identificada e demitida do seu emprego com direito a nota pública da ex-empregadora afirmando que repudia o comportamento da ex-colaboradora.
Quanto ao outro autor das ofensas, o “engenheiro civil formado e muito melhor que você”, foi igualmente identificado como Leonardo Barros.
Assim como a esposa, ele afirma que perdeu o emprego em um projeto sigiloso de gerenciamento de risco e passou a ser profundamente questionado pela sociedade e atacado nas redes sociais, principalmente, depois da descoberta de sua inscrição no programa de auxílio emergencial.
Curiosamente, mesmo diante de todas as consequências negativas que o casal sofreu, ambos não demonstraram arrependimento.
Em entrevista posterior aos fatos, consideraram que não haviam feito nada de errado e ainda questionaram a capacidade dos telespectadores de interpretar o que foi claramente dito, subestimando o que o psicólogo americano Howard Gardner chama de inteligência linguística de inúmeros brasileiros.
Esse é exatamente o perfil de um sujeito com falta de humildade. Jamais assume os próprios erros e ainda desdenha dos demais.
Assim como afirmou Mary Lea Trump, “seu ego é frágil e precisa ser constantemente reforçado, porque, no fundo, ele sabe que não é nada do que diz ser”.
* Gabriel Viegas é advogado-membro da comissão de Direitos Humanos da OAB-MG e professor no curso de Direito da Faculdade Batista de Minas Gerais.
Fonte: Naves Coelho Comunicação