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Os Apressados do Pré-sal

Os Apressados do Pré-sal

09/09/2009 Fábio P. Doyle

Lula e seus companheiros comemoram uma conquista que somente será concretizada, se o for, daqui a 20 anos. E já se briga pela divisão dos lucros de uma empresa que só existe em projetos ainda não concluídos.

PRÉ-SAL é o tema. Os fofoqueiros sempre de plantão, os articulistas em busca de assunto, os parlamentares, os políticos deixaram Sarney em paz, esqueceram a CPI da Petrobrás, esqueceram a absolvição de Palocci pelo Supremo. Pre-sal é o assunto, é a manchete, é a preocupação eleitoral dos que são a favor e dos que são contra o bloco governista. Uma chatura, como se percebe.

AFINAL, o que é o pré-sal? É apenas um depósito de óleo negro, formado por milhões (ou seriam bilhões?) de anos, por detritos sedimentados lá nas profundezas dos oceanos, dos mares. Foram se acumulando e deteriorando abaixo da camada de sal, dita pré-sal, que fica abaixo da camada de areia, dita pós-sal, esta abaixo da água dos já mencionados oceanos e mares. A deterioração transformou os detritos em óleo, óleo que se batiza de petróleo, petróleo que refinado nos fornece combustíveis para nossos carros. Petróleo que engorda a conta bancária dos felizardos que o exploram, que o refinam, que o comercializam, os que o retiram dos buracos em que estão no subsolo da terra ou debaixo das águas salgadas ou doces de nossos mares e oceanos.

É NOVIDADE? Nenhuma. No mundo todo já se fala há muitas dezenas, ou mais, de anos, no petróleo que pode ser encontrado debaixo das águas oceânicas. Aqui no Brasil já se cogitava disso, desde o governo de Itamar Franco, talvez até antes dele. Mas todos sabiam que explorar o fundo dos mares, um fundo de 5 a 7 mil metros, instalar plataformas distantes 340 quilômetros da costa, abrir condutos nas águas, nas areias debaixo das águas, no sal debaixo do fundo de areia, até fazer subir para a superfície o líquido negro que movimenta o mundo, importaria em custos extremamente elevados, em trabalho que duraria anos, dezenas de anos. E com o risco de, ao fim e ao cabo, não encontrar nada, ou muito pouco do petróleo sonhado.

É LÓGICO, só um debilóide defenderia tese oposta: se temos certeza de que nosso litoral guarda, lá embaixo, o lençol petrolífero que poderá mudar nossa economia, nosso destino, nossa civilização, o que nos cabe fazer, o nós aqui refere-se evidentemente ao governo, é começar a estudar a questão, iniciar as pesquisas, e em seguida, se tudo der certo, retirar o petróleo, transformando-o em reais, em dólares, em euros.

ACONTECE que nossos governantes, liderados pelo presidente mais ufanista e otimista que o Brasil já teve desde que Pedro Álvares Cabral nos descobriu perdidos entre as palmeiras de nossas praias e os índios de nossas matas, nossos governantes, repito, estão transformando hipóteses remotas em delirantes realidades. Tudo, é óbvio, com finalidades eleitorais. Tanto que a candidata de Lula, a sra. Dilma Rousseff, que era mãe do PAC, agora ganhou mais um filho, pois será a mãe do pré-sal. Que prole…

A EXPLORAÇÃO das profundezas de nossa costa atlântica para de lá retirar o chamado ouro negro (por que não ouro preto, prefeito Ângelo Osvaldo?) vai exigir um dinheiro que não tem tamanho - a estimativa total chega a 1 trilhão de dólares. Quem tem tanto dinheiro, companheiro Lula? E vai demorar, segundo os cálculos otimistas, mais de doze anos para apresentar os primeiros resultados. E além dos doze anos, mais oito, segundo os mesmos otimistas, para entrar firme e forte no mercado mundial. É dinheiro e tempo de preocupar os que analisam o problema sem a euforia eleitoral de Lula e de seus companheiros.

HÁ outra pedra no meio do caminho, diria o eterno Drummond de Andrade. E se antes de findo o tal prazo, o dos doze mais oito anos, um cientista, um gênio certamente meio maluco, e os há tantos pelo mundo afora, conseguir descobrir um substituto do petróleo como combustível? E se derem certo os testes que os mesmos cientistas estão fazendo para o uso da energia elétrica, e outras mais, nos veículos? E se as pesquisas do mesmo pré-sal se adiantarem nos países que já as realizam, produzindo petróleo mais barato do que o nosso? E se o barril de petróleo, que caiu de 150 para 50 dólares, cair mais ainda, tornando a onerosa exploração do pré-sal anti-econômica?

EM 20 anos, tudo pode acontecer. Ou nada, também. Os que hoje levantam bandeiras e entoam loas para o pré-sal brasileiro, dentro de 20 anos o que terão a comemorar, se ainda por aqui estiverem, se um dos "ses" mencionados aí em cima , acontecer mesmo?

LULA, como sempre, se precipita. Foi assim com o bio-combustível, quem se lembra do etanol que ele queria vender para Bush e o resto do mundo? Foi assim com "fome-zero". Alguém ainda se recorda de suas promessas de campanha e do que anunciou quando assumiu o poder, há oito anos? Ninguém, insisto e repito, pode ser contra a realização de pesquisas, de estudos, destinados a retirar do fundo dos mares de nossa costa o petróleo que lá dorme há mais de 10 bilhões de anos. Mas comemorar agora a "descoberta", em comícios evidentemente eleitoreiros, como se já tivéssemos perfurado todas as tais camadas que nos separam do óleo combustível, e, ainda, brigar pela distribuição dos lucros, dos royaties, de um empreendimento que nem começou, é fazer pouco de nossa inteligência e de nossa paciência.

MAS não é isso apenas. Já se anunciou a criação de mais uma mega empresa, a Petro-Sal, que vai disputar com a Petrobrás as glórias lulistas de "a maior do mundo", abrindo emprego para os milhares de companheiros do presidente e do partido do presidente. Mega empresa, com megas orçamentos públicos, que já vai começar a funcionar 20 anos antes da primeira "corrida", digamos assim, do petróleo marítimo.

VAMOS torcer para que tudo dê certo. Para que a Petro-Sal descubra, retire e venda o combustível líquido que o fundo do mar de nossas costas guardaram por tantos milhões ou bilhões de anos. Evidentemente, daí o risco da operação, não podemos torcer para que, dentro de 10 ou 20 anos, novas fontes de energia não sejam, descobertas, transformando o petróleo em riqueza do passado, abandonada dentro dos buracos do solo e dos buracos do sal e da areia dos oceanos. Seria justo, seria razoável, seria patriótico torcer contra o progresso, contra os avanços da ciência, contra as novas formas mais limpas, menos poluidoras, de combustível?

ENFIM, de uma coisa estou, infelizmente, certo e convicto: dentro de 20 anos, a não ser que a imortalidade acadêmica, que já conquistei, se transforme em imortalidade real, eu não estarei aqui para aplaudir o sucesso ou lamentar o insucesso das promessas mirabolantes do nosso simpático, delirante e algo irresponsável presidente. O que não me impede de desejar a ele, e a todos os que acreditam no pré-sal e na Petro-Sal, todo o sucesso possível, ainda que tardio. Afinal, nós, brasileiros, merecemos.

Fábio P. Doyle é Jornalista e Membro da Academia Mineira de Letras. Visite o Blog



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