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Eduardo Campos e o amor à humanidade

Eduardo Campos e o amor à humanidade

04/10/2014 Lucas Berlanza Corrêa

Como a essa altura todos já sabem, o Brasil assistiu a uma tragédia severa, que chocou a todos e ceifou vidas ainda bastante jovens.

Entre elas, a do presidenciável pelo PSB, Eduardo Campos. Suas visões políticas à esquerda e, portanto, contrárias às nossas convicções, são bem conhecidas; sua condição de ser humano, pai de família, e também o fato de que não agiu jamais como um tirano assassino como os muitos que o socialismo foi capaz de produzir, o são igualmente. Espera-se de qualquer um que preze os valores mais basilares que entenda a naturalidade da comoção e que respeite a dignidade de uma vida humana.

Mentes sensatas se manifestaram nesse sentido, de todos os lados do espectro político – principalmente entre liberais e conservadores, que compreendem, como bem pontuou o jornalista Paulo Eduardo Martins em seu perfil nas redes sociais, que a política é um detalhe na vida. Muito importante, mas não o único, nem o mais. Diante de reações abjetas e desumanas – também, diga-se de passagem, e lamentavelmente, de todos os lados do espectro -, de celebrações pela morte de Campos ou, até mesmo, a expressão de anseios que fosse qualquer outro candidato, felizmente, a dignidade das vozes sensatas não se manteve em silêncio.

Um episódio, porém, foi referenciado pelo articulista Jefferson Ulisses, na página de sua criação “Mídia Latina”, e merece ser divulgado. Merece, sobretudo porque escancara a sordidez dos representantes de certas correntes políticas que atentam contra os mínimos valores da liberdade e do indivíduo, mas conseguem posar imaculadas, intocáveis pelas críticas, de monopolistas da ética e da virtude. Atribuem a si mesmos um bom-mocismo que passa bem longe de tudo que dizem e fazem – estariam mais próximos, a bem da verdade, de um quadro assustadoramente nítido de psicopatologia.

O blog do grupo “Das Lutas”, que já havia gerado controvérsia quando da morte do cinegrafista Santiago Andrade, desta vez cedeu seu espaço para celebrar o desaparecimento de Eduardo Campos, a quem o coletivo reputava como inimigo de suas bandeiras principais – a despeito de seu socialismo, ao que se vê, bem mais moderado que o deles. O artigo, assinado por Ana Paula Martins, começa com título muito gentil: “JÁ VAI TARDE”. Sim, é com esse tipo de discurso que essas pessoas pretendem promover a integração social do povo brasileiro, liquidar as dissensões, apaziguar todos os conflitos: desejando ver mortos todos aqueles que discordam e querem fazer valer sua individualidade.

É literalmente isso, e eles não se envergonham de proclamar. O coletivo emitiu uma nota, que mostra que não é brincadeira. Logo no início, alegam que repudiam “principio logicamente a pena de morte ou qualquer atentado à dignidade da pessoa humana”. Entretanto, seria justamente por isso que lhes felicitaria a morte do “inimigo Eduardo Campos” (!). Segundo Ana Paula, o político “roubou milhões dos cofres públicos, defendeu estupradores publicamente e defendeu a PM que extermina pobre e negro todos os dias nas favelas e periferias”.

Não faremos comentários sobre as primeiras acusações, que sequer temos procuração para defender a vida pública do falecido, tampouco razões políticas para tal. Quanto à questão da polícia, não se poderia esperar outra posição; estamos diante de um daqueles grupos que apreciam a estratégia dos black blocks, atacando apenas a ação policial. Mais que isso, continuam a pretender o combate à segregação enxergando indivíduos apenas “em bloco”, especialmente pelo critério da cor da pele. O enfrentamento do racismo por meios racistas.

O ponto mais importante do texto, sem menosprezar o potencial que cada linha tem de nos deixar enojados, é aquele em que o Das Lutas apresenta todo o seu desprezo pelo valor da vida. Dizem nossos heróis revolucionários que a morte “deve ser politizada. E se a morte dos negros e das negras é uma constante afirmação da falência de nossa sociedade brasileira como narrativa democrática de nação, também essa morte é a afirmação de um projeto de Justiça Social que ainda quer o seu lugar, que exige a nossa atenção e a nossa luta pela sua existência, até então não realizada.

A morte de inimigos também deve ser politizada. E com certeza esse é o local de onde fala o falecido Eduardo Campos: lugar de INIMIGO, vivo ou morto.” Liberais e conservadores, da direita “assassina, capitalista, autoritária, fascista, antifeminista”, em suma, os INIMIGOS, não são, ou não devem ser, avessos ao caráter inegociável da vida. Soberana e inquestionável, desde uma vasta linhagem das tradições liberal clássica e conservadora, ela não está subordinada a processos mesquinhos de politização, que passam por cima de toda a ética e todo o senso de humanidade.

Esses grupos, que se pretendem a resposta pronta aos anseios do povo, no entanto, não parecem conceder a isso a mesma sacralidade. Veriam os membros do Das Lutas, por exemplo, a esposa e os cinco filhos de Eduardo Campos como “inimigos”? Imaginam os familiares e parentes desse pai de família de 49 anos lendo um texto como esse, agredindo sem piedade a memória e condição humana de alguém de ideias de que também discordamos – por motivos bem diferentes -, mas que não viveu como um celerado homicida ou boicotou o processo democrático?

Concebem o tamanho da ferocidade e da ofensa que manifestam? É provável que sim. Mas, diante da “grande causa”, não importa – como os milhões de mortes do regime soviético não incomodariam ao historiador Eric Hobsbawn, se o marxismo pleno se tivesse estabelecido. Os inimigos da democracia, isto sim, são aqueles que negam o direito do outro de existir. Em prol de suas teorias e abstrações do coletivo, eles não se incomodam em pisotear o sentimento alheio, em desprezar a dor alheia. Escarnecem e celebram, sem reservas.

É nosso dever, numa hora extrema em que a nação vive curva vital em sua trajetória histórica e começa a definir seu destino a médio e longo prazo, denunciar até mais não poder, não só atitudes hediondas como a desse infame grupo, dignas do mais veemente repúdio, como as matrizes ideológicas de seu modelo de pensamento. Precisamos mostrar que são eles, e não nós - não as pessoas decentes, não aqueles que respeitam o ritual democrático -, a doença que corrói as potencialidades de nossa pátria.

Precisamos mostrar que somos diferentes, e que somos melhores. Essas pessoas que se desumanizam e dissolvem no mar profundo da ideologia já tiveram seu problema perfeitamente diagnosticado pelo parlamentar irlandês Edmund Burke no século XVIII. No dizer dele, amam a humanidade, mas detestam seu semelhante. Eduardo Campos era um adversário. O coletivo Das Lutas é, sim, como eles mesmos diriam, um inimigo. Inimigo, porque o que defende é de uma monstruosidade explícita.

Desejaríamos ver suas bandeiras reconhecidas pelo quanto são lamentáveis, e consequentemente marginalizadas e ridicularizadas. Para tanto, porém, não desceremos ao nível deles, “politizando” suas vidas ou suas mortes. Nosso combate é pelas ideias. Que aproveitemos o exemplo de mediocridade moral para nós mesmos, a fim de não permitirmos que tais absurdos criem fôlego entre os verdadeiros defensores da ética e da liberdade.

* Lucas Berlanza Corrêa é Acadêmico de Comunicação Social e Colunista do Instituto Liberal.



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