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Uma banda afina muitos tons na nossa infância

Uma banda afina muitos tons na nossa infância

30/08/2022 Antônio Marcos Ferreira

Para quem, na infância, teve oportunidade de ver, acompanhar e caminhar junto com uma banda marcial, sabe o fascínio causado por aquele bando de instrumentos diferentes, tocando coisas diferentes, por pessoas diferentes e dando um resultado tão bonito.

Desde muito criança gostava de ouvir a Banda Santa Cecília, em Manga, dirigida por seu criador e maestro, João Moreira, que também tocava saxofone muito bem.

Em ocasiões festivas, era comum a banda percorrer a pé várias ruas da cidade, ainda sem calçamento, tocando dobrados, marchas, e outras canções e acompanhada de muitas pessoas, entre elas várias crianças.

E muitas vezes fui uma delas. Sonhava em ser um dos músicos da banda, mas a idade mínima para começar a estudar música na banda era dez anos.

Eu a acompanhava, andando ao lado dos músicos e os diferentes instrumentos me chamavam a atenção. Passava perto da Tuba, com aquela boca enorme e que fazia um som muito grave: pum, pum, pumpumpum.

Sozinha não se destacava muito e parecia não ter muita graça ouvi-la. Mas como era importante para o conjunto! Via os trombones e seus contrapontos, parará pá, parará pá, entrecortando e enfeitando a melodia.

Na parte de trás via o Zé Xeba com os pratos, com as batidinhas fracas, tcha, tcha, tcha e de repente uma forte tchaaaaa, intercalando conforme o clima da música.

Ao lado dos pratos estavam o tarol e o surdo igualando as diferenças do tum, tumtum, tum, tumtum do surdo, com os tarará tá, tarará tá do tarol. Conversavam com vozes bem diferentes, mas se entendendo muito bem.

As clarinetas e saxofones iam levando as melodias, mas nunca desprezando as acompanhantes, nem se achando melhores que ninguém.

A banda tocava e o menino andava. E sonhava! Olhava para os músicos, tão diferentes e unidos como mágica! Pedreiros, carpinteiros, estudantes e alfaiates e irmanados num mesmo sublime ofício.

Muitos mal sabiam ler e escrever, mas se igualavam naquela arte. Aquilo era um resumo da vida e só fui perceber muito tempo depois.

Ali o menino só queria ouvir, caminhar e sonhar. Enfim completei os esperados dez anos, quando poderia estudar música e entrar para a banda. Mas o destino me reservava outras experiências.

Fui, juntamente com meus irmãos, estudar num colégio interno em Januária. A banda ficou no sonho, que se renovava nos períodos de férias. Logo a seguir novo adiamento em função da mudança da família para a capital.

Dez anos depois, ja morando em Belo Horizonte, aprendera a tocar violão, mas sem ter frequentado escola de música.

Coordenamos, juntamente com outros amigos que estudavam na capital, um grande evento na cidade, a que denominamos de Encontrão, com uma semana de atividades esportivas, culturais, artísticas e beneficentes.

Compus uma música para servir de hino para o Encontrão. Dizia assim:

"Quero te provocar, te provocar, te provocar sorrisos;
Quero ver o teu fracasso, teu fracasso
Cair no laço do nosso amor;
Quero te prender, te prender, te prender no peito;
Quero nunca mais te ver, nunca mais te ver, nunca mais te ver chorar.
O Encontrão é uma explosão de amor, você vai ver
Que pra você o importante sou eu,
Mas pra mim o importante é você;
Que pra você o importante sou eu,
Mas pra mim o importante é você! "

No primeiro ano, ensinamos a música para os participantes e ela tornou-se sempre presente em todos os eventos futuros na cidade. Repetimos o evento no ano seguinte, que me reservou mais uma grande emoção.

No dia do início do evento, estava dormindo quando fui acordado por uma melodia conhecida, atual, mas tocada nos instrumentos que embalaram meus sonhos de menino.

A banda Santa Cecília fazia uma alvorada pelas ruas da cidade, agora tocando a minha música, composta para aquele evento.

Ali deitado, fechei os olhos e voltei muitos anos no tempo, caminhei novamente com a banda naquelas ruas descalças.

Hoje, quase cinquenta anos depois, me sinto percorrendo as esquinas do tempo, sempre agradecendo ao grande Maestro e tentando ser um bom instrumento a ser tocado pela banda na grande melodia da Vida.

* Antônio Marcos Ferreira

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